.
.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
sábado, 26 de outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
PRELÚDIO - MQ
- à amiga distante
-
imagino-te em
vestido solto
sentada numa poltrona
de meias
grossas
e pés
na janela
num fim
de tarde frio
bebendo poesia
e vinho
imagino na tua pele
e olhos
orvalhados
e um
momento de fingido pudor
se aninha em
teu colo
e uma gota
de vinho
falamos de nava...
e canto
poemas antigos
- meus versos de procura
-
carregando a angustia
imagino tua embriaguez
e também
bebo saudade
nas palavras
sem sujeição
- é tua alma
na minha –
na esquina
nova do mundo
a distancia da tua presença
e a intensidade
dos poetas
ouço villa lobos
lembro ovalle
e sinto saudades ...
RUY GODINHO - RODA DE CHORO
.
O programa Roda de Choro deste sábado traz no
primeiro bloco o CD Caminhos do Choro, do flautista Alexandre Weffort, lançado em 2002.
No 2º bloco o
destaque vai para o pianista e compositor paulista Laércio de Freitas e o som do LP São Paulo no balanço do choro,
de 1980.
Em
seguida destaca o encontro de Mário Sève
(flauta/sax) com Marcelo Fagerlande
e o CD Bach & Pixinguinha, lançado em 2001.
No bloco do Choro Cantado,
teremos a revisita do cantor e compositor Mineiro Tadeu Franco e o som do CD Orlando, lançado em 1995.
E para finalizar o som do CD Dançando
nas nuvens, do saxofonista/flautista e compositor carioca Mauro Senise.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
Retransmitido por 148 rádios parceiras
.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
terça-feira, 22 de outubro de 2013
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
domingo, 20 de outubro de 2013
sábado, 19 de outubro de 2013
IBGE apresenta indicadores da cultura
.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentou nesta sexta-feira (18/10) o estudo Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2007-2010, realizado em parceria com o Ministério da Cultura, com o objetivo de organizar e sistematizar informações para a construção de indicadores relacionados ao setor cultural brasileiro.
Esta é a terceira edição da análise, que utiliza dados do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), da Pesquisa Industrial Anual-Empresa (PIA Empresa), da Pesquisa Anual de Comércio (PAC), da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) e dos gastos públicos com a cultura de 2007 a 2010, além da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2007 a 2012.
Foi identificado que as famílias gastaram, de 2007 a 2010, em média, 8,6% do seu orçamento mensal (equivalentes a R$ 184,57) em produtos e serviços relacionados à cultura, sendo que os gastos com telefonia representam a maior parte desse montante: R$ 78,26, ou 42,4% da despesa com cultura. A seguir está a aquisição de eletrodomésticos (R$ 28,89, ou 15,7%) e só em terceiro lugar as atividades de cultura, lazer e festas (R$ 26,00, ou 14,1%).
“A telefonia possui grande peso, independentemente do recorte considerado. Quando não se leva em conta este grupamento, a aquisição de eletrodomésticos representa 27,0% da despesa com cultura, enquanto as atividades de cultura, lazer e festas equivale a 24,5%”, informa o relatório.
Trabalhadores da cultura – O número de trabalhadores vinculados ao setor cultural alcançou 3,7 milhões em 2012, o equivalente a 3,9% do total de ocupados no Brasil. A região Sudeste apresentou a maior proporção em todo o período (4,5% em 2012), sendo que São Paulo foi o Estado com a maior participação de trabalhadores em atividades culturais na população ocupada: 5,1%, o equivalente a 1,1 milhão de pessoas.
Em 2007, 1,4 milhão das pessoas envolvidas em atividades culturais possuíam carteira assinada (34,4% do total de ocupados na cultura). Em 2012, esse número chegou 1,5 milhão (39,8% do total de ocupados). Segundo o IBGE, a maior participação de trabalhadores com carteira assinada no setor cultural influenciou a elevação do percentual de contribuintes para a Previdência, de 46,3% em 2007 (1,9 milhão de pessoas) para 55,8% em 2012 (2,0 milhões de trabalhadores).
Já o rendimento médio real mensal dos trabalhadores da cultura foi estimado em R$ 1.258 em 2007 e em R$ 1.553 em 2012, valores superiores aos rendimentos da população ocupada no total das atividades produtivas (respectivamente, R$ 1.213 e R$ 1.460). São Paulo e Rio de Janeiro foram as unidades da federação analisadas onde a população ocupada em atividades culturais recebia mais (R$ 2.093 e R$ 1.996, respectivamente), mais que o dobro do salário médio recebido pela população ocupada na cultura no Ceará (R$ 952), menor valor estimado para o salário médio mensal.
