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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Embriagados - MQ
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A conversa se arrastou por mais de
duas horas. Mágoas, demandas, traições e ressentimentos era um rascunho se
desenhando.
Justificavam o que parecia justo. Um
afirmava o amor. Outro escolhia não amar mais e dizia isso claramente. Os dois
estavam mentindo.
Metáforas tiraram a afiação das
palavras. Deslealdades, covardias e falta de limites foram imputadas a razões
egoístas, como coisa do humano convivendo no amor.
Os melhores momentos não faziam parte
daquele ato.
O que um idealizou do outro não estava
mais no gesto dos olhos, tinha se perdido em momentos diferentes. Faziam falta.
Para um, viver tudo que pudesse. Havia
muita vida em si. Para
o outro, o melhor do que tivesse, havia muita morte em si.
Na mesa, a toalha manchada de molho, a
bebida que não embebedava. Era um momento comum.
Quantidade e qualidade provavam da
mesma perda, a verdade dizia suas mentiras e a mentira, suas verdades.
Em volta, na outra mesa, a decepção
começava a beber com o ódio; o perdão pedia a conta e tentava retirar o amor e
a paixão embriagados do local.
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
Espelho - MQ
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Costume, acordar de manhã, sentar-se
na cama com os dois pés bem plantados no chão, segurar com as mãos cada lado da
barriga, pegando por baixo como se a levantasse.
Na frente do espelho ficava olhando,
perdida na estética do pensamento. Sonhava mudar, dar um jeito nas rugas, puxar
o rosto, fazer aquele tratamento moderno para a lanugem e, principalmente,
tirar um pouco da gordura localizada. Falava com o espelho, receitando; ouvia
da imagem possibilidades, certezas e simulações.
O local tinha sido escolhido de tal
forma que, formando o ângulo com o chão, o espelho pudesse refletir fielmente o
que incidia, inclusive os pensamentos, numa leitura de dimensões e percepções muito
precisa.
Quando quebrou, os muitos pequenos
pedaços se espalharam no chão. Os cacos acinzentados perderam a propriedade
refletora e deixaram escorrer de dentro, como se sangrasse, os fragmentos de
todas as imagens que já lera.
O espelho novo foi colocado no mesmo
quadro de madeira, na mesma distância da parede e no mesmo ângulo do chão.
Instalado, manteve as digitais do
operário, apenas por instantes; sua superfície lisa e brilhante logo se auto limpou.
As propriedades de reconhecer e refletir as imagens demoram aquela tarde
inteira e uma noite para serem processadas e permitir ler o ambiente, quase
imutável, que faria variar em cada posição de olhar.
A alma acordou lânguida; sentou-se na
cama, segurou com as mãos cada lado da barriga, suspirou e foi para frente do
espelho novo.
Suspirou novamente e aí ouviu a
infâmia: - gorda.
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sábado, 27 de dezembro de 2014
ENTÃO, FOI ASSIM? - RUY GODINHO
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O programa Então, Foi Assim? deste sábado, será o segundo, de uma série de dois, inteiramente dedicados ao talento e a criatividade do cantor e compositor capixaba Zé Renato.
ESPECIAL ZÉ RENATO II
Na ocasião, ele nos contará as histórias de:
- Bicicleta;
- Ânima (c/Milton Nascimento);
- Papo de passarim (c/Xico Chaves);
- Cândidas neves (c/ Nei Lopes) e
- Cabô (c/Pedro Luís)
Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde na Nacional FM com retransmissão para mais de 240 emissoras em todo Brasil.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
RODA DE CHORO - RUY GODINHO
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O Roda de Choro deste sábado vai ser uma homenagem aos "pianeiros", como eram chamados os pianistas populares que ganhavam a vida tocando em cinemas, festas familiares, bailes, agremiações musicais e lojas de música, no final do século XIX e início do século XX.
Durante todo o programa, conversaremos com o pianista e pesquisador Luiz Eduardo Domingues, que gravou o CD Os pianeiros - Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e companhia, lançado em 2013.
Roda de Choro, sábado, meio dia pela rádio Câmara FM, 96,9 MHz, de Brasília, retransmitido em mais 205 emissoras pelo Brasil, Japão e Angola.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Despedida - MQ
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Disso me encarrego, dos teus sapatos,
da lógica dos teus vestidos, dos pequenos acertos – de lembrar, de esquecer, de
guardar.
