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Não tinha a lembrança de ver antes. Aquela foi a
primeira vez, dali do portão de casa, vi ele passar num cavalo baio.
Nenhuma lembrança tenho, nesse antes, no portão.
Por que não passa
todo dia, como é mando dos meus olhos?
Lembro de outros olhares, outros portões, esse não.
Faz tempo ele não
passa, mas o povo dele eu vejo.
Será que era
uma branquinha bem novinha?
Se não passar hoje,
vou perguntar na venda.
Lembrei, era
magrinha, não era?
Passou, está mais
bonito. Mas nem me olha.
Queria ter reparado mais nela.
Por que tenho que vê-lo com outra na festa?
E ela me
queria?
Tantos anos e nunca
mais passou.
Se eu
soubesse!
Nossa! É ele. Depois de tanto tempo, meus olhos quase esqueceram.
Ia esperar crescer.
Ainda é bonito,
mais bonito ainda.
Casava com ela.
Mas é só para os meus olhos, casou!
Como é
bonita!
É viúvo? Mas tão
novo. Eu o via passar, era menina ainda.
Presta
atenção em mim!
Ele trabalha na venda.
- Falta alguma coisa, mãe?
É ela.
Está mais bonito que nunca. Me olhou, será que me quer?
Como é
linda. Será que me quer?
- Dois metros de chita.
Que tesoura mais boa!
- Da
estampada?
Ela gostou da tesoura.
Ele passando no meu
portão de novo, meu Deus.
Será que me espera? Nem acredito.
É ele. Me viu.
- Tarde.
- Tarde.
- É pesado, ajudo a levar.
- Leva à tardinha.
Ela me quer.
Ele me quer.
- Tarde.
- Entra, põe em
cima da mesa.
- Para você.
Meu tesouro, a
tesoura cortando as sobras de pano para nossa colcha de retalhos, enquanto ele
faz nosso mais novo dormir.
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