Despesas públicas - Os gastos governamentais com a cultura nas esferas federal, estadual e municipal totalizam 0,3% do total das despesas consolidadas da administração pública em cada ano do período analisado (2007 a 2010). Esses valores foram de R$ 4,4 bilhões em 2007 e R$ 7,3 bilhões em 2010.
O governo federal ampliou seu volume de gastos no setor cultural, de R$ 824,4 milhões em 2007 para R$ 1,5 bilhão em 2010. É a esfera governamental menos representativa (18,7% em 2007 e 20,5% em 2010), mas os dados coletados são referentes apenas às despesas orçamentárias (Orçamento Fiscal e da Seguridade Social) e não incluem os referentes à Lei Rouanet.
Os governos estaduais destacaram-se na participação dos gastos públicos com cultura, totalizando R$ 1,4 bilhão (32,3%) em 2007 e R$ 2,5 bilhões (34,9%) em 2010. De 2007 a 2010, São Paulo aumentou suas despesas em cultura de R$ 470,6 milhões para R$ 992,9 milhões; o Rio de Janeiro de R$ 77,5 milhões para R$ 163,6 milhões; e o Distrito Federal de R$ 65,9 milhões para R$ 152,7 milhões.
A participação dos municípios caiu de 49,0% em 2007 (R$ 2,2 bilhões) para 44,5% em 2010 (R$ 3,2 bilhões), mas eles continuam sendo os principais entes governamentais no que diz respeito ao total de gastos públicos com cultura. “A maior importância dos municípios pode ser explicada pela proximidade desta instância com a população e suas respectivas demandas culturais, por parte de gestores, produtores e consumidores de bens e serviços culturais”, explica o documento.
Clique aqui para acessar o estudo na íntegra.
Fonte: Mônica Herculano - Diretora de redação de Cultura e Mercado e diretora de conteúdo do Cemec.
.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentou nesta sexta-feira (18/10) o estudo Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2007-2010, realizado em parceria com o Ministério da Cultura, com o objetivo de organizar e sistematizar informações para a construção de indicadores relacionados ao setor cultural brasileiro.
Esta é a terceira edição da análise, que utiliza dados do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), da Pesquisa Industrial Anual-Empresa (PIA Empresa), da Pesquisa Anual de Comércio (PAC), da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) e dos gastos públicos com a cultura de 2007 a 2010, além da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2007 a 2012.
Foi identificado que as famílias gastaram, de 2007 a 2010, em média, 8,6% do seu orçamento mensal (equivalentes a R$ 184,57) em produtos e serviços relacionados à cultura, sendo que os gastos com telefonia representam a maior parte desse montante: R$ 78,26, ou 42,4% da despesa com cultura. A seguir está a aquisição de eletrodomésticos (R$ 28,89, ou 15,7%) e só em terceiro lugar as atividades de cultura, lazer e festas (R$ 26,00, ou 14,1%).
“A telefonia possui grande peso, independentemente do recorte considerado. Quando não se leva em conta este grupamento, a aquisição de eletrodomésticos representa 27,0% da despesa com cultura, enquanto as atividades de cultura, lazer e festas equivale a 24,5%”, informa o relatório.
Trabalhadores da cultura – O número de trabalhadores vinculados ao setor cultural alcançou 3,7 milhões em 2012, o equivalente a 3,9% do total de ocupados no Brasil. A região Sudeste apresentou a maior proporção em todo o período (4,5% em 2012), sendo que São Paulo foi o Estado com a maior participação de trabalhadores em atividades culturais na população ocupada: 5,1%, o equivalente a 1,1 milhão de pessoas.
Em 2007, 1,4 milhão das pessoas envolvidas em atividades culturais possuíam carteira assinada (34,4% do total de ocupados na cultura). Em 2012, esse número chegou 1,5 milhão (39,8% do total de ocupados). Segundo o IBGE, a maior participação de trabalhadores com carteira assinada no setor cultural influenciou a elevação do percentual de contribuintes para a Previdência, de 46,3% em 2007 (1,9 milhão de pessoas) para 55,8% em 2012 (2,0 milhões de trabalhadores).
