sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

JAC. RIZZO - As veredas do sertão


Um dia, Guimarães Rosa juntou-se a alguns bois e meia dúzia de boiadeiros, e foi viver sua aventura!

Embrenhou-se pelos cerrados de Minas Gerais, para escrever o que se tornaria seu mais belo livro! Seu Grande Sertão: Veredas.

Ele foi só um menino míope que nasceu na boca desse sertão, com uma infância solitária, povoada de bichos, livros e travessuras. Mas João, entendia de coisas e gente! E foi doutor, embaixador, diplomata!

E quando fala do sertão é com uma carga de emoção, que transforma o universo natural em universo humano! Ele conta de maneira subjetiva, profunda, a história de homens simples falando a linguagem do próprio sertão! Mais que isso...inventando uma outra forma de falar! Pondo palavras novas nessas bocas que ele arranca do fundo desses confins, para jogar no 'remoinho', no meio, no mundo!

Pois a obra desse grande escritor ultrapassa a dimensão de literatura regional, e salta para uma nova extensão, se torna universal! Vai ser arte, pela imensa beleza e força de seu texto!

Assim faz o artista verdadeiro...recria o real! Transfigura, vai buscar dentro dele a emoção para compor um outro universo - o seu, particular!

“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” Pois Guimarães Rosa morreu, inesperadamente, num dia de novembro de 1962, horas depois de dizer, ao ser empossado na Acadenia Brasileira de Letras, que ‘as pessoas não morrem...ficam encantadas.’
João Guimarães Rosa ficou encantado para sempre!
“O poeta não se traça programas, porque a sua estrada não tem marcos nem destino. Não se aliena, como um lunático, das agitações coletivas e contemporâneas, porque arte e vida são planos não superpostos mas interpenetrados, com o ar entranhado nas massas de água, indispensável ao peixe - neste caso ao homem, que vive a vida e que respira a arte. (...)

E o incontentamento é o seu clima, porque o artista não passa de um místico retardado, sempre a meia jornada. Falta-lhe o repouso do sétimo dia. Não tem o direito de se voltar para o já- feito, ainda que mais nada tenha por fazer.

A satisfação proporcionada pela obra de arte àquele que a revela é dolorosamente efêmera: relampeja, fugaz, nos momentos de febre inspiradora, quando ele tateia formas novas para a exteriorização do seu magma íntimo, do seu mundo interior. (...)

Pinta a sua tela, cega-se para ela e passa adiante. E no caso dos poetas, serenidade não é estagnação, e o brilho da face viva nada rouba à projeção poderosa da profundidade.” (...)

* Trechos de um discurso proferido por Guimarães Rosa em agradecimento a um prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras.

Jac.


Jac. Rizzo - http://jacrizzo.blogspot.com/

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