terça-feira, 31 de agosto de 2010
RUY GODINHO – ENTÃO, FOI ASSIM?
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ALMA
(Sueli Costa/Abel Silva)
Há almas que têm
As dores secretas
As portas abertas
Sempre pra dor
Há almas que têm
Juízo e vontades
Alguma bondade
E algum amor
Há almas que têm
Espaços vazios
Amores vadios
Restos de emoção
Há almas que têm
A mais louca alegria
Que é quase agonia
Quase profissão
A minha alma tem
Um corpo moreno
Nem sempre sereno
Nem sempre explosão
Feliz esta alma
Que vive comigo
Que vai onde eu sigo
O meu coração
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O compositor Abel Silva1 escreveu duas letras e as ofereceu à parceira Sueli Costa2 para que ela as musicasse. Um ato rotineiro, nada demais. Tal qual quando compuseram Canção Brasileira, Coração Ateu, Jura Secreta, Música, Música, Voz de Mulher, indiscutíveis sucessos nacionais gravados por Simone, Lucinha Lins...
“Abel me deu as duas letras: Corpo e Alma”, afirma Sueli Costa. “Quando fui ler as letras, vi que Corpo daria um belo bolero, e Alma... foi estranho. Comecei a ler a letra e ouvi a música inteira, com arranjo e tudo. Fiquei muito assustada, pensando ser de autoria de alguma pessoa conhecida, Chico [Buarque], Ivan [Lins], e fiquei na minha, não disse nada ao Abel.”3
Algum tempo depois, Abel perguntou para Sueli se ela tinha gostado das letras. Sueli respondeu que já estava terminando a melodia de Corpo. E que depois faria Alma. “Meu medo era de que aquela música não fosse minha”, disse Sueli receosa de estar plagiando algum colega.
Naquela semana, a cantora Simone participara de uma festa comemorativa ao Dia do Trabalhador, 1º de maio, onde cantou Caminhando e Cantando (Pra não dizer que não falei de flores), de Geraldo Vandré, bastante emocionada, levando a platéia do Maracanãzinho ao delírio. Sueli que havia assistido ao show, também se emocionou.
Esquivando-se de uma explicação esotérica, Sueli Costa atribui Alma ao desempenho da cantora baiana. “Acho que fiquei impressionada com Simone e a música veio muito pela performance dela. Depois vi que a música não era de ninguém mesmo, ou melhor, era um presente de Deus ou das almas.”
No disco Corpo e Alma, lançado em 1982, Alma foi gravada por Simone, sendo muito bem recebida pelo público e pela crítica.
“É uma das minhas músicas mais executadas”, confirma Sueli. “E até hoje, só posso cantar Alma no final das minhas apresentações, porque o público inteiro canta. Se eu cantar antes parece que o show chegou ao final... aí... fica difícil terminá-lo.”
1 Abel Ferreira da Silva 28/02/1945 Cabo Frio-RJ.
2 Sueli Correa Costa 25/7/1943 Rio de Janeiro-RJ.
3 Entrevista concedida ao autor, em abril de 2006, por e-mail.
Ruy Godinho
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
inexorável tempo
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não deixes que o tempo passe
desta maneira dentro de ti
os teus olhos já só me enxergam
na média distância
e os meus a ti também
nos emocionamos com o atemporal
do nosso amor
as lágrimas contidas
nos meus, nos teus olhos
marcando o inexorável tempo
que não nos demos
se de joelhos nos prostramos
um aos pés do outro
na penitência de não nos termos
serão nossos olhos
que já não se vêem de perto
o sinal de que
deixamos nossos corpos
não se pertencer
na atitude menos ousada
que poderia ainda
nos deixar desse amor viver
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MQ
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NELSON RODRIGUES
“Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.”
Nelson Rodrigues
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domingo, 29 de agosto de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
MARIELZA TISCATE
"Tento tocar a superfície de seus pensamentos
De leve
Para não assustá-los com minha presença
Constante
Quero muito
Mergulhar na alma de suas palavras
E dormir sob o véu escuro e estrelado
Das que ainda nem sabe
Que vão nascer
Consigo apenas pequenos adormecimentos
Colho algumas estrelas que lhe caem no caminho
E torço que semeiem nosso mar de estilhaços"
Acho que os apaixonados por poesia, no fundo, desejam algo desse tipo com seus poetas favoritos!