Já o rendimento médio real mensal dos trabalhadores da cultura foi estimado em R$ 1.258 em 2007 e em R$ 1.553 em 2012, valores superiores aos rendimentos da população ocupada no total das atividades produtivas (respectivamente, R$ 1.213 e R$ 1.460). São Paulo e Rio de Janeiro foram as unidades da federação analisadas onde a população ocupada em atividades culturais recebia mais (R$ 2.093 e R$ 1.996, respectivamente), mais que o dobro do salário médio recebido pela população ocupada na cultura no Ceará (R$ 952), menor valor estimado para o salário médio mensal.
Despesas públicas - Os gastos governamentais com a cultura nas esferas federal, estadual e municipal totalizam 0,3% do total das despesas consolidadas da administração pública em cada ano do período analisado (2007 a 2010). Esses valores foram de R$ 4,4 bilhões em 2007 e R$ 7,3 bilhões em 2010.
O governo federal ampliou seu volume de gastos no setor cultural, de R$ 824,4 milhões em 2007 para R$ 1,5 bilhão em 2010. É a esfera governamental menos representativa (18,7% em 2007 e 20,5% em 2010), mas os dados coletados são referentes apenas às despesas orçamentárias (Orçamento Fiscal e da Seguridade Social) e não incluem os referentes à Lei Rouanet.
Os governos estaduais destacaram-se na participação dos gastos públicos com cultura, totalizando R$ 1,4 bilhão (32,3%) em 2007 e R$ 2,5 bilhões (34,9%) em 2010. De 2007 a 2010, São Paulo aumentou suas despesas em cultura de R$ 470,6 milhões para R$ 992,9 milhões; o Rio de Janeiro de R$ 77,5 milhões para R$ 163,6 milhões; e o Distrito Federal de R$ 65,9 milhões para R$ 152,7 milhões.
A participação dos municípios caiu de 49,0% em 2007 (R$ 2,2 bilhões) para 44,5% em 2010 (R$ 3,2 bilhões), mas eles continuam sendo os principais entes governamentais no que diz respeito ao total de gastos públicos com cultura. “A maior importância dos municípios pode ser explicada pela proximidade desta instância com a população e suas respectivas demandas culturais, por parte de gestores, produtores e consumidores de bens e serviços culturais”, explica o documento.
Clique aqui para acessar o estudo na íntegra.
Fonte: Mônica Herculano - Diretora de redação de Cultura e Mercado e diretora de conteúdo do Cemec.
.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
RUY GODINHO - RODA DE CHORO
;
O programa Roda de Choro deste sábado traz no
primeiro bloco Capitão Miguel Rangel,
compositor nascido em 1845;
No 2º bloco o
destaque vai para o flautista paulista Ricardo
Kanji e o som do CD Não tem choro - Ricardo Kanji Chorando com os amigos, lançado
em 2004.
Em
seguida destaca o som do CD Presença, do quarteto paulistano
Quaternaglia, lanado em 2004.
No bloco do Choro Cantado,
teremos o virtuose pianista, compositor e intérprete pernambucano Zé Manoel e seu primeiro CD, lançado em
2011.
E para finalizar o som do CD Pirralho,
do cavaquinistae compositor cearense Pardal.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
Transmitido pela Rádio Câmara FM 96,9 Mhz - Sábado 12h [Brasília – DF] (www.radio.camara.gov.br)
Retransmitido por 148 rádios parceiras
;
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Zé Bugio - MQ
,
O grupo
se reuniu naquela noite. Combinaram resistir à sobranceria da coroa. Dali
saíram emissários para todo lugar na urgência dos fatos.
De
couto, no camboqueiro, às margens do Bujaru, Zé Bugio, sungando as calças toda
hora, esperava notícias com os homens reunidos. O lugar, vigiado em todas
horas, fervilhava de fugidos, tapuios, cafuzos e os curibocas enviados do Acará.
Estavam prontos, era a força formada em poucas armas tomadas em escaramuças,
nos caminhos e na revolta fermentada pela exploração portuguesa.
O
mensageiro foi chamado de madrugada para levar a mensagem, passou mal e finou
no caminho. Pediu ao remeiro entregar a carta mas não deu tempo de contar do
conteúdo. Começou a falar de um grande ataque para assumir a província, mas não
conseguiu completar, ficou sem falar do dia, e dos procedimentos.
