Desde muito nova, sentia aquele desconforto, uma sensação que foi
aumentando com o passar dos anos e acabou naquele calor espargindo pelo corpo,
tomando conta e só passava com os banhos e a mão da mucama Rosário, esfregando
devagar seu corpo. Uma luxúria tomava conta, invadia. Deixava-se ficar por
horas na intimidade cada vez maior: as mãos da escrava e a água fria lhe davam
um prazer cada vez maior.
Naquele dia, acordou com uma sensação diferente, sentou-se na cama
assustada, pensando ter se urinado. Gritou à mucama que dormia no pisador,
quando se viu toda suja do sangue da escorrência. Rosário tomou uma bacia de rosto e pôs-se a lhe fazer
o asseio. Celeste foi se acalmando, ao mesmo tempo que sentia a pele em brasas
e a vontade de que a mucama nunca parasse de lhe tocar as coxas. Levantou-se
para que os lençóis fossem trocados e não resistiu ao desejo de se despir por
completo.
Enquanto o fazia, olhava a negra por entre o avoar do lençol que vestia o
colchão. Sentou-se na cama e pediu a Rosário que lhe escovasse os cabelos.
Parecia um ferro em brasas, a cada escovada, a pele arrepiava, como se o gesto
de Rosário fosse sopro avivando brasa. Apertava o cabo do espelho com força,
quando percebia a respiração da escrava se alterar mas a coragem de lhe mandar
fazer as coisas que começou a imaginar naquela hora, não teve.
Seu quarto ficava na parte da
frente da casa, com a janela protegida dos olhares de quem passava, por um
caramanchão, de tal modo que conseguia ver a rua por entre as folhas sem ser
vista. Naquele dia, a confusão era das maiores, um sem número de soldados
passava toda hora. A mucama dava notícias da luta, no longe se ouvia os
estampidos. Era curiosa Celeste e gostava de ficar espiando na janela,
segurando Rosário por trás com o corpo encostado no dela, protegendo.
Ignorando os acontecimentos e o alvoroço, pediu um banho e se desnudou
toda, buscando novamente a reação da serviçal. Sua respiração ficou quase
ofegante, as mãos esfregavam devagar as costas. Rosário sentia a mesma coisa,
tornou-se ousada quando os mamilos da ama foram crescendo, ao mesmo tempo que
os seus, sentiu-se úmida, com o olhar bem dentro dos olhos que Celeste lhe deu
antes de puxá-la para junto de si, rosto com rosto, os cheiros se misturando,
luxúria tomando conta das duas que se amaram enquanto a fuzilaria tomava conta
das ruas da cidade.
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