quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Campos do Marajó
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Nos vapores matutinos
Dos campos do Marajó
Em mondrongos vitalinos
Ou dentro dos igapós
Em lagoas e banhados
Onde o ser não vive só
Entre a cheia e a vazante
Trançados como filó
Moram tantas criaturas
Parecendo muitas mós
Sobrevoa o jacamim
Vigiando o repiquete
Na terra qualquer raiz
Sabe fazer o banquete
Taoca se põe em fila
É viva cada semente
Turu faz sua trilha
No podre à sua frente
Bandos de guarás revoam
Por rente a mamorana
Jaburus saem pra pesca
Vaqueiro canta tirana
“O tronco é de fazer casco
O cipó é de amarrá
Da palmeira só descasco
Folha que passa luá”
MQ
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terça-feira, 30 de outubro de 2012
Entoado
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Andiroba, ucuúba
Anani não tem lá
Arapari, pracuúba
Mututi quem vem lá
Siriúba, tinteiro
Mandei carta pra cá
Murumuru, caimbé
Eu vim pará-pará
Jupati, sumaúma
Acabei de chegá
Pracaxi, pau mulato
Vem pro lado de cá
Açaí, inajá
É beleza de lá
Tachi, patauá
Vim aqui pra cantá
Ajuru, cupiúba
Faço a mata calá
Mucajá, paxiúba
Depois volto pará-pará
“Erê! Pergunto pra longe
Erê! Quem é que vem lá
Se é de paz vem comigo
Se de guerra pode voltá”
MQ
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segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Lundú marajoara
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Vem dançar se é querer
Esconde seu jeito não
Aceita que vou sofrer
Se me der explicação
Veramente a beleza
Não merece escondição
Quero tocar no volteio
Do seu corpo em descrição
E viver só no maneio
Em regalo e sedução
Misturando o tempero
Que arde nas minhas mãos
Vem rodear meu querer
Vem saciar meu amor
Deixa, eu quero viver
É dentro do seu calor
“O cheiro que já é seu
Exalando o meu calor
É vontade no desejo
De dar bem mais amor”
MQ
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domingo, 28 de outubro de 2012
Pedido
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É assim que me lembro
Do canto que vim cantar
Com lenço no pescoço
E brasa acesa no olhar
Procurando os olhos dela
Brilhando na escuridão
Refletindo a fogueira
E pedindo atenção
Quais palavras vou falar
Para pedir a sua mão
Nessa chula declarar
Meu amor e intenção
Sei falar as mais usadas
Que o mundo concedeu
Sei contar em enversados
Tudo que me aconteceu
Mas não sei qual fraseado
Tem no sentimento meu
Só sei que sou desejado
Por isso que já sou seu
“Desejante e desejado
Fui assim desde menino
Completo foi o desejo
Incompleto o meu destino”
MQ
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sábado, 27 de outubro de 2012
Urutau
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Urutau não pisa o chão
Tem seu jeito de evitar
Imóvel vira arredores
Comendo tudo no ar
Disfarce de um segundo
Engana qualquer olhar
Na procura da fartura
Para o bico agarrar
Até sem abrir os olhos
Tem modo de enxergar
Sem bravata é criatura
Noturna e singular
Seu vôo uma ventania
Só mudando de lugar
Nas penas tem segredo
Guardado entre o luar
“Arranquei duas penas
Do rabo do urutau
Pra ajudar a menina
A evitar qualquer mal”
MQ
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sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Planando pelos campos
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No alto da castanheira
Uiraçu faz seu lugar
No rumo do horizonte
Ele guarda seu olhar
Solitário gavião-tinga
Planando pelos campos
Parece filho do vento
Resumido pelos amplos
Vive na borda das matas
Caripira é do alagado
Com seu jeito incomum
Precisa viver ao lado
Distância não o domina
Gainambé fica parado
Imóvel bem lá em cima
É o sino do alagado
O seu vôo cauauá
Manso como lagoa
Não parece disfarçar
Que o perigo sobrevoa
Lusco-fusco florestado
Lá vem o iocó-pinin
Devagar pelo banhado
Fingindo que é capim
“Plantei pé de cravo nasceu alecrim
Sou ave sem ninho, só vivo a sonhar
Com amor e muita paixão sem fim”
(*)
(*)Domínio Público Adaptado
MQ
