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quarta-feira, 29 de março de 2017
terça-feira, 28 de março de 2017
O dramaturgo
Autor muito aclamado,
suas peças sempre faziam sucesso.
Prêmios e
reconhecimento por onde passava. Livros publicados, palestras em universidades,
seminários, uma unanimidade.
Sempre que lhe
perguntavam de qual personagem gostava mais, respondia: ora um ora outro.
Mas na verdade a
preferida nunca dissera a ninguém, guardava para si a grande paixão que sentia
pela atriz de televisão fracassada, criada para um dos textos de que mais
gostava. Um monólogo existencialista engraçado e denso ao mesmo tempo. Seu trabalho
menos aplaudido e, em sua opinião, a melhor encenação de todos eles.
A atriz que viveu a
fracassada abandonara o teatro, seduzida por uma religião. Nunca mais a vira.
Numa viagem com a
trupe, começou a ter sonhos recorrentes com a personagem preferida. Sua melhor
criação passava, correndo de uma multidão, na frente do hotel.
A cada sonho
distinguia outros atores representando, eram seus perseguidores. O único rosto
que identificava era o da atriz que a interpretara.
Resolveu; naquela
noite, ficaria sem dormir para quebrar a sequencia daqueles sonhos.
Alta madrugada; estava
lendo quando ouviu a gritaria e as batidas na porta; era ela pedindo socorro.
Era ela querendo
fugir da ficção.
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O dramaturgo
segunda-feira, 20 de março de 2017
terça-feira, 14 de março de 2017
Quase vida
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Não sabia viver de
outro modo, queria o mundo todo, tudo de uma vez. Ávido. Não parava de querer e
não percebia o que ia se formando e crescendo, como uma aura acompanhando o
corpo.
A mulher era
especial, aquela lua também. Ambas fascinavam no imediatismo do momento, mas
nenhuma durava em seu sentimento e na lembrança. O enlevo só alimentava seu
prazer e mais nada.
Passado, isso é
bobagem. Futuro, nem existe ainda, dizia e continuava ávido como se apenas o
imediatismo significasse viver.
Cada dia de um jeito,
cada dia com uma pessoa que ele encantava com sua beleza. Cada dia com o vazio aumentando
como se fosse uma substância.
Numa noite percebeu-se
diferente, quis lembrar da aurora e do sentimento pela mulher que amou num amanhecer
e não conseguiu.
Sentiu a voracidade
do presente que o envolvia, dominando, ditando apenas procedimentos, pedindo
mais para crescer e só ai entendeu sua quase vida.
Era um corpo apenas.
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Quase vida
segunda-feira, 13 de março de 2017
sábado, 11 de março de 2017
Armou o cão
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Estava sozinho em
casa, sentado na poltrona de couro, com a espingarda entre as pernas.
Fechou os olhos
percorrendo as lembranças, identificando cada momento bom, cada decepção.
Sentiu saudade.
Como se fosse um
ritual, abriu a caixa no colo, escolheu a ferramenta e começou a cuidar da
arma. Desmontou-a peça por peça, lixou as pequenas ferrugens, limpou com a
flanela, passando óleo fino em cada encaixe.
Montou e desmontou
duas vezes, conferindo a precisão do funcionamento. Levantou-se e foi buscar o
carregador de cartuchos manual, escolheu um e calibrou com gestos seguros e
carga reforçada.
Terminou a preparação,
guardou o material; tomou um copo d’água, tinha a boca muito seca. Olhou contra
a luz o cartucho como se o medisse e lhe conferisse uma missão.
Pensou na mulher. Quando
chegasse, o quanto se aborreceria.
Desencaixou os dois
canos da espingarda e carregou o esquerdo, depois resolveu e mudou o cartucho
para o direito.
Um tiro só bastaria.
Depositou a arma
carregada no braço da cadeira, levantou-se e ligou a televisão no último
volume.
