quarta-feira, 27 de julho de 2016

Apartação


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Campos altos, campos baixos

Quantas crias eu descubro

Contando todo gado

Reunido nesse outubro

 

Campos altos, campos baixos

É hora da castração

De refinar a malhada

Fazendo a marcação

 

Aproveitar o estival

O seco e seu conteúdo

Escutar muita história

De vaqueiro façanhudo

 

Sonhar com quem me espera

Ouvir chula a noite inteira

Debaixo do estrelado

Ao redor duma fogueira

 

 

 

Doutrina

 

“Entrelaço cada modo

Num pedaço dessa vida

Por isso que o meu laço

É meu ponto de partida

terça-feira, 26 de julho de 2016

Estalo de galho aturiá


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Tomei gole da branquinha

Terminado o salgamento

A cambada de pescada

Temperei com bem coentro

 

No jirau colhi jambu

Trouxe cuia de farinha

Aturiá estalou no fogo

Toda seiva que retinha

 

Nessa hora noutro gole

Saudei Boaventura

Dei um tanto para Mera

Agradecendo a fartura

 

Assim, sempre que for usar

Fogo de galho aturiá

Não se esqueça de lembrar

Quando ouvir ele estralá

 

De cada um dos vaqueiros

Que vivem no sagrado

Zelando pelo destino

Desse mundo judiado

 

 

 

Doutrina

 

Barranco de canarana

Toiças de mururé

Meu coração descuidado

Nunca sabe o que qué”

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Benzedura


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A verdade inventada

Retirou da estatura

Destruiu todo legado

Que tramava a usura

 

Pediu proteção pra casa

Benzeu de olhar olhado

Reforçou a mestiçagem

Remorso virou de lado

 

Desejou que o mal ficasse

em quem o perseguia

Rezou foi dentro da vida

Do bem que ali erguia

 

Chamou parte do querer

E também muita fartura

Um tanto maior da lei

Que o amor mensura

 

 

 

Doutrina

 

Veneno tiro com as mãos

Panema com pensamento

É emprestar a fala

E fazer o chamamento”

sábado, 23 de julho de 2016

Gota d’água

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Gota d’água

 

 

Caviana busco o rumo

Mexiana onde é o mar

Quando será o desafio

Que o vaqueiro quer olhar

 

É renda a borda branca

Que vejo bem acolá

Ou então é o bravio

Preparando para lutá

 

Seja qual for o caminho

Onde esteja meu valor

Sou água bem pequenina

Nascida de uma flor

 

 

 

Doutrina

 

Soberana água do mar

Que a terra vem beijar

Onde brabeza de rio

Todo dia vem morar

 

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Vaqueiro Bidó

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Vaqueiro Bidó

 

 

Pedi que benzesse tabaco

Acendi seu cheiro no ar

Espargindo a fumaça

Esperei quem quis chegar

 

Chegou vaqueiro Bidó

Escondendo o que não vi

Veio vindo bem sereno

No fumego tauari

 

Cantou sua doutrina

Curou meu espinhaço

Com um grito no ouvido

E a força dum abraço

 

 

 

Doutrina

 

Imaginário não está preso

Não tem traço que o diga

Entrelaçam é a história
Que vive em cada vida

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O tempo

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O tempo

 

 

Parece até que foi ontem

Fui tirar o pau do santo

Quando ela indo embora

Me legou somente pranto

 

O tempo tem seu veneno

Demora dói devagar

Distingue qualquer verdade

Que a razãoquer calar

 

Também contém a cura

Que vem bem lentamente

Desmanchar a desventura

Apagando o latente

 

Um dia sentimos amor

Viver no veneno do tempo

Em outro afogamos dor

Na cura que nele tem dentro

 

 

 

Doutrina

 

São verdades não histórias

Porque são a própria vida

Quem no mundo amou

Se curou duma ferida

Chula do vaqueiro Bité


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A chula marajoara

Ressoando pelas margens

Embalou braço de rio

Pras lagoas deu aragens

 

De cada acontecimento

Fica muito pra cantar

Tantas partes do momento

No viver de cada olhar

 

Envinha de pra longe

Por aqui eu quis passar

E contar minha história

Que é também a do lugar

 

Vivo como o desafio

Que o rio faz ao mar

Sou menor do que a vida

Mas não canso de lutar

 

Minha mãe não me pariu

Se foi antes de eu chegar

Na morte dela que vim

Sou nascido de um findar

 

Fui criado pela lida

Na presença do meu pai

Cavalguei sua desdita

Desde meu primeiro ai

 

Meu pai se foi numa cheia

Na tristeza afogado

Tempo ainda deu menino

Sem madrasta ou pecado

 

Numa mão lavrei um remo

Na outra trancei um laço

Nos pés fiz meu cavalo

A canoa fiz no braço

 

Menino eu fui vaqueiro

Laçando fui coragem

Remando chorei baixinho

No rumo da minha margem

 

Pelas águas fui crescendo

Recebendo o encantado

Que guiava o caminho

Como estando ao meu lado

 

Nos retiros eu cuidei

O tanto de ser amado

Encantei moça donzela

Muita mulher de casado

 

Minha vida em rodopio

Foi em volta do patrão

Nos pastos segui o fio

Virei, sendo, seu ferrão

 

 

 

Doutrina

 

Eu sou balanço

Eu sou de ouro

Eu venho no jogo do mar

O meu cavalo é maresia

Eu sou balanço

Eu moro no fundo do mar

 

(*) Domínio Público Adaptado

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Pegou panema

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Pegou panema

 

 

Não soube se valentia

Podia ter seu valor

Tonteado não entendia

Sentia um torpor

 

A caça sumiu pro lado

Sem ir pra lugar nenhum

Em volta tudo calado

Um cheiro tal qual bodum

 

No braço câimbra subiu

A mira foi enviesada

No corpo triscou o frio

A arma parou falhada

 

No caminho asselvajado

Foi onde pegou panema

Perdeu a alma no mato

Esqueceu como se rema

 

Encontrou-se mais de mês

Na alvura duma rede

Sem lembrar o que sabia

Sentindo muita sede

 

 

 

Doutrina

 

“O real tem seu espaço

Para imaginar a vida

Especado é que não pode

Senão fica ela perdida”