Marielza Tiscate - http://maritiscate.blogspot.com/
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sexta-feira, 27 de agosto de 2010
RUY GODINHO - RODA DE CHORO
RODA DE CHORO – SÁBADO – DIA 28.08.10
No 1º bloco o destaque vai para a Coleção Princípios do Choro e abordará obras do compositor Capitão Miguel Rangel, nascido provavelmente no Rio de Janeiro, talvez por volta do ano de 1845.
No 2º bloco o destaque é o LP O Violão Brasileiro Tocado pelo Avesso, com uma seleção de clássicos do compositor e violonista Canhoto da Paraíba, lançado pelo selo Discos Marcus Pereira, em 1977.
No 3º bloco o Roda de Choro festejará os 20 anos da parceria do pianista e arranjador Gilson Peranzzetta e o flautista e saxofonista Mauro Senise, sob o som do CD comemorativo Linha de Passe, lançado em 2010.
No 4º bloco a cantora brasiliense Zila Siquet, fará uma revisita ao programa, apresentando choros do CD Choramingando, de Jairo Mozart e Dinaldo Domingues, lançado em 2000.
No 5º bloco a tônica será a presença do Regional Choro & Cia, de Natal-RN, que não é apenas um Regional, mas um abrangente projeto cultural potiguar.
Ouça pela internet:
Rádio Câmara, Brasília: www.radio.camara.gov.br (rádio ao vivo), sábados, 12h.
Rádio Roquette Pinto, Rio de Janeiro: www.fm94.rj.gov.br
terças e quintas-feiras, 14h; quartas e sextas-feiras, às 2h.
Rádio Utopia FM, Planaltina-DF, quartas-feiras, 18h.
Produção e Apresentação: Ruy Godinho
Ninguém me Conhece: 5) Daisy Cordeiro, Absoluta
Ouça alguns dos muitos encantos de Daisy Cordeiro aqui: http://clubecaiubi.ning.com/profile/OXdoPoema
CANÇÃO DOS POVOS DA NOITE - O BODE E A ÍNDIA VELHA
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O Bode e a Índia Velha
(Marcos Quinan)
Arranjo de Cordas - Roberto Stepheson
Violão - Eudes Fraga
Cello - Manoel Antônio
Viola - Ivan Zandonada
Violino - André Cunha
Oboé - Carlos Prazeres
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
EU SOU CABOCA - PATRÍCIA BASTOS
Os animais e os pássaros se achegam à mata. À diversidade da fauna se soma a vida vegetal. Lá estão também os índios e os ribeirinhos. Todos em comunhão reforçam vínculos e se entregam a relacionamentos de lógica ímpar: é o rio Amazonas e a floresta amazônica doando seu ar místico secular aos que deles se aproximam para ali permanecer.
Assim, plenos de mistérios, a Amazônia e o rio Amazonas soam trombetas para anunciar que mais uma de suas filhas vem para se distinguir. E ela vem ela toda faceira lá de Macapá, abençoada pela densa mata e pelo rio mar: Patricia Bastos, que se valendo do Projeto Pixinguinha de Editoração, gravou Eu sou caboca, seu quarto CD.
Por esse bom disco, vislumbra-se seu destino de cantora que tem nítida em sua alma a importância do seu cantar amazônico, marcado a ferro em sua personalidade.
Para cada levada seu instrumento, sua linguagem, sua ancestralidade, marabaixo, batuque, lundu, maracatu, carimbó, samba, retumbão, jongo, alujá. Sobre eles a música vem como pororoca rio abaixo. Sobre eles o versejador cria rimas com a força de expressivas orações.
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Os arranjadores Adelbert Carneiro, Aluisio Laurindo Jr., Paulo Bastos e Dante Ozzetti (este, arranjador da sua “Demônio de Batom”, que tem letra provocante do poeta Joãozinho Gomes), arregimentaram formações que deram ao repertório a força que carece e merece a voz de Patricia Bastos.
