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Mesmo jeito, mesma mesa, mesma bebida,
mesmice no olhar triste. Ela o via quase todos os dias no bar. Bebia uma
garrafa inteira, pagava a conta e ia embora. Um apaixonado, diziam os
habituais.
Aproximou-se o mais que pôde e, a cada
vez que conversavam, tentava induzi-lo a abrir o coração, contar do amor que
sentia.
Um dia ele bebeu demais e precisou ser
levado para casa, precisou chorar suas mágoas; aceitou o carinho e a atenção
dela em ouvi-lo.
Acordou no meio da manhã, sozinho, nu como gostava de dormir
e com uma música suave programada no aparelho de som. A cabeça doía, quem era
ela? O que tinha acontecido? Já era fim de tarde; lembrou-se que eram amigas de
infância; lembrou-se de ter conversado muito, de um perfume embriagador, do
calor de um corpo nu. Teria sonhado? Lembrou-se da música, do prazer. Tinha
gostado; estava escuro, muito escuro.
Outra noite. Chegou no bar, mesma
mesa, mesma bebida. Esperou. Ela nem se sentou, de pé mesmo o convidou para
saírem dali, tinha uma proposta.
Sabia tudo sobre a pessoa que ele
amava, conhecia-a muito bem desde a infância; sabia do que gostava e do que não
gostava, seria um segredo, não diria a ninguém.
No escuro, podia fingir ser ela como
na noite anterior.
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