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quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Ladainha de pajelança
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Quando a vida me mentiu
Não fiquei em desatino
Aceitei qualquer função
Calei a boca do destino
Persegui por muitas buscas
Transformar o meu caminho
Curando os que têm cura
Serenando quem vai sozinho
Venho é de sentimento
Bem armado de valentia
Não nego lenimento
Se alguém precisar um dia
“Fogo pra esquentá
Cachaça pra distraí
Pode chegá caruana
Fumando seu tauari”
MQ
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Amor trançado
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Viver preso na lembrança
Sem olhos pra ver verdejo
No corpo que ainda trança
Tanto amor ao meu desejo
Canarana esparramava
O verde melhor do ano
No tempo que eu te amava
Sem saber de desengano
Japiim cantou mais alto
Foi no dia do abandono
Senti um sobressalto
Revelando o desumano
Nos braços do desengano
Sou casco desgovernado
Navego um bamburral
Remando o meu passado
“O cordão de aningas
Retirava todo ano
A semente que vinga
Do vento que vai soprano”
MQ
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terça-feira, 23 de outubro de 2012
Ser livre
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Caboclo quando decente
Sabe ter obrigação
De viver corretamente
Sempre dentro da razão
Se quiser realidade
Liberdade é ilusão
Só existe de verdade
Dentro de uma noção
Ser livre é estar preso
Num modo de escravidão
Sentindo menor o peso
Quando cumpre obrigação
Remoendo o que é contido
Naquilo que não contém
Dando o certo por vivido
Naquilo que a si convém
“Voz perdida no caminho
Silêncio como segredo
Canto de andar sozinho
Calado gritando medo”
MQ
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segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Mancha negra
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Até o piquiazeiro deitou os galhos no chão
O lugar tremeu na terra tamanho esbarrão
A mancha negra crescendo tomou toda visão
Escondendo o que era chifre na ponta da colisão
No estrondo foi vaqueiro misturado na ação
Com cavalo, piquiazeiro muito sangue e tensão
Latência nos envolvidos em meio da confusão
Peso e chifre reunidos dentro dum escorregão
Cavalo com peito rasgado arfando aflição
O búfalo mais prevenido buscando o socavão
Vaqueiro todo esfolado apalpando a contusão
Ao longe um grito dado chamando a apartação
“Costurei suas feridas
Com espinho e cipó
E untei com valentia
Por dentro de cada nó”
MQ
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domingo, 21 de outubro de 2012
Pedição
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A todos que estão ouvindo
No silêncio da atenção
Um pouco vamos pedindo
No canto dessa oração
Um pouco de sentimento
Dentro de cada razão
Um tanto de lenimento
Abrandando a solidão
A benção dos encantados
Tratando o que não é são
Porção de cura e herdados
Passados de mão em mão
Pedimos por mais fartura
Que a vida dê a fração
Nos livrando da usura
Que há dentro da ambição
“Se veio de longe é benvindo
Se mora perto é irmão
Mais de muitos, os vaqueiros,
Vivem presos neste chão”
MQ
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sábado, 20 de outubro de 2012
O santo que é bendito
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Rala mandioca, faz a tiborna
O mastro vai ser enfeitado
Tá quase chegando a hora
De tremular o embandeirado
O santo que é bendito
É Benedito em seu louvor
O santo que é bendito
É Benedito em seu louvor
Porque é dito
E é sempre bem dito
Que o sagrado e o profano
Fazem parte do mesmo plano
Vem dentro da crença
Que sagrado é o humano
Côa a tiborna, deixa apurar
A reza vai começar
Quem dança não vai tardar
Até santo sabe esperar
O santo que é bendito
É Benedito e quer dançar
O santo que é bendito
É Benedito e quer dançar
“No colo da rede
Vejo a vida passar
Lembrando de eu menino
Imitando o tangará”
MQ
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Mãe da vida
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Fundo da noite calada
Como um sentimento
A mãe da vida alenta
