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Éramos 41 milhões de habitantes sendo que 28
milhões viviam no interior, ou seja, quase 70% da população.
O rádio nascia quando Catulo da Paixão
Cearense, João Pernambuco encantava em saraus, Chiquinha Gonzaga e Joaquim
Callado provocavam escândalos e Turunas da Mauricéia, vindos do nordeste,
influenciavam na periferia, onde eram bem aceitos.
A música
brasileira não
urbana era apresentada no interior do País ,
principalmente no sudeste
por caravanas
de artistas , os mesmos
que deram feição a novidade que foi o rádio.
Comandados por
Cornélio Pires , Capitão
Furtado, Raul Torres , Nhá Zefa, Jararaca e Ratinho (musico excepcional), Mario Zan e
Nhô Pai , Alvarenga e Ranchinho e muitos outros –
se apresentavam em circos
e praças públicas, cinemas
e rádios do interior .
Na volta dessas turnês
traziam os novos que
identificavam com talento .
A música brasileira urbana ficava nas mãos
dos sambistas e chorões. O tango e o bolero era obrigatórios, as bandas americanas
invadiam. Heitor Villa Lobos bebia a brasilidade no urbano e no caipira (foi
ele quem convidou Jararaca e Ratinho para gravar junto com sambistas como
Donga, Pixinguinha e Cartola) e defendia ao lado de lideranças de mais de 32
mil artistas brasileiros junto a Getúlio Vargas uma política pública para as
artes de uma modo geral e especificamente para os artistas da música. Assim Getúlio
passou a ver o rádio como possibilidade de unir o país culturalmente e
politicamente.
Era intensa a participação americana no nosso
rádio devido a política de boa vizinhança por causa da guerra e o medo de
Getulio pender pro nazismo. O estudo
de canto orfeônico foi conquista de Villa Lobos junto ao Governo e obrigatório
por muitos anos.
O disco era de 78 rotações, uma música de
cada lado. As companhias de disco como eram chamadas mantinham seus
arranjadores próprios, as emissoras de rádio também. O que consagrava o artista
era ser contratado por uma, uma vez que o mercado de disco era muito
pequeno, os toca-discos eram ainda novidade muito cara, principalmente no
interior.
Os sucessos eram emplacados um atrás do
outro, os grandes veículos eram o rádio, o circo e as praças públicas. Muitos circos
viajavam pelo Brasil. Pela mão dos políticos a praça pública recebia os
artistas, mas era no rádio em apresentações ao vivo que eles se consagravam,
nas grandes emissoras e nas pequenas espalhadas pelas cidades do interior.
Tudo que acontecia no Rio de Janeiro
respingava em São Paulo e vice-versa. No Rio os nortistas, assim chamados na
época os nordestinos - num entendimento de que norte e nordeste eram iguais. Em
SP eram os caipiras do sudeste e centro-oeste que chegavam.
No Rio, capital brasileira, sede dos maiores
meios de comunicação, principalmente do rádio - Mairink Veiga, Tamoio, Tupi e a Nacional que
liderava os programas de auditório - Renato Murce, Manoel Barcelos, Cezar de
Alencar, Almirante, Ary Barroso com o seu programa de calouros, eram o maior
sucesso.
São Paulo, capital do dinheiro e do maior
consumo repetia o que acontecia no Rio e mostrava o que vinha do
interior nas caravanas.
O Recife regionalmente fervilhava, tinha uma
das rádios mais antigas do País onde os artistas do nordeste davam os primeiros
passos pra serem reconhecidos e tentar o sul.
As duas mais antigas emissoras de radio do
Brasil, embora haja controvérsias, foram do Recife e de Belém. Nas festas do
Círio Nazaré da época, era comum ter uma programação de artistas do rádio vindos
dos grandes centros, inclusive duplas caipiras.
Ainda que houvesse muita vaidade o ambiente
era de bastante solidariedade. Os artistas se ajudavam e o
comportamento diante do talento do colega era agregativo. Tinham intuitivamente
ou conscientemente a noção de estarem formando um público de gosto variado e que
era para todos, o que tornava a convivência entre eles harmoniosa e fraterna.
Um abria caminho para o outro mesmo sendo comum a compra de autoria ou mesmo de
dar parceria em suas criações, caso de João Pernambuco e Ismael Silva e muitos outros.
O Maestro Waldemar Henrique trabalhou como arranjador e músico ,
tanto em
companhias de disco como
no rádio carioca já consolidado, foi um
dos maiores incentivadores de Geraldo
Vandré, me revelou um dia. Tempos depois o próprio Vandré confirmou. Numa de
nossas conversas perguntei ao Maestro sobre Luiz Gonzaga, ele respondeu em duas
palavras - “nasceu pronto”.
MQ
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