Começou ouvindo vozes, depois os
objetos da casa começaram a sumir ou mudar de lugar. Um dia, os espelhos
apareceram todos quebrados.
A empregada começou a faltar quase
todo dia e, quando aparecia, tinha sempre uma marca no corpo, um olho roxo ou
chegava com luxações nas pernas e braços. Perguntou algumas vezes, ouviu as
mais diversas explicações, não perguntou mais.
As esquisitices foram aumentando; começaram
a sumir roupas, livros e alguns CDs. Um dia, faltou dinheiro na carteira, ele
não agüentou: dispensou a moça, trocou as fechaduras e pensou ter resolvido o
problema.
Passou-se um mês e aquilo não parava.
Chamou o síndico, a polícia. Só olharam, ninguém pôde fazer nada.
Ela estava parada numa esquina, ele
nem reconheceu. Tinha hematomas e escoriações pelo corpo todo, estava com o
rosto muito inchado. Tentou se esconder para que ele não a visse, mas ele a
viu; parou o carro, aproximou-se, pegou-a pela mão e levou-a para o
apartamento. Lá, envergonhado, desculpou-se por ter desconfiado dela e indagou
quem a espancava e se sabia o que estava acontecendo com suas coisas. Quem
fazia tudo aquilo?
Ela o levou até um dos quartos vazios,
abriu a porta e apontou para a fotografia do anjo; começou a chorar
convulsivamente e disse:
- É ele quem faz e me
bate.
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