terça-feira, 28 de março de 2017

O dramaturgo


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Autor muito aclamado, suas peças sempre faziam sucesso.

Prêmios e reconhecimento por onde passava. Livros publicados, palestras em universidades, seminários, uma unanimidade.

Sempre que lhe perguntavam de qual personagem gostava mais, respondia: ora um ora outro.

Mas na verdade a preferida nunca dissera a ninguém, guardava para si a grande paixão que sentia pela atriz de televisão fracassada, criada para um dos textos de que mais gostava. Um monólogo existencialista engraçado e denso ao mesmo tempo. Seu trabalho menos aplaudido e, em sua opinião, a melhor encenação de todos eles.

A atriz que viveu a fracassada abandonara o teatro, seduzida por uma religião. Nunca mais a vira.

Numa viagem com a trupe, começou a ter sonhos recorrentes com a personagem preferida. Sua melhor criação passava, correndo de uma multidão, na frente do hotel.

A cada sonho distinguia outros atores representando, eram seus perseguidores. O único rosto que identificava era o da atriz que a interpretara.

Resolveu; naquela noite, ficaria sem dormir para quebrar a sequencia daqueles sonhos.

Alta madrugada; estava lendo quando ouviu a gritaria e as batidas na porta; era ela pedindo socorro.

Era ela querendo fugir da ficção.


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