O telefone tocou, madrugada do dia
mais quente do ano; tocou muitas vezes. Quando atendeu, a voz pastosa de uma
mulher parecendo embriagada disse, tentando sussurrar – está tudo planejado,
morrerás ainda hoje – e desligou.
A essa hora? Pensou, e voltou a
dormir. Novamente o telefone, a mesma voz, a mesma frase.
Que droga, pensou; tomou água e foi ao
banheiro.
De novo? Trote a uma hora dessas!
Levantando de novo, para outro copo d’água e o banheiro.
Na quarta vez, tentou fazer uma
pergunta – e como morrerei? Do outro lado desligaram, como das outras vezes.
Pensou que fosse brincadeira de algum
amigo imitando voz de mulher ou, quem sabe, mesmo uma amiga. Aquela respiração
parecia-lhe familiar, coisa chata.
Na quinta vez que o telefone tocou,
ele apenas tirou do gancho, mas ficou olhando o aparelho, não conseguia dormir.
Olhava o telefone fora do gancho e
sentia uma vontade inexplicável de ouvir de novo a ameaça e a mulher respirando
abafado. Era como uma necessidade.
Aquilo durou o resto da madrugada; uma
dezena de vezes ouviu a voz, mesma entonação e as mesmas pausas, parecia uma
gravação.
Quando o dia amanheceu, já tinha
fumado quase um maço de cigarros e estava esperando o telefone tocar de novo.
Sete horas, mudo. Sete e meia, continuava mudo. Tomou banho, fez o café e
quando ia saindo para trabalhar, já próximo da porta, o telefone tocou. Era a
mesma voz, que perguntou:
–
Você ainda tem
cigarros?
–
Estou fumando o
último – respondeu, acreditando que ela ia ouvi-lo sem desligar.
– O veneno está nele... Adeus.
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