Dava medo, o mato ia fechando e
fechando mais, até tampar como fosse uma parede, ninguém que ali andasse ia
descobrir uma passagem, só se transpondo o emaranhado trançado de cipós
enlaçando tudo e com a ajuda de alguém que já conhecesse bem o lugar. Não era o caso de Dalvo, mateiro experiente,
já estivera algumas vezes naquelas brenhas mas nunca tinha achado o jeito de
entrar na grota, saber o lugar certo nem supunha. Que vivia alguém lá, menos
ainda. Mas ele era muito esperto no distinguir e na falta de quem, declarado
conhecesse, ele se ofereceu. Ia com Zé Cosme e o patrão dele.
Já tinham caminhado bem uma hora
no mato fechado, avistando por entre folhas a serrinha, e nada de encontrar o
trieiro que o benzedor usava. Dalvo, com o facão tentava abrir caminho,
cortando os cipós e pela posição do andar, vendo o morro, tinha quase certeza
de que era ali, quando chegava perto, não era.
Num prazo, parando para tomar água
e enrolar um cigarro embaixo dum pau mais frondoso, ouviram um barulho de bicho
andando no mato.
- É onça, gritou Zé Cosme,
engatilhando a espingarda e apontando no rumo do barulho. Antes que atirasse,
Pai Nanias pulou de cima do galho no meio deles, o silêncio formou no susto que
cada um levou. O primeiro a falar foi Dalvo.
- É pelo galho que ele passa!
E começou a rir assustando o
benzedor, desacostumado com gente de qualquer espécie. Seu Laudêmio, percebendo
que o susto foi maior nele, se aproximou e contou que estavam procurando um
jeito de passar para a grota com o sentido de achar a casa do benzedor, se ele
sabia onde era.
Já de cócoras ele perguntou, se
mal pergunta fosse, o que eles queriam com o velho? E quem eram? seu Laudêmio
explicou que eram do Arraial e precisavam com urgência de ajuda, que sua filha
estava, fazia dias, de cama ruim dos peitos. Que tinham tentado de tudo, era
grave e precisavam muito que Pai Nanias fosse benzer na derradeira esperança.
– Vamo em casa cumigo pegá umas
ervas. E foi subindo no pau, afastando a galhada.
Era como se fosse uma escada, do
galho até a pedra e desta para o trieiro que descia até o fundo do grotão.
Aquela figura magra, barba e cabelo para mais de muitos meses sem cortar, jeito
cadavérico, de gente que mal comia, dava medo.
Ele foi apanhando, dentro do
escavado do morro, suas ervas e distribuindo em duas capangas que cruzou por
cima da cabeça, uma para cada lado da cintura.
Voltar foi o mais fácil, ele pediu
que alguém tomasse dianteira, e arrumasse um tacho de água quente e um lençol
branco. Assim foi que Pai Nanias chegou na cabeceira de Rosinha e lá ficou duma
tarde varando a noite até a tardinha do outro dia com suas rezas, suas infusões com fava de
sucupira e seus emplastros.
Na boca da noite, sem que ninguém
conseguisse entender, ele saiu do quarto pálido e sem dizer uma palavra, correu pelo fundo da casa no rumo do Mato
Dentro, causando estranheza em Zé Cosme; quando se cruzaram na porteira, Pai
Nanias resmungava o nome do diabo, como se esconjurasse o cujo.
No outro dia, seu Laudêmio e Dalvo
foram até a grota agradecer Pai Nanias a reza e a benzedura que tirou Rosinha
da cama. Levavam, além de muita comida, dinheiro, e por insistência de Zé
Cosme, uma mula baia de presente que amarraram próximo à passagem para a grota.
Lá não encontraram nem o benzedor, nem uma sobra das coisas dele, só o buraco
vazio no Mato Dentro.
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