sábado, 19 de outubro de 2024

Teatro... Quando tento descobrir quando começou minha ligação profunda com a brasilidade o que vem de imediato na memória é o velho rádio. Enorme, com aquele círculo parecendo um olho que, quando ligado, se iluminava em verde com um ponto preto no centro. Sim, foi pela música os primeiros solavancos de encantamento. Efetivamente não foi pelas preferências dos meus familiares ou pelos meus amigos contemporâneos. Embora eles tenham tido grande importância em outros aspectos da minha vida. Morando em Goiânia, bancário com um salário razoável, sem muito o que fazer fora do trabalho a não ser ler muito e estar cada vez mais bem-informado sobre a nossa cultura de um modo geral e, vez ou outra uma esticada pela boemia. Um dia encontrei o Getúlio, meu amigo de infância que me convidou para entrar num grupo de teatro que estava montando uma peça brasileira da qual eu conhecia o texto e sua repercussão. Meio acanhado, cheguei na casa do diretor, Otávio Zaldivar Arantes o grande idealista cuja vida foi dedicada ao teatro, sua determinação nos legou o Teatro Inacabado, naquele tempo, único no País de um grupo amador. Meio desconfortável li a fala de um personagem, depois a de outro e assim fui aceito e depois de testado em muitos papéis. A presença do irmão mais velho do Getúlio, Alisio Alkmim, ator e iluminador contracenando no meu teste foi espetacular. A partir de então, quase que por necessidade, passei a estar naquele ambiente absorvendo tudo que podia. A peça “O Auto da Compadecida”, montada pela segunda vez, foi um dos grandes sucessos da AGT. O cenário idealizado como um circo. O elenco reunido foi espetacular; Valéria Zanini, Luiza Maura, Lucia Vasconcelos, Alísio Alkmim, Dalmo Teixeira, Rubens Chaer. Getúlio Alkmim, Rogério Silva, Castilho e Paulo Roberto Vasconcelos... Nela representei o Coronel Antônio Noronha de Brito Moraes e um dos diabos na cena final do julgamento. Meu envolvimento foi se tornando maior, não só com o ato de representar, mas também com o fascínio que era tudo aquilo, o Alísio me ensinando tudo que sabia sobre iluminação e todas as nuances do ofício. Quando se afastou, anos depois, assumi seu lugar. Otavinho percebendo meu interesse não só em representar, mas completamente integrado as tarefas do cotidiano, sempre disponível, me fez seu braço direito. Muitas vezes saia do banco em que trabalhava direto para o teatro, principalmente quando havia apresentações. Naquela época talvez fosse o único teatro da cidade com todos os rudimentos técnicos, exceto o ar-condicionado que, na época nem era tão reclamado. O nome Inacabado remetia ao fato de que, antes da inauguração, na soldagem da estrutura do teto, uma fagulha havia provocado um incêndio. Mas lá estavam os companheiros Walter Guerra, Rosary Esteves e Rui Esteves entre outros que se somavam ao sonho. Também meu a partir de quando conheci toda a história. Sempre junto e quando recebíamos espetáculos não saia de perto do Alísio aprendendo o que podia sobre iluminação e um faz tudo atendendo as demandas das companhias que vinham se apresentar. A segunda peça que participei, encenamos “Condenado ao Inferno” de René de Obaldia – Otavinho entusiasmado pelo teatro do absurdo queria levar ao palco o que havia visto numa de suas viagens. Fui escalado para fazer um dos condenados. Fizemos rápida temporada no Inacabado antes de seguir para o Festival de Arcozelo idealizado por Pascoal Carlos Magno. Na última hora, véspera do embarque o Dalmo, que fazia um dos papeis principais, não pode ir. Fui escalado para substitui-lo, mais por conhecer todos os detalhes da montagem e por isso, todas as falas. Dois dias de ensaio e em toda a viagem até o Rio de Janeiro ensaiando também na rodoviária esperando a condução que nos levaria até Arcozelo. Lá chegando, com muitos dos participantes, principalmente do Pará, nos recebendo com uma cantoria que varou a madrugada. Pascoal Carlos Magno daquela maneira muito carinhosa alardeando que éramos o único grupo de teatro de estudantes, ele não gostava de falar amador, que tinham teatro próprio. No dia da nossa apresentação um acidente. Nosso cenário, todo em preto camuflava as cordas do