Com seu ornamento
Correm águas emendadas
Encante dos Aruãs
Mistura em cada varja
O cheiro das manhãs
Protege cada vaqueiro
E os caboclos mestiços
De intenções suspeitas
E de olhares mortiços
Defende os encantados
Por gente do seu lugar
Traz o seio da maré
Pra salgar o de salgar
“Acende o tauari
Deixa de dentro chegar
Tudo que vem de legado
E precisa se misturar”
MQ
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quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Retiro do São Lourenço
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Num têso do São Lourenço
Levantei tendal
Terminei tiração
Plantei manival
Dobrei minhas mãos
Envarei a casinha
Me cortei de saudade
Tijucando a cozinha
Esmerei no lembrar
Fiz varanda, fogão
E até altarzinho
Pro santo de devoção
Disque vem logo Merina
Desfaz qualquer engano
Não agüento esperar
Pela baixa desse ano
“Um tanto de deus é mundo
Um tanto de mundo é lugar
Em alguns eu me perdi
Noutros eu vim te esperar”
MQ
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Tributo a dois grandes mineiros
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SEBASTIÃO NUNES1
Tinha a poesia de Affonso a me conduzir e se autoexplicar, naquilo que se tornou o mais proveitoso aprendizado artístico de minha vida
O poeta Affonso Ávila
parte em visita ao escultor Aleijadinho
Em 1974, topei um enorme desafio: transformar em livro os versos datilografados da "Cantaria Barroca", de Affonso Ávila. O desafio não estava nos versos, mas na construção dos poemas. Extremamente rigoroso, Affonso imaginou seu trabalho como um objeto, ao mesmo tempo, literário e visual, uma linguagem remetendo à outra e ambas se completando. Dito assim, pode ser difícil de entender, mas a imagem que ilustra esta crônica explica melhor. O "&", que está presente no livro inteiro, cria, no poema "Casa dos Contos", uma diagonal de cima para baixo e da esquerda para a direita, do primeiro ao último verso.
Desafio aceito - eu, no Rio, ele, em BH -, parti para a dura empreitada. Na época, anterior aos recursos da diagramação eletrônica, o maior avanço era a "Letraset", conjunto de caracteres de tamanhos variados, cada folha com o alfabeto completo. As letras eram pressionadas sobre o papel, soltando-se do suporte plástico e fixando-se na folha. Trabalho vagarosamente artesanal, construído letra a letra.
Foi um longo e difícil percurso. Para me ajudar na viagem, eu tinha as fotos de Maurício Andrés sobre os delírios do pedreiro Vado Ribeiro. Mas, principalmente, tinha a própria poesia de Affonso a me conduzir e se autoexplicar, naquilo que se tornou o mais proveitoso aprendizado artístico de minha vida. Sim, então era assim que se fazia grande poesia! Diante de mim, verso após verso, lá estava um dos maiores, mais belos e mais lúcidos conjuntos de poemas brasileiros do século XX. Foi lançado em 1975, no centenário da publicação do delicioso "Elixir do Pajé", de Bernardo Guimarães, joia preciosa, rara e quase clandestina de nossa poesia satírica.
SURGE O GURU
Conheci Affonso no feliz-infeliz ano de 1964 quando, recém-chegado à faculdade de Direito da UFMG, ouvi sua palestra Iniciação Didática à Poesia de Vanguarda. Ele tinha 36 anos e eu, 25. Na prática, essa diferença de 11 anos era imensa. Enquanto eu mal sabia o que era poesia (sempre fui lerdo no aprendizado de sutilezas desse tipo), Affonso já estava maduro e trabalhando bastante, além de conhecer, ler e se corresponder com meio mundo literário. Vivendo em Belo horizonte, sua antena captava sinais luminosos não só do Brasil como da Europa. Estava sempre atualizado e comprometido, numa via de mão dupla.
Dois anos depois, passei a frequentar sua casa, em que ele e Laís, com a boa vontade mansa mas exigente dos gurus orientais, ensinavam a "meninada" a descobrir o caminho das pedras. Foi a partir daí que nossa turma, que se reunia no Suplemento Literário na Imprensa Oficial e se reencontrava à noite no Lucas, aprendeu o básico. E esse básico era não admitir limites para a criatividade. Nem fragilidade na construção poética.
