Para ele, era a pessoa mais
maravilhosa que já conhecera, aquela beleza que quanto mais se olhava mais se
percebia, ficava deslumbrado. Seus gestos, a voz, o olhar eram na dose certa; o
mistério e a simplicidade misturando-se em harmonia. Uma
alegria contagiante, no jeito sutil e embriagado. Assim foi nascendo. Quanto
mais a conhecia, mais amplificava a sensação de que era tudo que sonhara. No
começo ficou arrebatado com o amor, com a pessoa. Sentia-se feliz, muito feliz.
Para ela, na primeira mentira, o
perdão. Depois um descaso corriqueiro, perdoado. Outras mentiras e o perdão. Em
alguns momentos, parecia uma estranha, distante, confusa, inventando situações.
Provocando ciúmes, desconfianças e pequenos jogos de sedução. O amor era maior,
desculpava e abrandava tudo, a vida seguia.
Para ele, cada vez que a perdoava, uma
mágoa ficava plantada no coração.
Um dia telefonou e a gravação informou
número inexistente. Passou na porta da casa e não viu o carro; bateu assim
mesmo, insistentemente, até um vizinho informar que ali não morava ninguém.
Procurou-a no trabalho, não a conheciam. Ninguém a conhecia em nenhum lugar
onde estiveram juntos.
Chegou um tempo amargo e dolorido; não
a queria mais e ao mesmo tempo queria desesperadamente.
Tentou em vão achá-la. Para ele, a
mulher inexistente existia.