balanço da personagem feminina, os pés do elevado do anjo e as cordas sustentando o balanço do condenado. Em volta, no nível do palco, outros seis também condenados perambulavam pelo palco como se purgassem seus pecados. Antes de abrir as cortinas, de cada lado saia um encapuçado vestido todo de preto com um turíbulo movimentado em direção da plateia. O da direita com um passo em falso caiu do palco, o turíbulo ao bater no chão esparramou as brasas que não eram cenográficas, no público. Constatado que ninguém havia se queimado e, depois de uma breve pausa, começamos nossa apresentação. A mulher-personagem contracenava com movimentos no balanço, o anjo da mesma forma se movimentava no pedestal, mas o condenado, meu personagem, ficava ajoelhado, sentado sobre as pernas, com as duas mãos na superfície duma prancha sustentada por cordas e só fazia movimentos faciais quando falava, mantendo sempre o rosto na mesma posição. Exceto pelas roupas, o cenário todo em preto delineava o surrealismo. Apesar do incidente no início, fomos muito aplaudidos. Quando me baixaram da prancha não dei conta de me levantar, nem de fazer nenhum movimento. Um professor cujo nome nunca soube, especialista em expressão corporal, que ali faria uma oficina sobre o assunto, subiu no palco e me socorreu destravando meu corpo e dando uma bronca em todos, depois de saber que eu não tinha nenhum preparo para permanecer naquela posição por tanto tempo. No dizer dele, subira no palco para me cumprimentar pela performance. O Festival de Arcozelo foi um sucesso, muitas páginas na revista O Cruzeiro. Vereda da Salvação de Jorge Andrade encenada pelos paraenses levou todos os prêmios foi lá que conheci Claudio Barradas e a relevância do teatro paraense. Arcozelo na verdade uma antiga fazenda, acomodava os grupos de todo o Brasil participantes do maior festival de teatro promovido por Pascoal Carlos Magno. Ficamos no antigo estábulo; nas baias, dormíamos de dois em dois. Numa filmagem sobre o local fui escalado para figurar num documentário que o Ministério da Educação e Cultura estava fazendo na cobertura do Festival, indicação feita por Pascoal que já falava da encenação de Romeu e Julieta nos jardins de sua casa no Rio com atores amadores, para minha surpresa, me incluindo entre eles. O que acabou nunca acontecendo. A convivência com grupos de todo o Brasil e principalmente ao assistir Vereda da Salvação e outras peças de autores brasileiros, as aulas e palestras confirmavam a pouca identificação que tinha sobre o que estava na mira do nosso mentor para o grupo. Em nossa volta já se falava em encenar “Uivo”, um poema de Allan Ginsberg, mas o que fizemos, visando o festival de São José do Rio Preto, foi “Salomé” de Oscar Wilde, mesmo sem aparentar a magreza obvia do personagem, o Profeta Iokanaan (João Batista) foi meu papel. Três lances de cenário, minha cabeça moldada em geso por um protético, assim estreamos sem grandes percalços. A crítica não foi boa. No festival foi um fiasco, nada deu certo. Tivemos problemas com a montagem do cenário que levamos e com muitos adereços; barbas descolando dos rostos, o tombo de um dos atores, a música para a dança de Salomé falhando na rotação do gravador de rolo deixando a atriz numa situação cômica inusitada. Quando Alisio se afastou da AGT afiançando que eu daria conta de assumir seu lugar; surpreso e um pouco inseguro com a programação intensa daquele ano, mesmo assim, a cada dia a confiança ia aumentando. Minha primeira atuação sozinho foi num monologo de Garcia Lorca apresentado por uma atriz goiana, o Alisio já havia deixado o esquema da luz pronto. Numa das cenas ensaiadas, ele descia da cabine e na sombra, pela plateia, sorrateiramente subia os degraus do cenário e debaixo da cruz enlaçava a atriz e a beijava; tarefa deixada para que eu fizesse. E assim fiz. Só que sem saber como dar um beijo cenográfico, a beijei de fato. No outro dia ela trouxe um contratado para fazer a cena. Só aí entendi que havia dado uma tremenda bandeira. Naquele tempo iluminei “Gente de Gleba” de Hugo de Carvalho Ramos numa adaptação da folclorista Regina Lacerda, O Uivo encenada pela AGT, sem que participasse de nenhum