As especiais participações vocais de Nilson Chaves em “Filho de Uaranã” (Rafael, Pedro e Rita Altério), ritmo quente marcado por percussão calorosa, e de Vitor Ramil em “Pequeno Pescador” (Vicente Barreto e Joãozinho Gomes), canção de raro lirismo, realçam a cumplicidade que Patricia ainda quer maior, pois já conhece o valor da integração solidária entre o rio e a floresta.
O repertório é exemplo de como Patricia bem o sabe escolher. Celso Viáfora vem com a sua bela “Crença” e com a percussiva “Eu Sou Caboca” (com Joãozinho Gomes). A conhecida “Natureza”, de Rosinha de Valença e Leci Brandão (“Ê, natureza/ Ê, natureza tão bom...”) aclara a competência da intérprete e chama adjetivos: cafuza buliçosa, mestiça calorosa, índia caudalosa, cantora de respiração encaixada, de suingue contagiante, voz delicada, mas firme, agudos precisos, emoção encorpada... Patricia Bastos.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
JAC. RIZZO - Pensando em tardes azuis
Nas noites em que não durmo, fico ouvindo o silêncio, pondo lembranças no colo, amores acariciando.
Se o sono é escasso, noites e eu, choramos juntas. E o lamento agudo e fundo, como uma faca, nos corta, nos fere no mesmo aço.
Abro janelas e portas, empurro o teto pro alto, que a tristeza cresce, precisa de muito espaço.
Palavras soltas, num eco,
fantasmas que me atormentam,
crepúsculos sombrios,
uma canção delicadíssima,
pedaços de lugares,
deslumbramentos tardios
e muitas, muitas tristezas
no vento.
A noite é escura e imensa
e num ritual quase macabro
ateamos fogo às vestes,
nos queimamos.
Depois morremos nus e ateus,
pensando em frias tardes azuis,
sem crença, sem luz, sem Deus.
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Jac. Rizzo - http://jacrizzo.blogspot.com/
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010
RONALDO FRANCO
Para Iô
Quando o amor se sabe amor
A pescaria é urgente:
De no silêncio nos falarmos
Com as palavras
No anzol do tempo.
Sem isca de conclusão
Sem histórias inventadas
Sem canoa do cotidiano
Sem remos no destino
Sem leme nos olhos
Ancorados no beijo.
Somos peixes
que piscam
à tentação de durar
na extensão
do nosso aquário particular...
Ronaldo Franco - http://ronaldofranco.blogspot.com/
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terça-feira, 24 de agosto de 2010
NELSON RODRIGUES
“Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.”
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RUY GODINHO – ENTÃO, FOI ASSIM?
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TELETEMA
(Antonio Adolfo/Tibério Gaspar)
Rumo estrada turva,
Sou despedida
Por entre lenços brancos
De partida
E em cada curva
Sem ter você
Vou mais só
Corro rompendo laços
Abraços, beijos,
E em cada passo
É você quem vejo
No telespaço
Pousada em cores
No além
Brando corpo celeste,
Meta – metade,
Meu santuário,
Minha eternidade,
Iluminando
O meu caminho
E fim
Dando a incerteza
Tão passageira,
Nós viveremos
Uma vida inteira,
Eternamente,
Somente os dois mais ninguém...
Eu vou de sol a sol,
Desfeito em cor,
Refeito em som,
Perfeito em tanto amor...