CRESCE O RIGOR
Exigente consigo mesmo e com os outros, trabalhando cada poema como um artesão quebrando pedra ou um ourives polindo diamante, Affonso nos ensinou que acima de tudo era preciso conhecer o que se fazia de melhor no mundo da criação, no máximo de países e de línguas. O resultado desse aprendizado só podia ser altamente positivo, limitado, é claro, pelo potencial de cada um. Nesse sentido, o poeta Affonso Ávila cabe inteirinho na formulação de Millôr Fernandes, outro dos grandes que nos deixou: "Só há um homem respeitável - aquele que realiza o máximo do potencial de personalidade que a natureza lhe deu. Que isso seja pouco porque o destino lhe foi parco em dádivas de talento e habilidades não o desmerece. O que o desmerece é a humildade, é o não tentar. O que o desmerece é o não se descobrir, o não se pesquisar, o não saber para que veio e que notícia traz". Na pena no extraordinário humorista, a densidade do humanista sábio.
Affonso não deixava por menos. Nunca foi humilde e nunca deixou de tentar. Mais do que todos nós, recebeu muito do destino, e usou ao máximo as dádivas de talento e habilidade que a natureza lhe concedeu com prodigalidade. Por isso, se tornou grande, como um dos intelectuais brasileiros mais importantes e respeitados de seu tempo, apesar de nem sempre ter sido reconhecido como merecia. Mas isso é outra questão e faz parte da oposição frequente entre prestígio e fama, que algum dia discutirei com calma.
BARROCO
Muito cedo Affonso se interessou pelas raízes de nossa cultura, mais precisamente pelo barroco, produzindo em 1965 o monumental "Resíduos Seiscentistas em Minas", publicado em 1967.
Em 1969, organizou e lançou, no Festival de Inverno de Ouro Preto, o primeiro número da revista "Barroco", editada pela UFMG. Daí em diante, se desdobrou entre criação poética - com forte influência das pesquisas em barroco - e o trabalho de ensaísta e de divulgador de nossas raízes. Em 1979, nova obra-prima, "Barroco Mineiro/Glossário de Arquitetura e Ornamentação", em parceria com os arquitetos João Marcos Machado Gontijo e Reinaldo Guedes Machado, que diagramei e foi lançado numa coedição entre Fundação João Pinheiro e Fundação Roberto Marinho. Em 2005, finalmente, publica o número 19 da revista "Barroco", comemorando 35 anos de sua criação.
Além disso, incansável, organizou encontros nacionais e internacionais, com a presença de especialistas brasileiros e do exterior. E ainda teve tempo para palestras e outros trabalhos de divulgação, sem contar a série de livros que continuou publicando sobre o tema e que o colocam, hoje, como o principal estudioso do barroco entre nós.
DIFAMAÇÃO DO POETA
Entre os trabalhos poéticos menores em volume, mas igualmente densos, destaca-se o "Discurso da Difamação do Poeta". É uma obra primorosa pela desconstrução da linguagem oficial e do efeito deturpador dos boatos, recurso que empregou amplamente em outros livros, como no "Código de Minas" e no "Código Nacional de Trânsito", publicado numa singela edição de 200 exemplares (a mesma tiragem do "Cantaria Barroca"), mas reproduzido integralmente no "Jornal do Brasil", multiplicando por milhares seu alcance.
O espaço de uma crônica não é o espaço de um livro, como seria necessário. Foi uma vida longa, preenchida criativamente até o fim, sem esmorecimento. Até logo, imenso poeta! - balbuciamos nós, seus amigos que ainda não fomos chamados.
& em cada conto te
encontr
o & em cada enquanto me
enca
nto & em cada arco te
a
barco & em cada porta
m
e perco & e em cada laço
t
e alcanço & em cada
escad
a me escapo & em cada
pe
dra te prendo & em cada
g
rade me escravo & em
ca
da sótão te sonho & em
cada
esconso me affonso &
em
cada cláudio te canto &
e
m cada fosso me enforco
&
|
HUMBERTO WERNECK2
Uma formiga da
Literatura
São todas excelentes, confirmo agora ao repassá-las, as lembranças que tenho de Autran Dourado, falecido no Rio faz uma semana. Lembranças que, primeiro, me deixaram seus livros, alguns deles lidos, relidos e esmiuçados no ardor de meus longínquos 20 anos de idade. A barca dos homens, romance que me impressionou ao ponto de haver sacrificado rarefeitas finanças de estudante para mandar encaderná-lo. E também meu exemplar de Nove histórias em grupo de três (depois rebatizado Solidão, solitude), livro admirável que volta e meia revisito.