Zé
Bugio, ao receber a mensagem, pediu ao portador que a lesse, mas o rapazote não
sabia. Ninguém ali sabia ler para desespero do destemido Zé Bugio.
Juntou
um grupo de seguidores, que municiou com as melhores armas para buscar no
engenho, léguas acima, quem soubesse, qualquer pessoa, fosse escravo ou não,
por vontade ou à força se preciso.
Ele
mesmo ficou andando de um lado para outro, o dia inteiro e, à noite, passou
horas em volta da fogueira olhando as letras daquela caligrafia bem traçada;
vez em quando esbravejava por ninguém saber ler. Dali não arredou até
amanhecer.
Gastou a
madrugada chamando, ora um, ora outro, como se inventariasse as condições de
cada e suas armas. Uma inutilidade aquilo, pensava nos homens, consumia-se
naquela providência sem saber o que fazer do tempo, na impaciência de esperar.
O grupo
se reuniu naquela noite. Combinaram resistir à sobranceria da coroa. Dali
saíram emissários para todo lugar na urgência dos fatos.
De
couto, no camboqueiro, às margens do Bujaru, Zé Bugio, sungando as calças toda
hora, esperava notícias com os homens reunidos. O lugar, vigiado em todas
horas, fervilhava de fugidos, tapuios, cafuzos e os curibocas enviados do Acará.
Estavam prontos, era a força formada em poucas armas tomadas em escaramuças,
nos caminhos e na revolta fermentada pela exploração portuguesa.
O
mensageiro foi chamado de madrugada para levar a mensagem, passou mal e finou
no caminho. Pediu ao remeiro entregar a carta mas não deu tempo de contar do
conteúdo. Começou a falar de um grande ataque para assumir a província, mas não
conseguiu completar, ficou sem falar do dia, e dos procedimentos.
Zé
Bugio, ao receber a mensagem, pediu ao portador que a lesse, mas o rapazote não
sabia. Ninguém ali sabia ler para desespero do destemido Zé Bugio.
Juntou
um grupo de seguidores, que municiou com as melhores armas para buscar no
engenho, léguas acima, quem soubesse, qualquer pessoa, fosse escravo ou não,
por vontade ou à força se preciso.
Ele
mesmo ficou andando de um lado para outro, o dia inteiro e, à noite, passou
horas em volta da fogueira olhando as letras daquela caligrafia bem traçada;
vez em quando esbravejava por ninguém saber ler. Dali não arredou até
amanhecer.
Gastou a
madrugada chamando, ora um, ora outro, como se inventariasse as condições de
cada e suas armas. Uma inutilidade aquilo, pensava nos homens, consumia-se
naquela providência sem saber o que fazer do tempo, na impaciência de esperar.
O dia clareava, já nascendo mormacento, quando ouviu, enfim, o barulho
dos homens, chegando com o feitor do engenho, amarrado pelas duas mãos num pau
atravessado no pescoço, como se canga fosse. Vinha coxeando, com um riso
esquecido no canto da boca, de cabeça erguida, numa altivez que dava raiva;
limpava no ombro, toda hora, o filete de sangue que escorria no canto da boca.
Trocaram ásperas palavras no meio da roda formada,
Zé Bugio estendeu o papel que o feitor leu quase à força, tal qual estava
escrito; a convocação era para que tomassem pelo Acará, o rumo de Murutucu em
grupos poucos homens, levando toda arma e toda pólvora que conseguissem,
terçados, cacetes e o que mais tivessem, deveriam chegar em dois dias, iam
tomar a cidade de surpresa.
Ali mesmo, depois de ler a mensagem, o feitor foi
morto a pancadas. Um sofrimento que lhe impingiram num ritmado igual se tivesse
no tronco, vingando castigos e maus tratos.
Traçaram o rumo, espaçando a saída de cada grupo, na recomendação de
margear os caminhos e evitar serem vistos ou qualquer confronto. O prazo de se
juntarem de novo era o ponto da Biqueira onde as canoas esperavam para atravessarem
o Acará.
Zé Bugio seguia com o negro Fitada e João Camboa quando este exclamou:
–
Leu
errado! O desgraçado leu errado, sabia que ia morrer.
Disse como se tivesse
certeza e contagiou os companheiros. Zé Bugio esbravejou em demônios, travou a
marcha, enquanto pensava e tomava a decisão de seguir, mesmo que o rumo fosse o
contrário. Pensou alto que a cidade não ia sair do lugar, por qualquer lado que
chegassem ia ser igual, estavam prontos
para qualquer luta.