dos elencos. Alguns espetáculos já traziam o desenho de luz marcado nos textos, outros deixavam por nossa conta, só assinalando algumas passagens. Assim trabalhei com Ari Toledo em três temporadas, Gal Costa e o Som Imaginário, Elza Gomes e Zacarias antes de “Os Trapalhões”, Pequenos Burgueses de Gorki com o Teatro Oficina de José Celso Martines, Vivendo em cima duma árvore e Dom Casmurro com a Companhia do Ziembinski. Convidado por ele fui fazer a temporada também no Teatro Nacional de Brasília. Meu último trabalho no Teatro Inacabado antes de deixar a AGT foi em O Assalto de José Vicente. Por razões que não fiquei sabendo, um dos atores, no mesmo dia que chegaram precisou voltar. A temporada foi adiada por uma semana. Seu substituto, Reinaldo Gonzaga veio no outro dia para substitui-lo. Uma semana de ensaios intensivos que começavam na manhã e se estendiam até a noite; eu estava de férias no banco e acompanhava, ajudando no que podia. A estreia e a temporada foram impecáveis e carregadas de emoção. Um dia antes, todos já haviam saído para o hotel, quando apareceu uma pessoa procurando pelo Reinaldo, era primo do ator e não se viam fazia anos. Estava saindo do trabalho numa construção ali perto. Sugeri que ele viesse ver a peça como nosso convidado e depois se encontrassem fazendo uma surpresa. Assim o reencontro deles se misturou com a alegria de todos comemorando a sucesso da estreia. Durante o acompanhamento dos ensaios acabou que praticamente decorei o texto, as marcações e imaginei coisas diferentes para algumas cenas, além de vislumbrar a possibilidade de fazer com o Paulo Roberto Vasconcelos com quem já estava conversando para deixarmos a AGT e procurar caminhos compatíveis com o que acreditávamos - fazer teatro brasileiro. Textos como os de Plínio Marcos e Sérgio Jockyman autor gaúcho que havia conhecido quando lá morei e muitos outros. Assim obtive informalmente a anuência do autor José Vicente para encenar sua peça e junto com o Paulo fundamos a Cia do Teatro do Autor Brasileiro e começamos a ensaiar num banco de jardim na Praça Cívica, tal qual o Otavinho fazia antes da construção do Inacabado, até que um dia a diretora de um órgão do Estado se aproximou e perguntou o que fazíamos ali. Explicamos que não tínhamos onde ensaiar; ela prontamente nos ofereceu o saguão de sua secretaria no rígido horário das seis às oito da noite. Meu entendimento com o Paulo era muito grande, não só na atuação como na criação de cada detalhe numa montagem diferente da que havia trabalhado, com cenas reestruturadas e a música ressignificando os momentos. Uma ousadia; Paulo era mais alto, fazia o empregado que limpava o banco; eu o bancário retardatário e revoltado. Numa das cenas, no compasso da música de Villa Lobos o bancário se crucificava nos braços abertos do serviçal numa simulação de homossexualismo mais marcada. No final, quando o bancário começa a quebrar toda a agência com a iluminação piscando as luzes como aquelas das boates e a polícia, representada apenas pelos sons de sirene e tiros, o personagem é atingido, começava as músicas de Chico Buarque: Construção e Deus lhe Pague como ele gravou no disco Construção. Nossa estreia foi no Teatro Inacabado, sem que pedíssemos ou nos fosse oferecido qualquer concessão especial, fizemos apenas uma apresentação para um público razoável, mas vibrante. A segunda no Teatro de Arena da Universidade Católica de Goiás totalmente lotado. Na cena final o inesperado; uma garrafa se espatifou no chão e sem que desse conta, me cortei e começou a sair sangue do corte. Com o efeito da luz estroboscópica e o bancário quebrando todo o mobiliário da agência, o som de sirene da polícia chegando, somado a música da cena; foi como se o sangue brilhando com o piscar da iluminação fosse parte da encenação. O público de pé nos aplaudindo calorosamente foi a confirmação de que estávamos no caminho certo. Quando demos as mãos para agradecer ao público; Paulo me disse baixinho, rindo – “Filho da Mãe”. Minha irmã que estava na plateia preocupada com o acidente que ela sabia não fazer parte da cena, já estava na coxia. Com o Paulo, desde a AGT, havíamos feito três peças juntos, mas nunca