Andava pelos 22 quando conheci Autran Dourado, um senhor de 41 anos, bigodão vitalício e uma cara séria (sem prejuízo, vi depois, de ribombantes gargalhadas) que a meus olhos o distinguia de outros mineiros igualmente instalados no Rio e na glória literária: Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, quatro cavaleiros extrovertidos, exuberantes, amolecados. Cigarras da literatura, achava eu, em oposição à formiga das letras que foi Autran Dourado.
Não estava de todo equivocada a minha avaliação juvenil. Por temperamento mas também escolha, não havia nele certa mundanidade que aos outros conferia cintilação social. Na sua geração, pelo menos, aquela que teve estreia tipográfica na década de 40, não vejo muitos escritores que tenham explorado tão radicalmente cada grão do talento que lhes coube, e nenhum que tenha tido com a literatura relação mais obstinadamente monogâmica.
Autor de maus versos na juventude, como quase todo iniciante, Autran Dourado não tardou a embicar pelo território que seria o seu, o do romance. "Investi tudo, a vida inteira, na carreira de romancista", me disse ele certa vez, "e se amanhã aparecer com um livro de poesia, será um mau livro, porque Deus é justo..." Nos anos 70, trocou divertidas farpas com Fernando Sabino quando o amigo, paralisado sob o peso do sucesso de O encontro marcado, que o impedia de reincidir no gênero, andou anunciando que o romance estava morto. "Gozado o Fernando", comentou Autran. "Foi campeão de natação, e agora, que já não dá conta de nadar, quer esvaziar a piscina..." O nadador, como se sabe, recuperou o fôlego e voltou à raia com braçadas de romancista para delivrar O grande mentecapto, em 1979.
Autran Dourado tinha horror a algo para ele muito brasileiro, o "mito do escritor ignorante", aquele que apenas se deixa levar pelos acasos de um talento maior ou menor. Não acreditava em escritor que não se dedicasse cotidianamente ao aprendizado do ofício, e achava um absurdo dizer-se que "fulano escreve muito bem" - pois num escritor, insistia, escrever bem é requisito básico, eliminatório. "O escritor tem que saber escrever", me disse ele, "para depois desaprender." Convicção que ele creditava não a um homem de letras, mas a um artista plástico, o pintor Guignard, de quem esteve muito próximo em seus anos de formação. Guignard, dizia Autran, não acreditava em artista que não soubesse desenhar muito bem, "e com lápis duro", que não permite refazer o traço, antes de chegar ao guache, ao óleo.
Escrever foi seu projeto prioritário, e para viabilizá-lo Autran cuidou de providenciar um ninho, uma segurança material que o dispensasse de se esmerilhar na ganhação da vida. Tranquilidade que lhe veio no começo da década de 60, sob a forma de um cartório presenteado por Juscelino Kubitschek, a quem servira nos governos de Minas e da República como redator de discursos e secretário de imprensa. Experiência, aliás, que na maturidade renderia um saboroso livro de memórias, Gaiola aberta, farto em revelações por vezes espantosas - como o hábito que tinha JK de convocar assessores, Autran inclusive, para com eles despachar enquanto tomava banho de banheira.
No final do mandato, o presidente, que via no escritor uma vocação de político, lhe acenou com apoio para uma carreira de parlamentar. Fez bem o assessor em preferir o cartório: nenhuma falta nos fez o deputado Waldomiro Autran Dourado. Já o escritor...
