terça-feira, 25 de dezembro de 2012

POEMA DO IMPERADOR - CARLOS MOREIRA


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eu já disse tudo
que o imperador
queria ouvir

já disse que as estrelas
não são minhas
e minhas filhas
também não

que minha casa
não faz falta
me apetece
o sol e o frio

que não sei quantos
inimigos foram mortos
e ainda mortos torturados
no que restou
de sua semente

disse que não fui
até a fronteira
que não sonhei
meu próprio sonho
que minha carne
era fraca
para suportar
sua presença

disse que meu vômito
e minha imensa náusea
eram loucura e fantasia
e o veneno já não cortava
minhas veias

disse que jamais fugiria
e que até meu último dia
suportaria docemente
a cegueira de meu filho
a derrota de meu povo
o esquecimento
de meus pais

e disse mais:
que seus crimes
eram meus
meus olhos eram seus
e sua infâmia toda minha

já disse tudo
que o imperador
queria ouvir

porque cortar
a minha língua?





carlos moreira


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