Era custoso o preparo da
terra, o plantio e a lida, o cuidá da roça até o colhê. Inda tinha que esperá o
tempo certo da chuva prá tudo isso e depois infrentá as capivara cumeno o roçado, inda fora de
hora, como se fosse à-meia nossa labuta.
Foi aí que pareceu na idéia a arapuca.
Seguino no triero, abrimo deiz buraco de mais de dois
metro, tampamo cum foia de buriti, modo que quando elas viesse cumê, caísse
neles.
E deu certo. Teve dia que chegamo a pegá cinco delas.
Aí era marrá no laço e puxá, depois sangrava uma a uma. Na primera veiz, num
sabia como lidá com o bicho. Mais Miguilina perguntô prá seu Juvito mais dona
Divina e eles explicô prá tirá o coro, depois tirá a banha que formava outro
coro, ficano a carne que era boa de fazê armôndega e guardá na banha de porco.
Durava ano.
E foi o que nóis feiz, enfileramo oito lata de banha de
porco, enchemo de armôndega de carne de capivara. Zefa já perto de discansá,
enjoano cum tudo que era de cumê, nem na cuzinha foi, fizemo tudo suzinho, eu
mais Miguilina.
Na hora de fritá as armôndega, deu um lampejo e levei
uma amassadinha cum farinha de milho e Zefa num istranhô; inda pois querença de
mais.
Num teve injôo nem nada, foi o acabá das preocupação em
tudo que cumia e num sustentava. Desse dia em diante, ela armuçava e merendava
as armôndega de carne de capivara pega nas armadilha do triero.
Mesmo quando iscasseou a pega dos bicho, num sei se pur
isperteza delas ou pur ismazelo nosso no preparo das armadilha, Zefa foi até
discansá sem fartá as armôndega, que era só o que ela cumia.
Nasceu Laurino, grande, forte; a partera nem acreditô,
lembrano os injôo de Zefa. Daí em diante, virou recumendo seu: cumê carne de
capivara desde o primero mêis. A receita ajudava a afamá ela no Vai Vem. Quando
as muié embuchava e cumeçava a baldiá, era só chamá Júlia Capivara, ela dava
jeito.
Era assim que ia pono o cunhecimento nessa fartura,
lugar mais abençoado e de tudo pur fazê, o povo trabalhadô dimais, mas meio sem
idéia das coisa. Pois olha que nesse tempo eles fazia a derruba do mato p’ra
roça e num distocava. Ficava o milho e os toco. Desses, só colhia o estrovo no
passá cum arado.
A primera veiz que Juvito viu a que fiz, ele pois
reparo na trabalheira que dava. Mais quando coí os primero carro de milho ele
num acreditô no rendê do plantio. Hoje ele prepara milhor a roça. Inda aprendeu
a esperá a cheia mode favorecê a distoca.
Juvito ficou meu cumpadre. Dei a caçula, Duvigis pr’ele
batizá e ele pois querença d’eu batizá o dele tamém, que envinha nos dia. Nóis
ficô isperano o nascê.
No dia, quando Neco Talagada foi chamá a partera, na
passagem deu aviso, e num vortô. Júlia Capivara num passô e nóis incomodô. Zefa
num agüentô, bateu lá.
Eu e Juvito pegamo o triero atráis de Neco mais a
partera. Neco encontramo na venda bebeno.
- Onde tá a partera?
- Seu Juvito, ela foi na mesma hora, já divia ter
chegado faiz tempo. Eu parei prá molhá o papo, ela já em ia longe.
Saimo os três pelos triero procurano. Neco, já meio
tonto da pinga, cambaleava na frente. Quando passamo perto da roça, onde tinha
as armadilha, Neco, na frente, parou na primeira e olhou dentro do buraco.
- Isso é hora de pensá em caça, Neco? Onde já se viu.
- A capivara tá aqui, seu Juvito.
- Ponha tento Neco.
- É ela seu Juvito.
Era Júlia, a partera, que tiramo do buraco, das mais
infezada.
- Tenha mais respeito seu cachaceiro. Dizeno p’ro Neco.
Quando chegamo na casa de Juvito, a Zefa já tinha
aparado o minino e tudo corria bem.
Batizamo o Tércio mais Duvigis junto, dos dois, a
madrinha foi a partera, modo de acabar com a disfeita do buraco.
E, desse dia em diante, nunca mais chamamo a cumadre de
Júlia Capivara.
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