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Adonis Karan, produtor conhecido no meio televisivo – criador do Festival Universitário da Música Popular Brasileira, em 1968 (que revelou um naipe de compositores do calibre de Gonzaguinha, Aldir Blanc, Ivan Lins, Silvio da Silva Junior, César Costa Filho e outros), e do
atualíssimo Festival de Chorinho do Rio de Janeiro – apresentou ao seu amigo compositor Tibério Gaspar1 uma moça que ambos apelidaram carinhosamente de Turquinha. Logo Tibério e Turquinha começaram a se encontrar. “Ela dizia que gostava muito de mim, mas eu não botava fé nas suas juras de amor”, afirma Tibério. “Eu achava que era apenas mais um caso sem compromisso. Ela, no entanto, sem que eu soubesse, estava pretendendo um relacionamento mais duradouro. Esses desencontros são normais na vida.”2
Um dia, ainda no início do namoro, Turquinha ligou para Tibério e o convidou para sair. Era domingo. Tibério entediado deu uma desculpa alegando que tinha um compromisso na manhã de segunda e preferia ficar em casa. Sugeriu amavelmente um encontro na segunda à noite ou, talvez, na terça. Turquinha insistiu: “Poxa, mas eu queria tanto ver você hoje. Estou com saudades. Será que a gente não pode tomar um chopinho no Baixo Leblon, bater um papo e depois você volta pra casa?” Tibério arrematou: “Não vou, não. Não leve a mal, mas hoje não dá. Prefiro ficar por aqui até o sono chegar”. E realmente ficou em casa. Ela saiu com os amigos pro Baixo Leblon.
Alta madrugada, voltando pra casa em Copacabana, Turquinha pegou carona com um casal de amigos, espremida no banco de trás de um Karman Guia. Ao passar nas proximidades do Jardim de Alah, o carro sofreu um grave acidente.
Amanhecendo o dia, mais ou menos às seis da manhã, Tibério foi acordado pelo amigo Adonis Karan ao telefone: “Olha, eu tenho uma péssima notícia pra lhe dar. A Turquinha faleceu num desastre de automóvel. O corpo está na capela do Cemitério S. João Batista”.
A notícia chocou profundamente o poeta, que imediatamente se dirigiu ao local informado. Chegando lá, aproximou-se lentamente da urna e ficou a contemplar o rosto sereno da moça rodeado de flores. O pensamento em confusão reprisava freneticamente o diálogo que tivera na noite anterior. “Ela estava no caixão deitada, muito bonita. Não teve grandes escoriações. Não estava deformada. O Antonio Adolfo3 havia me dado uma música pra fazer letra. Aí eu cheguei à frente do caixão e comecei a versejar como se fora ela me dizendo:
Rumo, estrada turva, sou despedida
por entre lenços brancos de partida
em cada curva sem ter você vou mais só
corro, rompendo laços abraços beijos...”
Ali no ambiente triste do velório nasceu Teletema (gravada originalmente por Regininha para a novela Véu de Noiva, da TV Globo, em 1969, e, posteriormente, obteve o 2º lugar no II Festival Internacional de Atenas-Grécia numa performance inesquecível da cantora Evinha).
1 Tibério Gaspar Rodrigues Pereira 11/9/1943 Rio de Janeiro-RJ.
2 Entrevista concedida ao autor, em abril de 2006, em Brasília.
3 Antonio Adolfo Maurity Sabóia 10/02/1947 Rio de Janeiro-RJ.
Ruy Godinho
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010
domingo, 22 de agosto de 2010
JAC. RIZZO - Um pedaço de estrela
Preciso vir aqui, às vezes, para despejar uma impressão. Registrar uma emoção que um momento qualquer despertou em mim. E isso não é a poesia. Não aquela que sai de mim, num instante, sem qualquer motivo ou razão, espontânea, e é nada. Uma faísca apenas, que se desprende da grande labareda que sou eu, dentro de mim. A poesia é como o vento, sopra em qualquer direção e para nada. Vem, vai, retorna. É tempestade de vez em quando, ventania quase sempre, vendaval ou brisa leve.
O ator e agora cantor, Wagner Moura, foi iluminar o programa da Marília Gabriela e inundou de brilho, com o seu carisma, a minha tarde, neste sábado. Senti uma enorme necessidade de dizer alguma coisa dele. De falar nele e não 'de nada'. De escrever sobre como ele é encantador. E eu que tenho idéias esquisitas sobre muitas coisas, me deparei, de repente, com outras idéias que estão fora de padrão. E todas muito simples e singelas.
Quando começo a pensar em Deus e como Ele seria, esbarro sempre em constatações do tipo 'não sei' e não devo ter nenhum sentimento de culpa em relação a isso. Lembro das palavras de Mencken, aquele irreverente jornalista americano, da metade do século passado, que quando era inquirido sobre a sua total falta de crença religiosa, dizia que podia falar mal Dele e acusá-lo de todo tipo de crueldades e injustiças, pois Ele o vinha tratando bem e com grande polidez, até. Mas que não podia esquecer o modo bárbaro com que tratava a maioria do resto da humanidade.
