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Lindaura reclamava todo dia e
Linoro fingia que escutava. Prometia providências mas, na verdade, não fazia
nada. Ia levando no depois faço, até que fez mesmo. Catou estrume seco no curral do curtume e pôs para
queimar, enchendo a casa de fumaça. Espantar as muriçocas? Espantava. Mas logo,
elas iam acostumando com a fumaça e os da casa enojando cada dia mais daquele
cheiro.
Aparecendo ali e nos vizinhos, em
quantidade maior que o de costume, Lindaura pediu a Linoro para achar o lugar
de onde elas vinham. Na mesma noite os dois foram no terreiro, com a lamparina
na mão, e encontraram o foco na casinha.
- Traiz querosene que vou pôr fogo
e matar o ninho, pediu ele. Lindaura lhe convenceu a esperar o outro dia de
tardinha, hora que elas não tinham saído ainda, matava mais.
Ele acatou. No outro dia, com uma
lata de quarto derramou o querosene na fossa deixando um rasto para pôr fogo de
longe. Foi no borralho do fogão, acendeu um chumaço de palha de milho e quando
ia chegando perto com o fogo... Bum. Só se ouviu o estouro da labareda sapecar
o monte de lenha rachada e a copa das mangueiras ao redor.
A fossa exalando seus gases,
somados ao querosene que ele derramou, explodiu, abrindo um buraco que engoliu
até ele, espalhando sedimento e pedaços da casinha para todo lado. Foi um
corre-corre danado. Lindaura gritava.
– Acode, meu Deus. Os vizinhos
assustados com o estrondo e aquela gritaria, correram, de pronto, no tempo de
segurá-la desmaiando.
Seu Ambrósio, mais dois passantes,
correram para procurar e não encontraram Linoro em lugar nenhum em volta da
casa. Sumira.
Dentro a consternação. Para todos
ali, ele tinha voado com a explosão, caindo longe em pedaços. Era em volta do
quintal em chamas que eles agora o procuravam. A casa foi enchendo de gente,
chegavam só até a porta do terreiro para ver o buraco em chamas, sem aproximar.
Dona Lindaura desesperada, em prantos, gritava querendo sair e procurar o
marido. Batira, nora de seu Ambrósio, segurava, acalmando com chá de erva
cidreira, e Deus sabe o que faz.
O fogo no buraco crepitava no
queimar a lenha e o que restou da casinha, quando seu Geraldinho Mulato
transpôs o umbral da porta descendo o degrau para o terreiro, querendo ver o
acontecido, a madeira queimando estralou mais forte e um vulto saiu de dentro
do buraco. Seu Geraldinho identificou como o diabo em pessoa, por causa das
duas pontas do chapéu que sobrou e do corpo queimado, uma mistura de carne viva
com o sedimento da fossa, como se o buraco tivesse dado nas profundezas. Deu um
grito e saiu correndo sem olhar para trás.
– É o diabo. Passando dentro da
casa cheia, derrubando tudo pela frente até ganhar a rua .
O povo que enchia a sala, no curioso, seguiu ele gritando.
- Cruz Credo, Ave Maria! O buraco
deu nos infernos, o diabo saiu de dentro da terra.
Quem procurava nos arredores os
pedaços de Linoro, ouviu aquela assuada, na gritaria correu, também, sem saber
direito de quê.
Sobrou só dona Lindaura e Batira
que levaram o maior susto quando Linoro adentrou pela cozinha, surdo, todo
chamuscado de fogo e lambuzado de merda, ainda com o chumaço de palha na mão,
olhou para mulher gritando;
– Acabei com elas.
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