contracenando, ali naquela segunda apresentação confirmamos a sinergia natural nos muitos cacos respondidos a altura que acrescentávamos na representação. Nem chegamos a pensar em voltar a fazer no Inacabado, nossa experiência em estrear lá não foi boa, Otavinho ficara ressentido com nossa saída do grupo, mais ainda, depois de nossa estreia. Nos dois outros teatros com menos recursos e no DCE, havia a rivalidade disfarçada do ambiente teatral da época. O Cine Teatro Goiânia barreiras intransponíveis. Pensávamos ser no interior, onde poderíamos melhor significar nossos sonhos. O cenário era simples de conseguir aonde fôssemos, um gravador e a luz estroboscópica já havíamos alugado para nossas primeiras apresentações. O único problema era nossa locomoção que nem seria tão complicada, compramos de segunda mão, um baú que cabia toda nossa tralha e poderíamos levar no porta-malas de um ônibus e colocamos na mira adquirir o que estávamos alugando. Logo conseguimos vender um espetáculo em Pires do Rio e seguiríamos até Ipameri, onde amigos promoveriam, por bilheteria, nossa apresentação. Meus cunhados quando souberam se prontificaram a nos levar naquele fim de semana prolongado por um feriado. A apresentação no teatro dos padres foi um sucesso de público mesmo com a quase interferência do cônego por cauda de uma das cenas. Mas, quando levando nosso equipamento para o carro, um dos rapazes que nos ajudavam tropeçou nos primeiros degraus da escada, deixando rolar o baú. O estrago foi grande e, além de inviabilizar nossa próxima apresentação, nos deu um prejuízo maior do que o valor da venda do espetáculo. Cancelamos Ipameri; dali, de volta para Goiânia, o carro do meu cunhado começou a dar problemas acabando por fundir o motor. Conseguíamos acontecer no palco, mas pra chegar nele só dificuldades. A venda de uma apresentação pra uma entidade religiosa foi um alento, voltamos ao Inacabado. Tudo pronto, na véspera cancelaram. Nosso prejuízo não foi maior graças a inesperada compreensão do Otavinho. As conversas que tivemos naqueles dias, eu e o Paulo foram de desalento. Ele tinha um convite para se mudar para Brasília e aceitou. A Cia Teatro do Autor Brasileiro e o Assalto ficou na nossa lembrança. Cinquenta anos depois em Belém, sem nunca mais ter tido qualquer desejo de voltar aquele ambiente, recebi o convite do amigo Edyr Augusto Proença para criar e fazer a iluminação de sua nova peça “Joana” com a atriz e, também minha amiga, Zê Charone, fundadores do importante Grupo Cuíra. Naquela noite o sono não veio, foi noite de gratidão ao amigo Edyr, generoso cumplice de tantas coisas importantes que ajuda a semear, além de nos legar sua diversa obra já conhecida mundo afora. ///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Otávio Zaldivar Arantes... A alma era ele... Sua importância é indiscutível, se doou totalmente ao teatro, uma abnegação começada na juventude e foi intensificada no passar dos anos. A Agremiação Goiana de Teatro foi fundada por ele no interior. O Teatro Inacabado nasceu do ideal de construir em Goiânia um local para sediar a AGT e apresentar as peças encenadas por ela. No terreno havia uma invasão; em troca da desocupação foi, ao invasor, oferecido dois lotes doados pelo Departamento de Terras do Estado. A ajuda do governo e principalmente de professores da UFG, seus alunos e poucos empresários foi importantíssima. O teatro foi totalmente reconstruído e, ainda sem as poltronas inaugurado. Na primeira peça encenada os espectadores se sentavam em cadeiras distribuídas na entrada ou em bancos improvisados com tábuas e tijolos. Numa mudança em seu telhado de alumínio um operário, descuidando-se, deixou espalhar fagulhas de solda elétrica ocasionando um incêndio apavorante. Mas nada demovia o sonhador. Reconstruído, foi durante muitos anos o único teatro de Goiânia com todos os recursos cénicos e técnicos modernos, mas ainda sem o ar-condicionado. Sua vida foi o teatro. Os anos que com ele trabalhei aprendi muito, principalmente sobre sonhos. Muitos anos depois de nos afastarmos, já morando em Belém e trabalhando na Amazônia, nos falamos por telefone. Era sobre a assinatura de um documento num dos