Wagner jogou uma pequena, mas vigorosa luz sobre tanta obscuridade. Ele disse, só e apenas, que tudo poderia ser diferente se entendêssemos que Deus somos nós. E eu acrescento que tudo pode partir de nós. A maldade ou a bondade, a dor ou o prazer, a luz ou a escuridão. Tudo. Os céus e os infernos somos nós. Essa felicidade que desejamos eterna, não existe. E depois, nenhum espetáculo, por melhor que seja, pode durar para sempre. De minha parte, já demoli os altares todos, quebrei estátuas, apaguei imagens e encerrei as discussões com Deus. Qual seja o sentido da vida humana é coisa que ignoro. Às vezes, suspeito que não haja nenhum.
Mas a outra que há em mim - pois somos vários - me faz lembrar que sou, nesse universo imensurável, um pedaço daquela estrela que brilha no alto, na imensidão do infinito. E minha alma se enche de emoção! Talvez seja a parte divina se revelando em mim...Talvez..
Jac. Rizzo - http://jacrizzo.blogspot.com/
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sábado, 21 de agosto de 2010
Ninguém me Conhece: 4) Vlado Lima, 86% Mau
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CANÇÃO DOS POVOS DA NOITE - MULAS NO CORTE
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Mulas no corte
(Marcos Quinan)
Arranjo - Fernando Carvalho
Violões – Fernando Carvalho
Flautas - Roberto Stepheson
Ovinho/Triângulo - Marcos Amma
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010
RUY GODINHO - RODA DE CHORO
RODA DE CHORO – SÁBADO – DIA 21.08.10
ESPECIAL “A HISTÓRIA DOS REGIONAIS”
O RODA DE CHORO deste sábado, 21.08.10, vai ser especial. Durante todo o programa desvendaremos a história dos grupos regionais: sua origem, a razão do nome, a importância como formação musical para a música brasileira, a parceria das rádios com os regionais, a função tapa-buraco na programação das emissoras, os principais grupos e algumas curiosidades interessantes.
No repertório: Os Oito Batutas, Choro Carioca, Grupo Carioca, Regional do Benedicto Lacerda, Regional do Canhoto, Época de Ouro, Água de Moringa, Caraivanas e Nosso Choro.
Ouça pela internet:
Rádio Câmara, Brasília:
www.radio.camara.gov.br (rádio ao vivo), sábados, 12h.
Rádio Roquette Pinto, Rio de Janeiro: www.fm94.rj.gov.br
terças e quintas-feiras, 14h; quartas e sextas-feiras, às 2h.
Rádio Utopia FM, Planaltina-DF, quartas-feiras, 18h.
Produção e Apresentação: Ruy Godinho
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Ninguém me Conhece: 3) A Felicidade Segundo Élio Camalle
A este grupo pertence Élio Camalle. Cantor que emprestou seu talento aos bailes e bares da vida. Crooner, aprendeu a ser cronista do que viu, ouviu, viveu e cantou. E como cantou! O vasto repertório do cancioneiro brasileiro já saiu por seu gogó noites a fio qual fosse oração. Jovem, produziu-se, virou artista antes de sê-lo verdadeiramente. Mais estética que atitude. Mais gana que graça. Cabelos longos, roupas de estreia, poses pra fotografia, fumaça de cigarros, degraus e quedas; Camalle, imaturo, queria subir, como seus ídolos. Versátil, camaleônico, aprendeu a cantar o que era deles melhor que eles e a compor como eles. Nessa época aprendeu a fazer Mágicas. Acreditou que o sol degelaria o coração que já não saltasse; correu atrás de alheias morenas anarquistas, "pra lá de meia-noite, pra cá de Bagdá"; cantava um velho coração batendo dentro de um peito que pensava ser o seu, mas no seu batia um jovem coração de um anjo feliz e selvagem brincando de ser rei alucinado. Era bonita a roupa, pá, mas o rei estava nu.
