sábado, 8 de outubro de 2011

SERTÃO DO SÃO MARCOS - Rudiei Arrependidos

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Rudiei Arrependidos evitano conferição. O sol no alto da tarde num deixava firmá as vista e no arrodeio me vi perdido. A mulada no desassussego de caminho novo, agitada, andava no ponto do disparo.


I’eu num avuliava nada não, o senso ficava só no pensá em Mundica, filha mais nova de seu Tertuliano e dona Idalina, primor de donzela, fosse nas prenda ou nas anca farta, era toda buniteza vazada nos zói noturno, mostrano só iscundição.


Quando dei fé, Toconha já tava atolada pelo meio das pata da frente e lutava prá saí do atolo.

- Êia, Ojero.

Gritei p’ro guia, parando a mulada.


Labuta de mais de dia prá tirá ela da grota e mais otro no secá da porva. Inda sem sabênça do caminho.


Subia corte, descia grota, indo pur onde o intuí apontava e era como cumulá cordão em novelo, marrando ponta de caminho em cumeço de caminho, era só disguverno, o rumo. Num achava o Veríssimo nem topava cum o Braço.


Nos contá mais de trinta légua, pelos dia passante, e nada de vê o do cunhecimento. Nem grota, nem campo, siqué um buriti, nada duma barranca de rio. E o mato ingrossano em toda ponta de caminho. As mula tudo cansada sem custumá cum essa modalidade de istrada.


Assombro de noite sem lua, medo de onça, d’eu e das mula, quando a dita urrava no em longe.


Às veiz Mundica paricia, nos lembrá, sustentano a corage.


Cunhicia tanto os caminho, num dava prá criditá tamanho ismazelo meu, nos rumo da evitação.


Tava no entremeio dos pensá quando Ojero istancô e oiô prá trais como pedisse silenço. Inrolei meu cigarro de paia nesse tempo. Ojero, num balangá de cabeça, mudô de caminho, quase no trote, até chegá na bera do Braço. Agora era rio acima até Tertuliano.


Chegamo era noite formada, descarrego e sossego na durmida. Paricia até que num levava aquela carga; medo tinha não, receio de luta era só pur Mundica, i’eu robava ela quando a jagunçada cumeçasse a chegá. Ela havia de querê.


Engano meu, no manhecê a jagunçada já tava toda lá. Firmino contô que eles pois reparo n’eu chegá, mais sabia que era a porva e num parecêro prá num ajudá no descarrego. Quando fui recebê a paga, pude vê por entre o vurto de seu Tertuliano, encostado no batente da porta, que dentro da casa só tinha jagunço, de Mundica, a irmã e dona Idalina, nem sombra.


Me dispidi e tive istrada, caminho de Entre Rios, na esperança de sabê de Mundica, sem fazê perguntação.


Já num bom prumo de caminho, no bebe água no Lajeado, me cercô uns deiz jagunço, puis atenção só num, que vi logo, era agregado dos Costa. Mais num era o comando não. O das orde cunheci logo, ficô mais à distança e foi logo pirguntano.

- Que qui o cristão deixô p’ro Tertuliano?

Minhas perna trimia, era o falado Dé Cristão.

- Incumenda de porva, seu moço. Falei cum toda firmeza que achei.

- Acumpanha nóis, ixigiu Dé Cristão.

I’eu dentro dus pensamento, no meio da guerra e sem nem sabê o purquê da rilia. Mais perguntá, perguntava não.


Na chegada, seu Germano Costa na porta da casa cum as perna afastada e as mão na cintura, jeito de gente infezada.

- Esse um que troxe a porva, pode sangrá ele? Disse Dé Cristão.

Num abri a boca, esperei seu Germano falá.

- Quanto de pólvora o senhor trouxe e como passou Arrependidos?

- Seu Germano, vim cum a mulada toda carregada e, no Arrependidos, arrudiei, como fiz p’ro sinhô quando careceu. Num puis sabença na rilia de ninguém, labuto só cum o ofício, sem carecê pergunta-ção.

Respondi juntado toda corage.

- Deixa ele ir. Falou seu Germano

Só virei a rédia da mula passando rente a jagunçada, juntei a tropa e ganhei istrada. A parada foi só na venda do Manco, cum o abrando do susto tirado no sigundo gole.


A nutiça da briga já varava mundo no contá do povo e parte pur falação do Manco que, mal cheguei na venda, já foi logo contando o mutivo da disavença.

- O povo pensa que a rilia é pur causa da Aguada do Buriti, mais num é não, é coisa mais antiga. A Aguada do Buriti foi o intorno da réiva dum cum otro. Isso cumeçô purque Germano quiria casá cum dona Idalina e o pai dela num pois gosto. Tertuliano cabou casano cum ela; Germano nunca conformô e cumeçô a riliação. Primero, foi pur causa dum boi dele que pareceu no manguero de Tertuliano, Germano deu parecença de robo. Depois na festa de Nossa Senhora da Conceição, os dois era festero, rumação do padre Crispino, que Deus o tenha, no criditá que acabava cum a disavença. Que nada, os dois brigava até dentro da igreja, o padre ficava doido. Quando Mundica imoçô, abrandô a confusão; diz que Germano, já viúvo, punha muito gosto nela; no passá do tempo até agrado os vizinho trocô.

Meu sangue nessa hora freveu, mais num dei demonstra. O Manco recomeçô.

- Ele pois o olho em Mundica e dona Idalina, cada dia, punha mais reparo nos oiá dele. Um dia falou cum Tertuliano e ele brabo perguntô à Mundica se era do gosto dela, a agradação daquele véio. Mundica assustada disse que não e ficou desacorçoada num canto da varanda, medo do pai casá ela. Antes que Tertuliano pudesse ir tirá satisfação, Germano apareceu e pediu Mundica em casamento. Foi muito desassussego p’ros dois, mas na iducação, num teve cunsintimento e Germano saiu de lá nos pur fora em paiz mas, no de dentro, a réiva cunsumia.


Alívio meu.

- Desse dia em diante, num houve sussego. O negá da mão de Mundica foi agravo difinitivo, até cerca teve que fazê na Aguada do Buriti que agora é chamada de Buriti Cercado. Nunca ninguém viu tanta brigaiada.


Agora, dum mais de mêis prá cá, é essa ajuntação de jagunço. Tertuliano já mandô até dona Idalina mais as mininas cá p’ra rua, na casa de Anacleto.

Era só o que carecia sabê.


Fui pôr trato nas incumenda de seu Anacleto e dona Fia e lá, entre o proseio e os apontamento, pude vê Mundica, mais sinal num fiz. Quando o coração intende, o resto do corpo acumpanha. Desse dia em diante, passei a ficá pela madrugada na frente da casa, fumano um cigarro de paia atráis do otro p’ro lume apontá p’ra Mundica minha isperação. No tercero dia, um sinal de lamparina. Fui lá e na janela cumbinamo o dia.


E nesse, robei a moça.





Leia a obra completa aqui: http://sertaodosaomarcos.blogspot.com/
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