domingo, 8 de maio de 2016

Ano-novo


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Adorava o perigo, os desafios e o desconhecido que exercia enorme fascínio em sua vida incomum. Um tipo de prazer que não sabia explicar.

Tinha experimentado de tudo que esteve ao seu alcance e foi possível. No cotidiano, nos esportes, nos relacionamentos, bebidas, drogas, transgressões, perversões. Freqüentado todo tipo de religião, culto e estudo. Dominava a economia, a informática, tocava vários instrumentos, lia música na partitura e aceitava todos os desafios, por mais tolos que fossem.

Quando começou a se interessar por filosofia, isolou-se e passou a não sair mais de casa. Ficava o tempo todo lendo.

A morte o fascinava e acabou por levá-lo a freqüentar o necrotério, assistir às necropsias, a preparação dos corpos para os velórios e a ler tudo que podia sobre suas causas, o tempo, os relatos de quem ficara em coma profundo ou que tivera qualquer contato com coisas estranhas sobre a vida e a morte.

Na véspera do ano-novo, encontraram-no vestido a caráter, sentado e sem vida, com um cravo branco na mão descansada no encosto do banco de jardim que ficava nos fundos do clube, como se estivesse namorando. O corpo enrijecido e no rosto um sorriso insinuante.

Seus amigos tinham-no visto dançar no baile com uma mulher belíssima e tinham certeza: era ela, ele havia enfim conquistado a morte.

 

 

 
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