Mal pensamento restou, e
se os remeiros estivessem esperando na baía e o combate que lhes destinaram
fosse na armada? Avaliava nervoso, caminhando, mesmo na indecisão, quando ouviu
o barulho de resfolego de animal e a voz, parecendo de mulher.
Aviou João Camboa, ladeando pela esquerda; qual foi a surpresa; era a
viúva Teodora e a mucama no caminho com mais dois negros velhos, pessoa tida
como corajosa, dona daquelas terras por herança de finado marido, era
respeitada por todos e temida por muitos.
Assustadas, mas sem esboçar o menor sinal de impor galope nos animais,
ficaram caladas até Zé Bugio estender o papel e pedir que a sinhá lesse. Ela o
fez se empalidecendo muito, confirmando na sua leitura as suspeitas de que o
feitor tinha mentido, deviam era margear pelo outro lado, até avistar as canoas.
Um sinal de cabeça e um tapa nas ancas do cavalo foi o agradecimento. A
raiva dominou a hora no esbravejar do cabano, os três se puseram de novo no
mato, não sabiam o que fazer para juntar os grupos espalhados e ficaram mais
afobados ainda com o comentário de Fitada.
–
Cunheço ela!
Tá mintindo... mais quê tá...
Zé Bugio pediu marcha, a
cidade estava lá, atacava por onde fosse.
,
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Pantaco e Buiú - MQ
.
Vinha no rebojo do braço
de rio que crescia e minguava solavancando as águas, remoinhando como numa
bateia, fúria de vento encanando rodopio, hora tardia de margear, pensou antes
de avistar o mandiocal.
A riqueza estava ao seu
alcance, podia tocá-la; com a moeda entre os dedos, pensativo, passou o polegar
no serrilhado como se conferisse o valor, pôs-se na direção até enxergar a
casa.
O silêncio conferiu,
todos dormindo; no claro da noite escolheu onde esperar a melhor hora. Na aurora
ouviu os primeiros movimentos, se aproximou vendo Vicente Martins Lopes sentado
na rede calçando as botas, subiu dois degraus da varanda e disparou. O
estampido ressoou pela casa na primeira hora da manhã, quem correndo chegou
perto ainda viu o último sangue esguichando, estava morto.
Pantaco, sem que ninguém
o visse, entrou pelos matos, mesmo caminho que veio, atravessou a calma das
águas naquela hora, ia buscar sua riqueza com os irmãos do morto.
Vicente Martins Lopes era
o primogênito, filho de reinóis, nascido na Cidade do Pará, beneficiado com o
morgado do pai, herdade, escravos, casa comercial e outras rendas.
A irmã, Constância, viúva
sem filhos, vivia com ele no casarão da Rua dos Mártires; seu irmão, Jorge
sempre em viagens pela Europa, custeadas por Vicente que nunca se casara,
passava muito tempo na fazenda desde que se unira aos foreiros para se opor aos
sucessivos governos portugueses e seus simpatizantes que menoscabavam o valor
dos brasileiros.
Pantaco, de mãe africana
e pai mameluco, moreno claro, forte, bem vestido e calçado por exigência de
sinhá, parecia um alforriado bem sucedido quando andava pelas ruas. Mas vivia
junto com os outros quatro escravos no casarão, era o preferido da senhora e a
servia como se fosse uma mucama.
Jorge, sempre que voltava
de suas viagens, manifestava à irmã o descabido; não dividirem os cabedais
deixados pelo pai. Precisavam fazer alguma coisa, não podiam ficar à mercê do
irmão que vivia metido com foreiros, pregando idéias de infames. Queria vê-lo
morto, já que não aceitava falar em dividir os bens.
Observava a dedicação do
escravo à irmã com malícia no olhar mas também com a naturalidade de homem
muito viajado, freqüentador da corte, acostumado com o predomínio da vontade
dos mais poderosos. Via em Pantaco, escondida, a mesma ambição que sentia.
Aliciá-lo, para seu propósito, foi mais fácil que convencer Constância.
Pôs em sua mão a primeira
moeda portuguesa das muitas que receberia; instruiu, junto com a irmã, a alforria.
