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Costume, acordar de manhã, sentar-se na cama com os dois pés bem plantados no chão, segurar com as mãos cada lado da barriga, pegando por baixo como se a levantasse.
Na frente do espelho ficava olhando, perdida na estética do pensamento. Sonhava mudar, dar um jeito nas rugas, puxar o rosto, fazer aquele tratamento moderno para a lanugem e, principalmente, tirar um pouco da gordura localizada. Falava com o espelho, receitando; ouvia da imagem possibilidades, certezas e simulações.
O local tinha sido escolhido de tal forma que, formando o ângulo com o chão, o espelho pudesse refletir fielmente o que incidia, inclusive os pensamentos, numa leitura de dimensões e percepções muito precisa.
Quando quebrou, os muitos pequenos pedaços se espalharam no chão. Os cacos acinzentados perderam a propriedade refletora e deixaram escorrer de dentro, como se sangrasse, os fragmentos de todas as imagens que já lera.
O espelho novo foi colocado no mesmo quadro de madeira, na mesma distância da parede e no mesmo ângulo do chão.
Instalado, manteve as digitais do operário, apenas por instantes; sua superfície lisa e brilhante logo se autolimpou. As propriedades de reconhecer e refletir as imagens demoram aquela tarde inteira e uma noite para serem processadas e permitir ler o ambiente, quase imutável, que faria variar em cada posição de olhar.
A alma acordou lânguida; sentou-se na cama, segurou com as mãos cada lado da barriga, suspirou e foi para a frente do espelho novo.
Suspirou novamente e aí ouviu a infâmia:
- Gorda.
MQ
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segunda-feira, 13 de abril de 2009
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