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No Ritiro da Meia Légua
ficava a Invernada do Piquizeiro. Na distança de légua, a Invernada do Ataio,
onde fiz casa de morada, cheia dos conforto. Tamém a ponte do Sapé emendo das
duas na sede da Forquia, nus alto da Encruziada.
No abri da estrada foi fácil, só o passá de Lopoldo cum
o carroção cheio de pedra. Fazê a ponte, essa sim, deu trabaio.
Era casá pedra com pedra, parecença duma cum parecença
d’otra, travano essa uma cum aquela. Era ajudá Tio Rumiro, cunhecedô dos fazê
barro ligoso prá garanti o sustento das pedra, até o pôr dos tronco lavrado no
machado, labuta de Joaquim Pirracento, esse trabaiava subiano e juntano capim
mode laçá os barro no dá a liga.
João Dico mais Lopoldo, cum o carro de duas junta,
Lambari mais Cafuncho, na canga da frente, em carregação das pedra, ajudô erguê
a ponte nos poco dia p’ro São João e na promessa de chamá Zarias prá tocá e
matá um boi.
Cunhici Lopoldo, ele durmia embaxo duma sucupira no mei
do cerrado, aculhi ele. Quando casô, fui padrim. Num deu sorte, a muié morreu
cum menos de ano. Lopoldo tomava bênça todo dia, me tratava de seu Lino. Devotado,
agregô na famia.
Durmia no paiol, conformado cum a vida, fazia tudo que
a Bibiana pidia. Ela ia sangrá porco, chamava Lopoldo. Ia fazê sabão, pidia
Lopoldo prá fazê a dicoada.
Joaquim Pirracento, cunhici no ofício, donde era o maió
fazedô de carro de boi. Aquele nosso, ele que feiz. Nasceu no Curvelo, em
Minas, i’eu num sabia onde era não, mais achava aquele nome uma buniteza.
Era tinhoso, por isso o apelido Pirracento. Se ele num
fosse cum a cara do sujeito num pegava o sirviço. Mesmo orgulhoso, num
importava das brincadera de Tio Rumiro falano que a ponte ia ficá cum jeito de
carro de boi. Paricia inté que gostava da falação.
Na passada do tempo, a
Forquia ia tomano jeito, o gado cada dia mais bunito, muita fartura. Só teve
uma seca castigadera que nóis passava o dia intero levantano o gado no pasto.
Mais nesse ano mesmo, rompemo na fartura. Até uns cobre que divia, paguei no
trato.
O toque da vida era esse um, muito trabaio, mais vida
sussegada. A labuta era vergá no sol, fosse na poca roça que tocava, só o do
sustento, fosse na lida cum gado.
Nesse tempo, pareceu na Forquia dois homi a mando do
banco, fereceno vantage de uns cobre prá omentá o prantado. Bibiana pois
armoço. Cumero, ispiculano de um tudo, intardecero nos triero, rumo do
Cavaiero.
No dezembro, cumpadre
Quirim passô cum boiada, careceu poso e, no proseio em roda do fogo, falô dos
homi do banco, perguntô meu intendimento.
- Cumpadre
Quirim, num é do meu carecê, quando foi os cobre do seu Waldemo me valeu. Hoje
a Forquia tá rumada é só num tê ismazelo. Fazê roça grande, com vantage dos
cobre do banco, quero não.
- Pois é
cumpadre, i’eu careço de fazê roça, currá novo, dá meiora na casa.
Passado o setembro, ele
apareceu cum a famia, nóis feiz uma pamonhada e ele contô que ia fazê o tal impréstimo,
se eu prestava garantia de assinatura.
- Cum obrigação, cumpadre. Respondi.
Em combinado, viajamo junto, assinamo os papel e ele
pois a mão nos cobre cum satisfação.
No, um ano e mei passado, castigo da seca, cumpadre
Quirim cai de cama, doença dos peito, num levantô mais. A viúva, no decorrê do
luto, num deu conta da lida e ninguém acudiu. Nem i’eu, num era do meu sabê, o
seu carecê.
- Pai, tem dois homi do banco aí.
- Tarde.
- Tarde, apeia.
- É sobre o
aval que o senhor deu ao falecido João Quirino, a dívida está vencida e como o
inventário demora, o banco resolveu cobrar do avalista. O senhor tem trinta
dias para comparecer ao banco.
Nem apiaro.
Saí na vergonha da humilhação p’ra rua, fui batê no
banco. Num tinha acordo. Corri na casa de Waldemo, ele tinha imprestado os
cobre cum prazo de ano, no corrê das porcentage. Avuliei ali que meu nome já
tava sujo. Vortei p’ra Furquia, reuni o gado, contei e fui batê no curtume do
Neném Teodoro, que rematô a boiada na bacia das arma, veno a minha pricisão.
No prazo de mêis paguei o banco na conta que eles feiz
mode ivitá humilhação e garanti honra no nome.
Na réiva, vortei p’ra
Forquia e incontrei os minino tudo duente; Bibiana tinha virado um fiapo,
tussino e na febre, num guentô a semana. Naquele agosto interramo, além de
Bibiana, meu mais novo, mais Tio Rumiro, João Dico, a mulhé e a fia. Tristeza
de vida.
Era os invisivi tarrafiano nóis. Sobrô a terra e o mais
véio, sobrô Lopoldo e meu boi Lambari, que quase tive corage de vendê.
Dipois de matutá pricisão, vortei no banco. Agora
quiria labutá cum prantio, agora quiria os cobre cum porcentage, igual Quirim.
Nos poco ia comprano um gadim e rumava o disfeito.
- O banco não está emprestando dinheiro para plantio, o
senhor volta no mês que vem que vamos analisar.
Só vortei mais uma veiz e a prosa foi a mesma.
No carecê fui minguano, até dispô da Forquia, tamém na
bacia das arma.
Hoje trabaio, mais meu
minino, aqui cum meu patrão, Joaquim Pirracento, fazeno carroção, carroça,
portera e ponte.
Lopoldo casou cum a viúva de Quirim, inda antonte passô
pur aqui.
- Como vai
seu Joaquim? E prá mim.
- Bom dia,
Lino. E passano a mão na cabeça do meu minino.
- Tá bom, meu filho?
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