Combinaram esperar seu embarque para Portugal, a animosidade aumentar na
política da província e os outros da casa acostumarem com Pantaco dormindo, de
vez em quando fora, em serviço de aluguel na marinhagem. Constância concordava
em acompanhar pelo pasquim pregado na porta da Lopes & Filhos, a situação
política e dar o dia certo da consumação.
A notícia chegou do Acará
junto com o corpo, um casal de escravos e o velho tapuio Buiú. Espalhou-se
entre os políticos rapidamente levando muitos deles, consternados, a se reunir,
partidários e oponentes culpando uns aos outros.
Pantaco providenciou, na
igreja, o sepultamento, a mortalha, a música fúnebre e o pagamento das mortuárias.
As exéquias, no mesmo dia, foram assistidas na igreja, cheia de partidários do
morto, muitos comerciantes e algumas autoridades, num ambiente tenso de olhares
acusadores e de muita tristeza da irmã.
Na cerimônia, o
comandante das armas fez a promessa de todos os esforços para encontrar o
assassino que já estava sendo procurado pela milícia desde aquela manhã. Tropas
tinham sido enviadas à Vila do Acará para investigar junto com as autoridades
de lá.
Sem testamento, o espólio
foi arrolado, enquanto Jorge voltava de viagem, os negócios tocados por Constância,
com ajuda de Pantaco, na cidade, e do tapuia Buiú, na fazenda, pois mais
entendia das ocupações já que vivia lá desde menino, sempre o braço direito do
patrão.
No mesmo dia em que o
navio aportou trazendo Jorge, Buiú chegava do Acará. Vinha trazer a farinha e
buscar o de prover. Encontraram-se na Rua do Norte e seguiram juntos até o
casarão onde o tapuia sempre dormia junto com os escravos.
O encontro de Jorge com a
irmã e Pantaco foi mais de silêncios do que de cumplicidade; alguma coisa
estava diferente, o escravo aumentara a intimidade com a irmã que parecia se
submeter ao olhar dele. O acerto se deu poucos dias depois, venderiam e
dividiriam tudo. Jorge queria viajar pelo mundo, Pantaco receberia sua pequena
fortuna em moedas portuguesas como combinado e teria oficializada sua alforria.
Constância sonhava morar na França.
Começou desconfiar no dia
do enterro, passada a cerimonia. Pantaco pareceu inquieto demais; nos dias em
que ficou no casarão Buiú notou as pequenas coisas que aconteciam, incomuns
antes da morte do patrão: o escravo dando ordens com voz autoritária, vestindo
roupas que só poderiam ser do morto e recebendo incumbências da senhora sempre
de portas fechadas. Quando acompanhou Jorge pela rua, no dia de sua chegada,
viu a pouca bagagem que trazia, estranhou. Conhecia seus hábitos elegantes
desde pequeno, ao contrário do irmão, um rústico, vivia folgazão, desfrutando
do nome da família pelas altas rodas, sustentado como estudante, sem nunca ter
pisado na escola em Coimbra.
Na casa, mal se via
Constância, sempre pelos quartos trancada numa tristeza maior que o luto quando
o pai morreu.
Buiú andou pelas ruas,
nas bodegas e terreiros. Entre remeiros, aguadeiros, soldados, procurando saber
o que comentavam. Nos ajuntamentos de escravos, apesar de proibidos, ouviu
muito sobre política e deserções, nada do crime.
Procurou os conhecidos
alugadores que viviam se gabando das mortes executadas, ninguém sabia de nada
e, entre eles aquele caso era tido como coisa de família, muito escondida.
Falavam que se fosse política saberiam, quem contrata vingança quer que todos
saibam, modo produzir o temor. Fosse política, mais temor ainda.
O tapuio passou dias
vigiando Pantaco até ficar, sozinho, frente a frente, sustentou apenas o olhar
no susto dele, não disse uma palavra sequer. O negro, com o deixar cair dos
ombros e o semblante, confessou. Foi a reação esperada, Buiú estendeu a mão
esquerda espalmada e com a outra em perpendicular a palma estendida, fez
pequenos movimentos batendo a direita rapidamente, próximo dos dedos, próximo
do punho até ouvir no silêncio de Pantaco, concordância.
Dividiram a pequena
fortuna e nunca mais foram vistos.
,,
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
domingo, 13 de outubro de 2013
sábado, 12 de outubro de 2013
Danduca - MQ
..
..