Acreditou na magia fazendo truques. Sobreviveu Gabriela, mas Camalle tinha que se afastar dos ídolos, de forma doída, voltar-se a si e ao que queria que esse “si” fosse de fato. Entranhou-se. Estranhou-se. Embrenhou-se na selva do ser, e, assim, voltou ao início pra recomeçar, diferente. Doeu, como dói o parto, como dói a partida. Nessa época foi rebento, Cria, criança, brincante. Perdeu a cabeça no meio da rua. Viu seu crânio rolar pra dentro da boca de lobo, cheia de juízo. E ouviu sua voz, vinda "dos gritos de negros escravos", "dos povos aflitos de revolução". Pedia pra ser deixado só, não queria mais a influência, queria estar cheio dos sentimentos mais puros que habitavam seus guetos. Deixou que seu silêncio, que sofria de carência, falasse pelos cotovelos e contasse histórias sem pé nem cerebelo. Um silêncio que produzia "ruídos vilões de paixões abaladas, baladas em decibéis incompatíveis com as normas do condomínio" dos velhos astros, arrastando os pés e transbordando vasos sanguíneos. Lembrou-se das coisas que seu pai dizia sem dizer. E, pra não perder a juventude e resolver sua vida no Viaduto do Chá, deixou-se errar à vontade, como todo jovem. Errando, adolesceu e cresceu. Seu caminho era quase seu.
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quarta-feira, 18 de agosto de 2010
WANDA MONTEIRO - ESPELHOS
Que agonia de Sina
Esta
De dormir pela metade
De sono intercalado de espanto
Rasgado de tempo
Cansado de descanso
De sono cortado
Entrecortado
Assombrado
Por espelhos de alegorias
Fantasmas do ontem de Mim
De sono invadido
Por películas de
REALIDADE
Que escorrem
Encharcando o meu leito
Afogando o meu Sonho
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terça-feira, 17 de agosto de 2010
LEI 12.244 - BRASIL
Lei de número 12.244 - determina a obrigatoriedade de todas as instituições educacionais públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do Brasil a manter um acervo de livros na Biblioteca de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado. Cabendo a cada instituição determinar a ampliação deste acervo conforme sua realidade, bem como divulgar orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento das mesmas. O prazo para o cumprimento é de, no máximo, 10 anos.
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RUY GODINHO – ENTÃO, FOI ASSIM?
FEMININA
(Joyce)
- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
- Não é no cabelo, ou no dengo, ou no olhar, é ser menina por todo lugar.
- Ô mãe, então me ilumina, me diz como é que termina?
- Termina na hora de recomeçar, dobra uma esquina no mesmo lugar.
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Costura o fio da vida só pra poder cortar
Depois se larga no mundo pra nunca mais voltar
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- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
- Não é no cabelo, ou no dengo, ou no olhar, é ser menina por todo lugar.
- Termina na hora de recomeçar, dobra uma esquina no mesmo lugar.
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Prepara e bota na mesa com todo o paladar
Depois, acende outro fogo, deixa tudo queimar
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- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
- Não é no cabelo, ou no dengo, ou no olhar, é ser menina por todo lugar.
- Ô mãe, então me ilumina, me diz como é que termina?
- Termina na hora de recomeçar, dobra uma esquina no mesmo lugar.
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Então, foi assim...
Hermeto Pascoal costuma dizer que todo mundo canta. Que aquilo
que a gente chama de fala, nós estamos a cantar, assim como os passarinhos. “Eu tenho a percepção desde criança – minha mãe ficava conversando com as amigas dela, e eu ficava perto, dizia: Mãe, ela tá cantando!... Mãe dizia: ‘Não, estamos conversando meu filho, que é isso?!’ ” Para ilustrar o que chamou de o Som da Aura, o Bruxo1 gravou o disco Festa dos Deuses (1992), em que musicou um discurso do ex-presidente Collor (Fx. 5 Pensamento Positivo), o ator Mário Lago recitando um poema (Fx. 9 Três Coisas) e uma filha dele dando aula na piscina (Fx. 8 Aula de Natação). “Estão todos cantando, está tudo lá, afinado. Eu toquei o que eu escutei. Tanto que é a música deles – a música tem o nome deles.”2
A cantora, compositora e violonista Joyce3 concorda plenamente com Hermeto. Diz que um simples diálogo doméstico pode virar música. Pelo menos foi o que aconteceu com a música Feminina, criada por volta de 1976, início de 1977.