Não misturo minhas mãos a tapas e
agressões, meu egoísmo é solidário e solitário – o tempo não pode voltar.
Vai que haverá ainda muitas noites de
luar, pisa neles, posa neles – deslumbra.
Meu caminho nunca se acabará, não
tenho destino, o que me ungiu foi dor de mundo – nada acalmará.
Disso me encarrego, do teu sentimento,
da mágica de algum momento, de não te esquecer – minha estatura.
Não misturo o que não pondero, um
poeta pode dizer minhas palavras e ser em vão – desacato e sei desatar o azar.
Vai que é vida, o mundo escolhe e se
deixa escolher, a sede de algum ponto de vista, está na água – nasça na sua
viagem.
Meu rosário é desigual, contém todos
os erros que são o meu jeito também, contém o direito pertinente de tê-los –
meus algozes.
Disso me encarrego, da mentira das
mãos, do que não era preciso, e da urgência de algum olhar; me encarrego do
silêncio – maior palavra.
Não misturo o que me deste com o que
fizeste calar, subestimaste minha hora e a obra-prima que foram os instantes -
amarga boca.
Vai, a cena é tua, freqüenta o perigo
de ser feliz, a necessidade do teu corpo poderia ser o meu e a dele o teu, era
tempo ainda, mas deixa a tristeza do nosso amor no silêncio – bebo a falta.
Esse é meu tanto de mágoa transposto
para o amor que carrego – tanto e tão pouco.
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
No escuro - MQ
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Mesmo jeito, mesma mesa, mesma bebida,
mesmice no olhar triste. Ela o via quase todos os dias no bar. Bebia uma
garrafa inteira, pagava a conta e ia embora. Um apaixonado, diziam os
habituais.
Aproximou-se o mais que pôde e, a cada
vez que conversavam, tentava induzi-lo a abrir o coração, contar do amor que
sentia.
Um dia ele bebeu demais e precisou ser
levado para casa, precisou chorar suas mágoas; aceitou o carinho e a atenção
dela em ouvi-lo.
Acordou no meio da manhã, sozinho, nu como gostava de dormir
e com uma música suave programada no aparelho de som. A cabeça doía, quem era
ela? O que tinha acontecido? Já era fim de tarde; lembrou-se que eram amigas de
infância; lembrou-se de ter conversado muito, de um perfume embriagador, do
calor de um corpo nu. Teria sonhado? Lembrou-se da música, do prazer. Tinha
gostado; estava escuro, muito escuro.
Outra noite. Chegou no bar, mesma
mesa, mesma bebida. Esperou. Ela nem se sentou, de pé mesmo o convidou para
saírem dali, tinha uma proposta.
Sabia tudo sobre a pessoa que ele
amava, conhecia-a muito bem desde a infância; sabia do que gostava e do que não
gostava, seria um segredo, não diria a ninguém.
No escuro, podia fingir ser ela como
na noite anterior.
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
domingo, 21 de dezembro de 2014
sábado, 20 de dezembro de 2014
ENTÃO, FOI ASSIM? - RUY GODINHO
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Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde na Nacional FM com retransmissão para mais de 240 emissoras em todo Brasil.
O programa Então, Foi Assim? deste sábado, será inteiramente dedicado à excepcional parceria dos cantores e compositores Zé Renato, Cláudio Nucci e Juca Filho, responsáveis por uma safra considerável de belas canções.
Na ocasião, eles nos contarão as histórias de:
- Toada;
- Quem tem a viola;
- Pelo sim, pelo não e
- As moças.
Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde na Nacional FM com retransmissão para mais de 240 emissoras em todo Brasil.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
RODA DE CHORO - RUY GODINHO
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RODA DE CHORO - ESPECIAL TÓ TEIXEIRA
O Roda de Choro deste sábado vai homenagear o violonista e compositor Tó Teixeira, nascido em Belém/PA, em junho de 1893, e que desenvolveu a escola do violão paraense.
Durante todo o programa, conversaremos com o violonista e pesquisador Salomão Habib, que gravou quatro discos, um DVD e publicou um livro biográfico com as partituras das obras de Tó Teixeira.