Os dois mastros da
gambarra já apareciam ao longe, no lusco-fusco do dia. As carniceiras
preparavam seus amanhos, sabiam dias longos pela chegada dos navios. Danduca, a
mando de ganho, primeira a chegar, ficava no barranco esperando tarefa com os
olhos compridos postos no horizonte, sempre assim.
Dela diziam fazer mandê
escondida, por isso andava sempre com os olhos baixos, postos no chão; era
arredia nas conversas, mas sabia ganhar na rua mais que todas. Retalhava uma
dianteira com talhos rápidos, garantindo o serviço, esperava dia após dia e a
cada um a destreza lhe garantia o lugar no açougue e a inveja das outras.
Na verdade, esperava o remeiro Pycuryauá buscá-la. Viria cedo, antes do
sol tingir a barra do Rio Pará. Tinha fé na santa, não nos rituais que lhe
atribuíam fazer escondida; rezava todos os dias para que ele viesse logo e para
que a santa perdoasse sua fuga.
O combinado era Pycuryauá voltar à
aldeia Urubu, derrubar a itaúba e lavrar a canoa para buscá-la; viria sem ser
visto, escondido na noite, margeando até o barranco; dali remariam subindo pelo
Acará, até encontrar as terras do Abaribó, sonho de todo escravo e de muitos
servos.
Nos primeiros dias de
espera, Danduca rezava quanto podia, assustada com a decisão tomada; depois
mais ainda pela demora dos dias todos. Ouvia, na rua e no adro da igreja, as
conversas sobre fugidos capturados. Ouvia sobre o temido João Cafute,
descendente do cego Bocovó, famoso na memória dos mais velhos que usavam seu
nome para amedrontar, principalmente os escravos novos.
Contavam dele histórias
de muita valentia e ferocidade. Senhor de teres, escravos e haveres; sobreviveu
ferido, trancado como comida, depois de uma emboscada; conseguiu fugir e acabou
vagando e envelhecendo pelas ruas arruinado e louco, dizendo-se o único a escapar vivo dos
abaribós.
Danduca tremia de medo só
de pensar na captura, pondo alcance, mandando aquele homem cuja alcunha,
ascendência e fama atemorizava todos. Imaginava do que era capaz o neto do cego
Bocovó; via-se arrepiada, comutando o
que destemia.
Pycuryauá demorando mais que o tempo marcado...
pensava desistir, conformar, mas queria mais ser livre. Rezava e esperava no
barranco todos os dias antes do claro. Talhava a carne com a mesma rapidez que
desejava, quando em fuga, impor aos remos e esperava pela outra manhã.
Acompanharam, quando
saíram do Açougue Grande, as pessoas se juntando nas ruas, formando uma
multidão para ver o desembarque dos presos de Muaná, passando nas ruas, o
escárnio da população, os reinóis incentivando
com imitações obscenas das janelas e portas do comércio, paramentadas como para
uma procissão, as toalhas ornando chicotes, palmatórias e grilhões, numa atitude
de desprezo com os mestiços e com os que queriam se juntar ao império
brasileiro independente.
Danduca, desinteressada,
mal passou os olhos pelos presos, nem se deu conta do olhar penetrante como
lâmina afiada que João Cafute lhe dava enquanto vinha se aproximando por entre
as pessoas que se afastavam, dando caminho. Ao vê-lo em sua direção, as pernas
tremeram, a boca secou e a vista embaralhou. Acordou sendo abanada por ele
embaixo duma sombra. Sobressaltada, se desvencilhou, correu como nunca. Foi
como se visse o diabo em pessoa.
A vida passou a ser um
tormento; esperar Pycuryauá todos os dias e nos mesmos fugir do diabo que a
perseguia, e ele chegava cada vez mais perto, só não desrespeitava na rua por
ser ela escrava de ganho de padre importante e influente. Rezava agora também
para não vê-lo nunca mais no seu caminho, que fosse cuidar dos vezeiros de
algum senhor.
Mal a noite acinzentou o dia, ela já estava na
sua vigília. A aragem trazia um frio no perfume da aurora que fazia o corpo de
Danduca arrepiar. Olhava o horizonte, desesperançada quando ouviu um barulho
farfalhento de remo batendo capim. Procurou seu rumo com o coração em
disparada, sabia ser ele encostando a canoa nova no lugar combinado. Desceu o
barranco apressada e deu de cara com João Cafute que a agarrou e dominou ali
mesmo.
