A distância era de pouco mais de cinco
quadras. Na porta, consultou o relógio; olhou distraído para a rua, sentiu a
primeira pontada e não sentiu a mão direita.
Nos primeiros passos, a falta do braço
inteiro. Olhou a esquina e uma das pernas foi como se tivesse sido arrancada de
um puxão. Olhou para os lados, querendo passar despercebido; a outra mão, com o
braço inteiro, entorpeceu, não sentiu mais.
Mal chegou na esquina da quadra, a
outra perna. Olhou no relógio de novo, o tempo conspirava. O sexo e a bunda
pareciam cortados pouco acima do umbigo. Suou frio, olhou a próxima esquina;
suou mais ainda, despercebeu até o pescoço.
Aflição, o tempo, a próxima quadra, e
a nuca ficou como se flutuasse no ar, até que não a sentisse mais. As horas, a
calçada, um torpor. Acontecia.
Perdeu o cheiro, o gosto começou
escorrer deixando um rasto. O tempo, a penúltima quadra era a praça - e os
olhos foram sumindo bem devagar, mas a boca e o resto do rosto arrancado como
se tirasse, em outro puxão, a máscara.
Na quarta quadra, por último, os pés
se distanciaram dos dele e pode vê-los, tão belos, caminhando na frente;
andavam para uma intensidade, para outras vidas.
Acompanhou sem lágrimas cada passo.
Olhou em volta. Todos
o observavam ali parado. Um corpo disforme e vazio que precisava andar.
Suspirou, olhou o relógio, continuou
até a esquina. Pronto. Tinha acabado.
Estava só com a sensação de tê-la
ainda totalmente dentro de si.
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