1) Sebastião Nunes: (Publicada em O Tempo, edição de 7/10/2012)
2) Humberto Werneck: (Publicado em O Estado de S. Paulo, edição de7/10/2012)
Braço Paracauari - para Celso Viáfora
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O Paracauari é braço
É rio, é curso, é lugar
Também é caminho
Para se encontrar
É barranco descendo
À deriva do tempo
Barcos que levam
E trazem alento
Cada curva esplendor
Refletindo na alma
E na ponta da lágrima
Que o vento empalma
Ao olhar o poeta
Conduzindo destinos
O rio sem nascente
Conjuga um verso
E se põe frente a frente
Às margens da imensidão
“A emoção do instante
É valência para quem vive
Valência para quem sonha
Erê!... o poeta chorou”
MQ
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terça-feira, 16 de outubro de 2012
Festcineamazônia anuncia os filmes da décima edição
Festcineamazônia anuncia os filmes da
décima edição
51 produções foram selecionadas entre
os mais de 350 filmes inscritos
O Festival Latinoamericano de Cinema e Video – Festcineamazônia anuncia
nesta segunda-feira (15/10) os filmes selecionados para concorrer na mostra
competitiva de curta-metragem e reportagem ambiental. São 51 produções
cinematográficas de todas as regiões do Brasil e da América do Sul que
concorrem nas categorias de animação, ficção, documentário e experimental. Mais
de 350 filmes foram inscritos nesta décima edição do festival. O evento será
realizado do dia 6 a 10 de novembro, em Porto Velho.
Os filmes selecionados para mostra foi feita por Alexandre Guerreiro,
mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), graduado em
Cinema pela UFF e em História pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ). Produtor cultural e curador de mostras como O Cinema de Eric Rohmer,
Godard 80, O Cinema de Carlos Saura, O Rio de Janeiro Segundo o Cinema, é
também idealizador do Cineducando - Festival de Cinema e Educação.
Outro jurado foi o jornalista, editor e diretor de TV e cinema, Délcio
Teobaldo. Produziu, dirigiu, narrou os documentários: Série “Cantos de fé, de
trabalho e de orgia”: “Morre congo, fica congo”; “Ladainhas – Rezas e outros
ofícios de fé e de cura”; “Cantos de Calamboteiros”; “Rio de Janeiro Sagrado”,
de Rosane Santiago; “Tomio Kikuchi – Percepção Palavra Potência”; “Laene
Teixeira Mucci – Terra Tempo Poesia”; “Perfume de Gardênia”; “Revelando São
Paulo – Um encontro de fé e folia”; “Caçambada Cutuba – A história que Rondônia
não escreveu”.
Também participou da pré-seleção dos filmes, o editor audiovisual, arte
e tecnologia Pablo Ribeiro que tem no currículo vários trabalhos no cinema, na
televisão e na música, como o documentário “Raul Seixas – O Início, O Fim e o Meio”,
“Alô, Alô Terezinha”, o filme “Budapeste”, o programa Esquenta da Regina Casé
(TV Globo) entre outros.
O Festcineamazônia se consagrou como o maior festival de audiovisual da
região, integrando o circuito nacional de festivais de cinema e vídeo. O festival
tem o patrocínio do BNDES, Governo Federal, Ministério da Cultura através da
Lei Rouanet, Secretaria do Audiovisual, apoio cultural do Centro Técnico
Audiovisual – CTAv e Governo de Rondônia através da Secretaria dos Esportes, da
Cultura e do Lazer - SECEL.
Veja abaixo a lista dos filmes selecionados e o currículo dos jurados da
pré-seleção.
Jurados da pré-seleção
Alexandre Guerreiro
Atua como professor na Secretaria de Estado de Educação do Rio de
Janeiro - SEEDUC-RJ há 14 anos. Produtor cultural e curador de mostras como O
Cinema de Eric Rohmer, Godard 80, O Cinema de Carlos Saura, O Rio de Janeiro
Segundo o Cinema, é também idealizador do Festival de Cinema e Educação -
Cineducando. Dirigiu, entre outros, o curta Adro da Candelária (Troféu Jangada
de Melhor Filme / prêmio OCIC, no Festival Guarnicê, em 2007) e Os Donos da
Morte (Melhor Diretor Estreante na Mostra Curta Cinema 2002). Coordena a Mostra
Competitiva do Araribóia Cine - Festival de Niterói e integra a equipe do
Cinema e Educação - CINEDUC, pelo qual ministra oficinas para professores.
Délcio Teobaldo
É escritor, jornalista, documentarista, etnomusicólogo, produtor,
roteirista, editor e diretor de TV e cinema. Produziu, dirigiu, narrou os
documentários: Série “Cantos de fé, de trabalho e de orgia”: “Morre congo, fica
congo”; “Ladainhas – Rezas e outros ofícios de fé e de cura”; “Cantos de
Calamboteiros”; “Rio de Janeiro Sagrado”, de Rosane Santiago; “Tomio Kikuchi –
Percepção Palavra Potência”; “Laene Teixeira Mucci – Terra Tempo Poesia”;
“Perfume de Gardênia”; “Revelando São Paulo – Um encontro de fé e folia”;
“Caçambada Cutuba – A história que Rondônia não escreveu”.