Seu corpo não apareceu,
dada como fugida, nunca mais foi vista, seu dono nenhum anúncio pôs e nem
contratou a captura.
João Cafute passou a vida
toda escondendo com os cabelos, a falta da orelha esquerda, enterrada dentro do
corpo de Danduca.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
RUY GODINHO - RODA DE CHORO
.
RODA DE CHORO – SÁBADO – DIA 12.10.13
ESPECIAL CHORO DAS 3
O RODA DE CHORO deste sábado será especial. Vai dedicar-se integralmente ao talento, ao virtuosismo e à graciosidade do CHORO DAS 3, originário de Porto Feliz, interior de São Paulo, formado pelas irmãs Corina (flauta, flautim), Lia (violão de sete cordas), Elisa (bandolim, clarinete) e ainda pelo pai delas, Eduardo Ferreira (percussão).
Na parte musical, composições dos CDs Escorregando e Boas Novas, lançados em 2012 e 2013, respectivamente.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
Transmitido pela Rádio Câmara FM 96,9 Mhz - Sábado 12h [Brasília – DF] (www.radio.camara.gov.br)
RODA DE CHORO – SÁBADO – DIA 12.10.13
ESPECIAL CHORO DAS 3
O RODA DE CHORO deste sábado será especial. Vai dedicar-se integralmente ao talento, ao virtuosismo e à graciosidade do CHORO DAS 3, originário de Porto Feliz, interior de São Paulo, formado pelas irmãs Corina (flauta, flautim), Lia (violão de sete cordas), Elisa (bandolim, clarinete) e ainda pelo pai delas, Eduardo Ferreira (percussão).
Na parte musical, composições dos CDs Escorregando e Boas Novas, lançados em 2012 e 2013, respectivamente.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
Transmitido pela Rádio Câmara FM 96,9 Mhz - Sábado 12h [Brasília – DF] (www.radio.camara.gov.br)
Retransmitido por 148 rádios parceiras
.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
terça-feira, 8 de outubro de 2013
CANÇÃO DOS QUARENTA ANOS - RUY BARATA
.
Poema, suspende a taça
pelos dias que vivi.
Espelho, diz-me em que jaca
mais fiel me refleti.
Quarenta anos correram
e neles também corri.
Quarenta anos, quarenta!
(Quantos mais inda virão?)
Morrerei hoje de infarto
ou amanhã de solidão?
Serei pasto da malária?
Serei presa do avião?
A morte engendra esperança
A morte sabe fingir.
A morte apaga a lembrança
da morte que vai ferir.
E em cada instante que passa
a morte pode surgir.
Quem pode medir um homem?
Quem pode um homem julgar?
Um homem é terra de sonhos,
sonho é mundo a decifrar :
naveguei ontem no vento,
hoje cavalgo no mar.
Hoje sou. Ontem, não era.
Amanhã de quem serei?
Um homem é sempre segredos
(Por qual deles purgarei?)
Dos meus netos, qual o neto,
em que me repetirei?
Que virtudes foram minhas?
Que pecados confessar?
Que territórios de enganos
a meus filhos vou legar?
A quem passarei meu canto
quando meu canto passar!
Ah! como a vida é ligeira!
Ah! como o tempo deflui!
Este espelho não mais fala
da criança que já fui,
das minhas rugas ruindo
apenas um nome rui.
Quede rede balançando?
Quede peixinhos do mar?
Quede figo da figueira
pru passarinho bicar?
E o anel que tu me deste
em que dedo foi parar?
Dezembro chama janeiro,
(fevereiro vai chamar?)
Monte-Cristo se me visse
não iria acreditar.
Como está velho, diria
a donzela Dagmar.
Um homem cresce espalhando
— o reino em que foi feliz. —
Onde Athos? Onde Porthos?
Onde o tímido Aramis?
Um homem cresce querendo
e cresce quando não quis.
Crescer é rima de vida
mas também é de morrer.
Crescer é terna ferida
que só dói no entardecer.
Em cada raiz da morte
há sempre um verbo crescer.
E cresço: macho e poeta.
(Subo em linha, volto em cor)
cresço violentamente,
cresço em rajadas de amor,
cresço nos filhos crescendo,
cresço depois que me for.
Cresço em tempo e eternidade,
cresço em luta, cresço em dor,
não fiz meu verso castrado
nem me rendo ao opressor,
cresço no povo crescendo,
cresço depois que me for.
..
Assinar:
Postagens (Atom)