domingo, 11 de junho de 2017

Perdoado Quenzim


 
 
Lá vem me atentar. Já não chega o aborrecimento de ver aquela torre ficar quase mais alta que minha cumeeira, ele, depois que chegou para dar acosto ao vaqueiro Quenzim, não sai daqui do curtume. Pensa que não vou disputar direito. Quenzim já emporcalhei com cachaça e no jeito de matar os bois. Esse tempo perco é não.

Ele que continue vindo aqui, exibindo a torre, fazendo o que quiser. Incomoda não. Pode pôr sino, cruz, mandar fazer afrescos, avisto mas não tenho que levantar a cabeça, nivelo com a altura da cumeeira, perde tempo o colega. Esse vaqueiro é um fraco, basta um gole de cachaça para desarrumar ele. O vivente já vem com a natureza dele. Adianta ir na igreja? Aprender reza nova?

Cerco ele, pego a beleza, cochicho no ouvido:

 

- Depois do gole, é sua...

 

Esse mundo é um de quem quer, de quem sabe pôr arrelia é também. O colega cerca Quenzim. Eu não fico só no de longe esperando a hora de açular no tempo dum gole para destravar o real dele. Com esse lido só quase com cachaça, é o que põe ele no fraco.

Adianta o colega ficar grudado nele? Cochichando caridade no carecer dele, aferro à-toa. Quenzim põe o olho na arroba do boi e eu assopro no ouvido dele.

 

– Leva um pedaço por conta da caridade do patrão, faz guizado...

 

No juízo dele só ponho a favor, o colega põe até perdão, quer de qualquer jeito. Aproveito o ouvido.

 

- Toma pinga, faz de novo...

 

Meu jeito é esse, descubro a fraqueza primeiro. Vou cevando o vivente com coisinhas que o colega nem percebe. Esse de agora, o Quenzim, menino ainda no alambique do Tartulfo, onde o pai trabalhava, quando foi pegar a caneca de garapa, o colega distraiu e eu assoprei:

 

- Prova daquela lá...

 

Descobri a fraqueza. Hoje, só atento com o gole, o resto vem junto na natureza dele. E o jeito dele matar os bois? Não reparou nas maldades que fui bafejando, devagar, anos e anos, daqui da cumeeira.

Agora o colega vem de novo me afrontar com o perdão de tudo? Por que não deixa Quenzim acabar de estrebuchar, sangrando nesse chifre afiado? Por que não larga mão dele? Já não chega o abodego daquela torre ficar mais alta que minha cumeeira?

 

 

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