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Olhava pela janela toda manhã.
Acordava e se vestia como para ir numa
festa; os cabelos impecavelmente penteados na rotina de todos dias; a caneca de
café esfriando numa das mãos e o mesmo livro aberto na página que nunca lia.
Assim esperava, casual, nos preparativos e na postura.
Esperava, adivinhando o momento certo
em que ela iria virar a esquina.
A roupa, sabia acertar só de vez em
quando; o jeito dos cabelos, nunca conseguiu adivinhar como estariam. Era quase
um ritual aquela espera. Quando ela aparecia, a sensação de propriedade; para
ele, ela era sua.
As pernas torneadas na saia curta,
combinando com sapatos de salto alto, e os cabelos amarrados como rabo de
cavalo ou a calça bem apertada com cabelos soltos e sapato baixo. Enfeitava-se
para ele e para as manhãs, era sua ilusão.
Nos domingos nem se levantava, ficava
imóvel até a hora do almoço, deitado, sonhando com os dias passados e com a
segunda-feira.
Nunca trocaram um olhar sequer; ela
passava como se deslizasse pela calçada, ele fingia beber o café, virava a
página do livro; tudo como se fosse um ensaio. Ao abaixar a caneca, ela saia do
ângulo da visão. Ele suspirava, esticava a mão para as muletas e saía para o
interior da casa.
Ele a amava e bastava tê-la todos os
dias dentro do olhar.
Bastava fingir não invejá-la caminhar.
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