Os transeuntes que o socorreram não o
conheciam; com ele, nenhum documento de identidade. Era apenas um velho que
caíra na rua próxima e ficara inconsciente. Deitado na maca, encostada na
parede, esperava pelo atendimento.
Veio nos braços, desacordada, febre
muito alta; o posto de saúde do bairro não tinha recursos, foi encaminhada até
ali. No semblante da mãe chorando, resignação. Uma cadeira para acomodar a
criança foi arrastada pelo chão.
Na maca vizinha, o rapaz urrava de dor
com uma fratura exposta na perna amarrada com sua própria camisa; também
esperava socorro.
O corredor comprido, mesmo assim
insuficiente para tantos casos. Emergências de todo tipo se misturavam ao
atendimento caótico que embrutecia todo dia os médicos, enfermeiras e os
funcionários. Na verdade, não cuidavam da saúde de ninguém; amenizavam, isto
sim, a doença de tanta escassez. Esta sim, era de verdade a emergência.
No meio da enfermaria improvisada no
corredor, duas televisões ligadas na emissora mais assistida completavam o
quadro.
As enfermeiras improvisavam o que
podiam enquanto cada um esperava sua vez. Na maca, o velho começava a ter
espasmos sem que ninguém visse.
Seus últimos momentos foram ali,
enquanto, na televisão, o governo fazia a propaganda diária de suas
realizações.
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