Voltou, sentou-se,
reviveu alguns momentos, armou o cão e respirou profundamente antes de puxar o
gatilho.
Atirou no tubo da TV.
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quarta-feira, 8 de março de 2017
Dentro da Palavra
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terça-feira, 7 de março de 2017
Guerra sem fim
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Eram medíocres e inseparáveis no convívio e nos conflitos; o amor era, o ódio também. Um e outro conviviam com muitas diferenças e se precisavam.
Vaidosos, cuidavam muito das aparências. Disfarçavam-se maquiando o rosto da harmonia e tinham cuidado ao afagar o perdão; de todos o mais casmurro e falso, anotava tudo para pequenas chantagens futuras.
O egoísmo ora se juntava ao amor, ora com o ódio. A coragem, totalmente malvista, nunca se despia para nenhum deles.
A compreensão, coitada, bem que se esforçava para explicar as razões de cada um, raramente conseguia. A mentira frequentava a cama dos dois, lânguida e discretamente metida.
O desejo era um aliado, ao mesmo tempo libertário, imediatista e despudorado. O único que conseguia equilibrar, mesmo que por pouco tempo, o que do outro havia em cada um.
Promíscuos com suas alianças temporárias, seus instantes de trégua e dissimulações, viviam na guerra sem fim que mora dentro dos seres.
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Eram medíocres e inseparáveis no convívio e nos conflitos; o amor era, o ódio também. Um e outro conviviam com muitas diferenças e se precisavam.
Vaidosos, cuidavam muito das aparências. Disfarçavam-se maquiando o rosto da harmonia e tinham cuidado ao afagar o perdão; de todos o mais casmurro e falso, anotava tudo para pequenas chantagens futuras.
O egoísmo ora se juntava ao amor, ora com o ódio. A coragem, totalmente malvista, nunca se despia para nenhum deles.
A compreensão, coitada, bem que se esforçava para explicar as razões de cada um, raramente conseguia. A mentira frequentava a cama dos dois, lânguida e discretamente metida.
O desejo era um aliado, ao mesmo tempo libertário, imediatista e despudorado. O único que conseguia equilibrar, mesmo que por pouco tempo, o que do outro havia em cada um.
Promíscuos com suas alianças temporárias, seus instantes de trégua e dissimulações, viviam na guerra sem fim que mora dentro dos seres.
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domingo, 5 de março de 2017
Dentro da Palavra
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sábado, 4 de março de 2017
Bela, séria e sensual
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Transitava por ali
todos os dias e naquele, quando foi passando, notou pela primeira vez. Era bela
e sensual. Parecia que olhava todos pela fresta da venda com indiferença.
Imóvel e séria.
Sentiu ser olhado
como se lhe copiassem o corpo e seguiu em frente. Aquela sensação o acompanhou
até o momento de atender seu cliente.
Começou a ouvir vozes
todas as vezes que passava por ela. No começo não entendia, pensou loucura. Seriam
poemas declamados iguais aos que seu primo fazia? Não, não eram.
Familiarizado com a
voz e, mesmo no meio do barulho da rua, foi conseguindo entender aos poucos.
Eram leis declaradas uma por uma, com todas as mudanças, parágrafos, artigos e
códices.
Loucura. Olhava os
passantes tentando comprovar se também estavam ouvindo aquilo.
Parecia que não.
Em muitos dias ficou
observando. Ela praticamente ensinava as leis. A inflexão, as pausas soavam de
um jeito diferente conforme a roupa e a aparência do transeunte.
Não podia ouvir a
palavra doutor ou ver alguém de terno e gravata que se calava
abruptamente. Esperava o passante passar, voltando a declarar suas excelências.
Era por isso que,
todos os dias, na porta do Palácio da Justiça, o guardador de carros urinava nos
pés da estátua bela, séria e sensual.
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séria e sensual
sexta-feira, 3 de março de 2017
Canção dos Povos da Noite
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