órgãos públicos de incentivo ao teatro onde a AGT era cadastrada e meu nome ainda constava como tesoureiro. Prontamente enviei o documento que era preciso; pouco tempo se passou quando recebi a notícia de sua morte. Foi atropelado em Brasília quando se dirigia ao Ministério da Cultura em busca de apoio para a modernização do Teatro Inacabado. Sem nenhum documento, só foi identificado porque levava com ele os papeis que estava indo entregar no Ministério. //////// Zaldivar... / na solidão o sonho / o tijolo, a cena / implodiu na rua / / monólogo perdido / na solidão / diálogo esquecido / nos sonhos / / tijolos inacabados / cena apagada / do espetáculo / de sonhar / / MQ

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Spinoza: Deus teria dito: “Pare de ficar rezando e batendo no peito! O que quero que faça é que saia pelo mundo e desfrute a vida. Quero que goze, cante, divirta-se e aproveite tudo o que fiz pra você. Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que você mesmo construiu e acredita ser a minha casa! Minha casa são as montanhas, os bosques, os rios, os lagos, as praias, onde vivo e expresso Amor por você. Pare de me culpar pela sua vida miserável! Eu nunca disse que há algo mau em você, que é um pecador ou que sua sexualidade seja algo ruim. O sexo é um presente que lhe dei e com o qual você pode expressar amor, êxtase, alegria. Assim, não me culpe por tudo o que o fizeram crer. Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo! Se não pode me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de seus amigos, nos olhos de seu filhinho, não me encontrará em nenhum livro. Confie em mim e deixe de me dirigir pedidos! Você vai me dizer como fazer meu trabalho? Pare de ter medo de mim! Eu não o julgo, nem o critico, nem me irrito, nem o incomodo, nem o castigo. Eu sou puro Amor. Pare de me pedir perdão! Não há nada a perdoar. Se eu o fiz, eu é que o enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpá-lo se responde a algo que eu pus em você? Como posso castigá-lo por ser como é, se eu o fiz? Crê que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que Deus faria isso? Esqueça qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei, que são artimanhas para manipulá-lo, para controlá-lo, que só geram culpa em você! Respeite seu próximo e não faça ao outro o que não queira para você! Preste atenção na sua vida, que seu estado de alerta seja seu guia! Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é só o que há aqui e agora, e só de que você precisa. Eu o fiz absolutamente livre. Não há prêmios, nem castigos. Não há pecados, nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Você é absolutamente livre para fazer da sua vida um céu ou um inferno. Não lhe poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso lhe dar um conselho: Viva como se não o houvesse, como se esta fosse sua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não houver nada, você terá usufruído da oportunidade que lhe dei. E, se houver, tenha certeza de que não vou perguntar se você foi comportado ou não. Vou perguntar se você gostou, se se divertiu, do que mais gostou, o que aprendeu. Pare de crer em mim! Crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que você acredite em mim, quero que me sinta em você. Quero que me sinta em você quando beija sua amada, quando agasalha sua filhinha, quando acaricia seu cachorro, quando toma banho de mar. Pare de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra você acredita que eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me agradeçam. Você se sente grato? Demonstre-o cuidando de você, da sua saúde, das suas relações, do mundo. Sente-se olhado, surpreendido? Expresse sua alegria! Esse é um jeito de me louvar. Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que o ensinaram sobre mim! A única certeza é que você está aqui, que está vivo e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisa de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procure fora. Não me achará. Procure-me dentro de você. É aí que estou, batendo em você.” Spinoza

domingo, 28 de abril de 2024

segunda-feira, 25 de março de 2024

domingo, 24 de março de 2024