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Estava sozinho em casa, sentado na
poltrona de couro, com a espingarda entre as pernas. Fechou os olhos
percorrendo as lembranças, identificando cada momento bom, cada decepção.
Sentiu saudade.
Como se fosse um ritual, abriu a caixa
no colo, escolheu a ferramenta e começou a limpar a arma. Desmontou-a peça por
peça, lixou as pequenas ferrugens, limpou com a flanela, passando óleo fino em
cada encaixe. Montou e desmontou duas vezes, conferindo a precisão do
funcionamento. Levantou-se e foi buscar o carregador de cartuchos manual,
escolheu um e calibrou com gestos seguros, a carga reforçada.
Terminou a preparação e guardou o
material; tomou um copo d’água, tinha a boca muito seca. Olhou contra a luz o
cartucho como se o medisse e lhe conferisse uma missão.
Pensou na mulher quando chegasse, o
quanto se aborreceria. Desencaixou os dois canos da espingarda e carregou o
esquerdo, depois resolveu e mudou o cartucho para o direito.
Um tiro só, o que bastava; depositou a
arma carregada no braço da cadeira, levantou-se e ligou a televisão no último
volume; voltou, sentou-se e reviveu alguns momentos, armou o cão e respirou
profundamente.
Puxou o gatilho, atirou no tubo da TV.
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