Escreveu, produziu e dirigiu para a TV: “Na Pele” (Art-Vídeo/TVE Rede
Brasil, 2001); “Infância Limitada”, terceira classificação na BBC de Londres e
prêmio de melhor direção (TVE, 2002); “Atitude.com”; “Supertudo”, TVE/RJ; “A
vida é um show”, “Conversa Afinada”, “Bossa Sempre Nova” e “Cena Musical”,
“Samba na Gamoba”, “Musicograma” (TV Brasil); “Mojubá” (Canal Futura).
Pablo Ribeiro
É montador, editor audiovisual, músico, arte e tecnologia. Está
trabalhando no filme “Brincante”, direção Walter Carvalho, em andamento, e o
documentário “Filme de Cinema”, em estreia prevista para 2013.
Trabalhou no documentário: “Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio”,
direção Walter Carvalho, na ficção: “Budapeste”, com direção Walter Carvalho,
“Alô Alô Terezinha”, direção Nelson Hoineff, “Moacir Arte Bruta”, direção
Walter Carvalho. Esquenta! da Regina Casé – TV GLOBO - Temporada 2012. Nomes da
Moda (Série) – direção Lao Andrade – Fashion TV, 2011. O Nordeste de Ariano
Suassuna – Andanças, histórias e Poesias, Sesc / Canal Brasil, direção Walter
Carvalho, 2011.
Lista dos filmes selecionados
FILME/VÍDEO
|
DIREÇÃO
|
CATEGORIA
|
ESTADO
|
|
SILENCIO
|
ALBERTO BELLEZIA / CID CÉSAR AUGUSTO
|
DOCUMENTÁRIO
|
RJ
|
|
PROIBIDÃO
|
LUDMILA CURI E GUILHERME ARRUDA
|
DOCUMENTÁRIO
|
RJ
|
|
CICLO
|
MARCELO GALVÃO
|
FICÇÃO
|
SP
|
|
JAÇANÃ E O ADONIRAN
|
ROGÉRIO NUNES
|
DOCUMENTÁRIO
|
SP
|
|
DI MELO - O IMORRÍVEL
|
ALAN OLIVEIRA E RUBENS PÁSSARO
|
DOCUMENTÁRIO
|
PE
|
|
LINEAR.
|
AMIR ADMONI
|
ANIMAÇÃO
|
SP
|
|
L
|
THAIS FUJINAGA
|
FICÇÃO
|
SP
|
|
A GALINHA QUE BURLOU O SISTEMA
|
QUICO MEIRELLES
|
FICÇÃO
|
SP
|
|
QUANDO O CÉU DESCE AO CHÃO
|
MARCOS YOSHI
|
FICÇÃO
|
SP
|
|
O FIM DO FILME
|
ANDRÉ DIB
|
FICÇAO
|
SP
|
|
O CANGACEIRO
|
MARCOS BUCCINI
|
ANIMAÇÃO
|
PE
|
|
VISÕES DA FLORESTA
|
VICENTE RIOS
|
DOCUMENTÁRIO
|
GO
|
|
ANTES QUE O VERÃO ACABE
|
MARÍLIA NOGUEIRA
|
FICÇÃO
|
MG
|
|
UMA, DUAS SEMANAS
|
FERNANDA TEIXEIRA
|
FICÇÃO
|
RJ
|
|
INVISÍVEIS
|
ANDERSON FREGOLENTE
|
FICÇÃO
|
PR
|
|
ARTISTAS NO CENTRO
|
SIMONE ELIAS
|
DOCUMENTÁRIO
|
SP
|
|
ACORDA POVÃO
|
JOAO GABRIEL
|
FICÇÃO
|
BA
|
|
ISSO NÃO É O FIM
|
JOAO GABRIEL
|
FICÇÃO
|
BA
|
|
MATINTA
|
FERNANDO SEGTOWICK
|
FICÇÃO
|
PA
|
|
NIGERIA FIM DA LINHA
|
ELDER FRAGA
|
FICÇÃO
|
SP
|
|
DESFRONTEIRA
|
THIAGO BRIGLIA
|
DOCUMENTÁRIO
|
SP
|
|
FEIJOADA COMPLETA
|
ANGELO DEFANTI
|
FICÇÃO
|
RJ
|
|
RATTUS RATTUS
|
ZÉ BRANDÃO
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ANIMAÇÃO
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RJ
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EU NUNCA DEVERIA TER VOLTADO
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EDUARDO MOROTÓ, MARCELO MARTINS SANTIAGO E RENAN BRANDÃO
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EXPERIMENTAL
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RJ
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DULIA
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MARIANA MUSSE E TOMYO COSTA ITO
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DOCUMENTÁRIO
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MG
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VESTIDO DE LAERTE
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CLAUDIA PRISCILLA E PEDRO MARQUES
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FICÇÃO
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SP
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FUNERAL À CIGANA
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FERNANDO HONESKO
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FICÇÃO
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SP
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BARBEIROS
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LUIZ FERRAZ E GUILHERME AGUILAR
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DOCUMENTÁRIO
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SP
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NOITE PERDIDA
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FILIPPO CAPUZZI LAPIETRA
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FICÇÃO
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SP
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A DESCOBERTA
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RNESTO MOLINERO
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FICÇÃO
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BA
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KOPECK
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JAIME LEMER
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FICÇÃO
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RS
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UM DIÁLOGO DE BALLET
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FILIPE MATZEMBACHER E MARCIO REOLON
