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No Araguaia – I
Nestas praias sem cercas e sem dono
do velho Araguaia,
achei um amigo, escuro,
de cara pintada a jenipapo e urucum:
o carajá Araticum – uassu
Seus músculos são cobras grossas
que incham sobre o couro moreno;
suas narinas têm sete faros;
e nos seus ouvidos há cordas sutis, onde ressoa o pio
curto e triste,
que, mais de um quilometro distante,
solta o patativo borrageiro.
Quando o rio ensolado enruga, em qualquer ponto,
a lâmina lisa de níquel molhado,
ele traduz , na esteira da mareta,
com o binóculo faiscante dos olhos,
o tamanho e a raça do peixe navega escondido.
E a flechada vai arpoar, certeira , debaixo d’água,
o pacamã ou o pirarucu.
A mata não lhe dá mais surpresas
(tem vinte presas onça preta no colar),
nem o rio lhe conta mais novidades
(ele é capaz de flutuar , até dormindo,
correnteza abaixo, como um pau de pita).
Hoje eu lhe perguntei:
-“Como foi feito o mundo,
ó meu patrício Araticum Uassu?...
”Ele riu, deu um mergulho no rio,
e emergiu, com a cabeleira em gotas,
sem precisar de falar...
“Bem, mas o que é mesmo a vida , meu irmão moreno?...
”Araticum-uassu riu com mais gosto ainda,
e saiu a remar, com esforço simulado,
tangendo a piroga corredeira acima...
“Muito bem, amigo, quero saber, agora,
o que pensas do amor...”
Desta vez ele não riu - franziu o rosto,
e jogando fora o remo de taquara,
deitou-se na canoa, indiferente,
com olhos fechados, braços cruzados,
e deixando-se levar pela corrente, à-toa,
sumiu na curva, atrás do saranzal...
João Guimarães Rosa
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
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Querido amigo, que bom que vc
ResponderExcluirconhece os poemas de Guimarães Rosa!
E 'No Araguaia' está em seu livro
'Magma', com desenhos do paranaense
Poty. Maravilhoso Poty! Tenho algumas ilustrações dele.
Guimarães Rosa escreveu poemas sim!
E fez de sua prosa, imensa poesia!
Abraço.
Jac.,
ResponderExcluirÉ onde bebo os maiores goles.
Te abraço.