Roda de Choro, sábado, meio dia pela rádio Câmara FM, 96,9 MHz, de Brasília, retransmitido em mais 205 emissoras pelo Brasil, Japão e Angola.
Roda de Choro, sábado, meio dia pela rádio Câmara FM, 96,9 MHz, de Brasília, retransmitido em mais 205 emissoras pelo Brasil, Japão e Angola.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
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sábado, 13 de dezembro de 2014
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O programa Então, Foi Assim? deste sábado, será inteiramente dedicado ao talento e à criatividade do cantor, compositor e pesquisador musical paulistano Luiz Tatit, reconhecidamente um dos mais profícuos criadores musicais do país.
Na ocasião, ele nos contará as histórias de:
- Baião de quatro toques (c/Zé Miguel Wisnik);
- A companheira;
- Capitu;
- Almas gêmeas e
- Depois melhora.
Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde na Nacional FM com retransmissão para mais de 240 emissoras em todo Brasil.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
RODA DE CHORO - RUY GODIHO
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ESPECIAL OS REGIONAIS II
O RODA DE CHORO deste sábado vai ser especial. Durante todo o programa desvendaremos a história dos grupos regionais: sua origem, a razão do nome, a importância como formação musical para a música brasileira, a parceria das rádios com os regionais, a função tapa-buraco na programação das emissoras, os principais grupos e algumas curiosidades interessantes.
Roda de Choro, sábado, meio dia pela rádio Câmara FM, 96,9 MHz, de Brasília, retransmitido em mais 205 emissoras pelo Brasil, Japão e Angola.
Produção e apresentação: Ruy Godinho
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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Chapada do São Marcos - MQ
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Distrito do Arraial de
Nossa Senhora da Conceição, Distrito do Vai Vem, Município de Entre Rios, hoje
Ipameri, no começo era o Sertão do São Marcos.
Nasci lá.
Chapada do
São Marcos
bera do Ri
do Braço
Vai Vem é
afruente
entre águas
entre rios
meio de
cerrado
onde avoa
codorna
e ispanto
perdiz nos passo
na porta da
casa
bambuzá
parceiro de vento cantadô
na porta da
casa tamém
um pau
frondoso
que cumula
sombra nos embaxo
as foia
sôrta antes da frorada
e arcochoa a
sombra
pr’eu deitá
cum meu amô
se cai fror
durmida
nóis panha e
se prefuma
se cai
diurna
nóis se
farta de cheiro que nem beija-fror
teno tropa
prá tocá
nóis vai no
passo manso
mode num
cansá animá
mode tê paga
boa
corda cedo
dia sem raiá
móia os pé
no sereno
prá animá
incontrá
no pasto
pequeno
nóis campeia
eles
traiz,
arreia e vai gado buscá
Istimosa,
Paridera, Esperança, Lambari ...
às veiz nóis
passa no vau
céu vermeio
parino o sol
merenda já
tá cherano
o corpo
recrama sustança
nóis tira o
leite
aparta o
gado
e atende o
corpo cum zelo
pur pricisão
às veiz
nóis mata um
capado já chei de ingorda
aí é
festança
nóis sangra
ele antes da lida do gado
mode as muié
aprepará
a limpança,
o discarne, o retaio
fazê a
lingüiçada e as armôndega
se truveja
nas cabicera do Braço
nóis fica
preparado
água do ri
vai lambê as berada
e favorecê a
distoca
aí, é o
imborná de paçoca
a cabaça
d’água e o invergá do corpo no eito
nos ôi de
inxada cumulado na vida
o atestado
de labuta
coisa que os
calo das mão
num faiz pur
sê só dois
o da firmeza
e o da repuxa
adipois da
lida
no terrero,
em vorta do lume
cum as
istrela recamada no céu
a cheia
fazeno crarão
os vaga-lume
riscano o negror da noite
na guardança
da terra
nos calo da
mão
o cantadô
recebe a viola
e na
quietude
canta sua
dismidida querença
ah Sertão do
São Marcos
divisórias
águas do Braço da minha vida
num achei a
sabedoria de ficá
e me perdi
nos caminho de vortá
.
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