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DOCUMENTÁRIO
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RS
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O CÉU NO ANDAR DE BAIXO
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LEONARDO CATA PRETA
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ANIMAÇÃO
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MG
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MÁSCARA NEGRA
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RENE BRASIL
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FICÇÃO
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SP
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SUEÑOS EM LA FRONTERA
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EDINÉS SILVA DE ARAUJO (BRASIL) MAYRA CÁDIZ ARGANDOÑA (BOLIVIA)
RENATO CASTRO DE ALNUIDO (BRASIL) PATRICIA PERALES YABAR (PERÚ)
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DOCUMENTÁRIO
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PERU
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O CASAMENTO DE MARIO E FIA
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PAULO HALM
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FICÇÃO
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RJ
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COWBOY
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TARCISIO LARA PUIATI
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DOCUMENTÁRIO
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RJ
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O PAU DA BANDEIRA
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FILIPI WECESLAU E AUGUSTO PESSOA
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DOCUMENTÁRIO
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PB
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MBYÁ REKO PYGUÁ, A LUZ DAS PALAVRAS.
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KATIA KLOCK E CINTHIA CREATINI DA ROCHA
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DOCUMENTÁRIO
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SC
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ANGELI 24HS
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BETH FORMAGGINI
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DOCUMENTÁRIO
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RJ
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CATEGORIA - VIDEO REPORTAGEM AMBIENTAL
FILME/VÍDEO
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DIREÇAO
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ESTADO/PAÍS
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NO RUMO DO UÇÁ.
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WLADYMIR LIMA
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AL
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MEDIÇÃO EXATA DO PICO DA NEBLINA.
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ORLANDO JUNIOR
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AM
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O NOVO GARIMPO
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JOEL TEIXEIRA
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MT
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TARTARUGAS DA AMAZÔNIA.
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PAULO PAIXÃO
|
AM
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OURO PARAIBANO.
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WENDELL RODRIGUES
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PB
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BOMBA-RELÓGIO.
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LUDMILA CURI E NATANAEL DAMASCENO
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RJ
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FAÇO DIFERENTE: UM INVENTOR DE MÃO CHEIA
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WENDELL RODRIGUES
|
PB
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SÉRIE ÁGUA
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CARLOS ALBERTO MARTINS DA ROCHA
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PR
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A MAIOR PRAIA DO MUNDO “ORIGEM, PIRATARIAS E NAUFRÁGIOS
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PENA CABREIRA
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RS
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FIM DO MUNDO – O POVO DO SILÊNCIO
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PAULO NASCIMENTO, VOLTAIRE DANCKWARDT / LEONARDO MACHADO
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RS
|
GUARDIÕES DA AMAZÔNIA
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JEAN CARLA COSTA
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RO
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