Joyce lembra que Danilo Caymmi era freqüentador assíduo de sua casa. “Ele ia muito lá... A minha filha mais velha, a Clarinha, era pequena, tinha quase 5 anos e não conseguia dizer o nome dele corretamente. Só o chamava de Daliu. Clara dizia: ‘Mãe, o Daliu ligou’. Ela atendia ao telefone e dizia: ‘Mãe, é o Daliu que quer falar com você.”4
Talvez, por conta das inúmeras viagens, Danilo passou um longo período sem aparecer por lá. Clara, sentindo sua falta, um belo dia chegou para a mãe e, com uma fala cantada de criança, perguntou: “Oh! Mãe, cadê o Daliu?” Ao que Joyce respondeu – não menos cantado: “Ele tá na Bahia tocando com a Gal.”
Nascia, no diálogo de saudade, a linha melódica de Feminina, onde na pergunta de Clara se encaixa: Ô Mãe, me explica, me ensina. E na resposta de Joyce: Não é no cabelo, no dengo ou no olhar.
“Quando a música pintou já veio com essa frase musical”, explica Joyce. “Aí foi só ir criando a história, tirando tudo o que não era elefante – como diz o escultor – e a coisa foi tomando esse rumo.”
Se a melodia nasceu do diálogo, a letra teve como foco a necessidade de Joyce em responder à sua mãe que a criticava por não ser feminina. “Aí já sou eu me explicando lá com a minha mãe que passou a minha infância toda dizendo que eu não era feminina, que eu não gostava de roupa de organdi. Depois quando eu fiquei adolescente, que eu não gostava de salto alto, de batom. Tinha essa coisa de que isso não é feminino, essa roupa não é uma roupa feminina e não sei mais o quê. Isso era pra provar pra ela, pra minha mãe, que – aí o Freud – que ser feminina é outra coisa. Que não precisa você ser perua para ser feminina. Você pode ser feminina de outra maneira. Então, nessa música, tem eu falando pra minha mãe, tem a minha família falando pra mim.”
Em seu processo criativo, Joyce sempre compõe primeiro a música. “É uma conexão direta com Deus. Eu pego o violão e sempre sai alguma coisa. Na vertical a inspiração é imediata e funciona com a maior facilidade do mundo. Letra já é uma coisa que dá um pouquinho mais de trabalho. E quando eu faço letra eu começo, geralmente, pela sonoridade da música, o que as sílabas estão sugerindo. Depois, então, a música vai tomando o seu rumo. Aí vem o outro processo. Você vai tirando tudo o que não serve pra história. E a partir dos sons você vai contando essa história, que às vezes toma um caminho inesperado. No caso de Feminina, foi assim.”
Feminina foi gravada em diversos momentos da carreira de Joyce. Em 1980, no LP Feminina; em 1989, no LP Joyce ao Vivo; em 1994, no CD Revendo Amigos; em 1996, no CD The Essential Joyce – 1970-1996 e, em 2004, no DVD Banda Maluca ao Vivo. Há ainda o registro em 1979, do Quarteto em Cy, no LP Quarteto em Cy em 1.000 Kilohertz.
“E eu acho muito engraçado é que as pessoas dizem: ‘Poxa, essa música explica tudo’. E pior que explica mesmo. O negócio de ser feminina, o que é ser feminina, o que não é ser feminina. Quer dizer: não é no cabelo, no dengo ou no olhar. É outra coisa. E no fim das contas é uma mandala, porque termina na hora de recomeçar”, conclui Joyce, cheia de feminilidade.
1 Apelido como é conhecido Hermeto Pascoal.
2 www.alomusica.com.br acessado em junho de 2007.
3 Joyce Silveira Moreno 31/01/1948 Rio de Janeiro-RJ.
4 Entrevista concedida ao autor, em junho de 2007, em Brasília.
Ruy Godinho
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