domingo, 25 de dezembro de 2011

VINÍCIUS DE MORAES - A última viagem de Jayme Ovalle

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Ovalle não queria a Morte
Mas era dele tão querida
Que o amor da Morte foi mais forte
Que o amor de Ovalle à vida.

E foi assim que a Morte, um dia
Levou-o em bela carruagem
A viajar - ah, que alegria!
Ovalle sempre adora viagem.

Foram por montes e por vales
E tanto a Morte se aprazia
Que fosse o mundo só de Ovalles
E nunca mais ninguém morria.

A cada vez que a Morte, a sério
Com cicerônica prestança
Mostrava a Ovalle um cemitério
Ele apontava uma criança.

A Morte, em Londres e Paris
Levou-o à forca e à guilhotina
Porém em Roma, Ovalle quis
Tomar a sua cangebrina.

Mostrou-lhe a Morte as catacumbas
E suas ósseas prateleiras
Mas riu-se muito, tais zabumbas
Fazia Ovalle nas caveiras.

Mais tarde,Ovalle satisfeito
Declara à Morte, ambos de porre:
- Quero enterrar-me, que é um direito
Inalienável de quem morre!
 
Custou-lhe esforço sobre-humano
Chegar à última morada
De vez que a morte, a todo o pano
Queria dar uma esticada.

Diz o guardião do campo-santo
Que noite alta, ainda se ouvia
A voz da Morte,um tanto ou quanto
Que ria,ria,ria,ria...


Vinícius de Moraes


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