sábado, 23 de maio de 2015

ENQUANTO ISSO... - MARCO ANTONIO QUINAN


Enquanto isso...

O silêncio vence o zunido dos projéteis num morro no Rio.

O gerúndio se transforma em particípio.
O relógio anda uma casa e milionários do petróleo ganham mais três, antes da vírgula.
Parte da geleira no Ártico se desprende, trazendo de novo toda a discussão do aquecimento global.
O portuga da padaria nega um pedaço de pão a um aidético maltrapilho. A mitocôndria respira.
Descobre-se mais uma cura para a doença, e a indústria farmacêutica a compra silenciando de imediato.
Enquanto isso é estourado mais um cativeiro no interior do Mato Grosso.
Alguém joga fora o comprovante de compra de algo que irá reclamar depois.
Muita gente ainda acredita em Reforma Tributária.
Uma criança cai da cadeira tentando espantar um louva-deus.
No Nordeste, o Rio São Francisco está morrendo em certas regiões do país, onde moradores nordestinos não conseguem simplesmente sobreviver.
Um mendigo cambaleia na Avenida Paulista com uma rosa vermelha na mão e, poeticamente na paisagem cinza, colore a foto.
Um pai sorri para o próprio filho depois de perder o tio, que tanto adorava, pras falências da carne.
Enquanto isso, a cultura do ódio se instala paulatinamente numa sociedade, livre de expressão e aprisionada em sua liberdade de desenvolver.
Enquanto isso, alguém esfaqueia outro semelhante, num crime hediondo, e, agindo naturalmente, como quem quer um pedaço daquilo que o outro tem como se fosse seu por direito.

Enquanto isso...

Meu filho dorme e quando acordar eu preparo um mundo novo a ser descoberto, uma distopia de um universo paralelo, onde a felicidade não é tamanha, e sim pequena, fracionada, e acontece em cada momento que estivermos juntos.

MAQ

 ..

Nenhum comentário:

Postar um comentário