Mais que um choque, não conseguia
racionalizar. A notícia começou a tremer o corpo inteiro, foi dada com cuidado,
mas só produziu a desarmonia que ele levou para casa.
Tinha ficado mais de cinco dias no
hospital fazendo exames, não sabia que existia tanto procedimento, tanta
tecnologia para diagnosticar as doenças. Não sabia que os médicos se
interessavam tanto por um paciente, que existiam tantos psicólogos, assistentes
sociais e psiquiatras. Porque tinha aceitado se submeter àquilo, queria apenas
ficar sozinho, não conviver com ninguém, não ter que conversar, que obedecer.
Que merda, pensava.
Quase nada do que disseram entendeu,
explicações demais. Médicos demais, reuniões demais. A única coisa clara era o
que mais o desgostava, teria que viver sempre com alguém por perto, mesmo
quando estivesse dormindo; nada de portas trancadas, foi a única recomendação.
Nenhum procedimento era possível no caso, nenhum medicamento foi recomendado.
A pergunta do médico responsável
chocou-o mais ainda. Poderia apresentar seu caso num congresso médico?
Propunha-se a cuidar dele enquanto vivesse, se ficasse em observação para que o
estudassem mais detalhadamente. Que absurdo, pensava.
Não sabiam explicar, mas no lugar do
coração tinha o cérebro e no lugar do cérebro o coração. Se não pensasse,
morreria na hora.
Quando chegou em casa. O telefone não
parava de tocar; logo a campainha, e começaram a chegar os parentes, os amigos,
repórteres querendo entrevista. Seu caso já estava em evidência na imprensa.
Era o caos.
E foi no meio desse caos que ele
pensou muito e tomou a decisão: parou de pensar.
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