sexta-feira, 18 de março de 2016

Transgressão - mq


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Quase um ritual. Sério, metódico, consciente e muito bem-arrumado no terno e gravata que nunca repetia, nos sapatos muitos bem engraxados para um andar seguro e calmo. 

Quase como obrigação, toda semana, na terça-feira por volta das oito horas, vinha ele pela calçada, depois de deixar o carro estacionado na avenida. Cumprimentava todos na entrada, um dos habituais mais generosos; distribuía gorjetas, desde o guardador de carros até o gerente.

Recebido com cortesias e mesuras, entrava solenemente, acompanhado pela recepcionista; sorrindo discretamente, ia até a ultima mesa, a mais escondida.

O encarregado das fichas atendia-o preferencialmente. Era seu momento especial, desfrutando cada detalhe da transgressão; sabia de todas as leis e como aplicá-las no seu tribunal.

Bebia três ou quatro doses, convivendo com todos que ali jogavam como se fossem seus pares. Ganhava, perdia e entregava-se ao imprevisível com um brilho diferente no olhar.

Na casa de jogo, o juiz se realizava descumprindo a lei.

 

 

 
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