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Obra-prima
Magro, muito magro. Andava pela rua puxando o ambiente em volta pra dentro de si. Parecia, em tempo integral, ensimesmado; como se tecesse uma malha improvável com o que percebia ao redor. Quando menino, na adolescência, depois adulto, sempre fora assim.
Em qualquer lugar em que estivesse, parecia não estar presente, nem era notado. E quando estava, pouco falava. Mas sorria e ouvia parecendo não entender nada e, ao mesmo tempo, estudando cada palavra, cada semblante à sua volta.
De vinho gostava muito, uma taça só tomada em pequenos goles, enquanto sua fisionomia mudava, o rosto ficava ríspido e nele uma possibilidade de mutação se desenhava. Era quando desaparecia, como se algum caminho o tivesse tragado.
Nunca recusava um convite. Na hora marcada estava lá, primeiro a chegar e a sair. Houvesse vinho, uma taça. Se não, o tempo de se dizer ali, sem de verdade estar.
Dele não se sabia nada. Onde morava? Tinha família? O que fazia pra viver? Nenhum amigo mais próximo, nem um amor. Nada, um mistério...
Ao ser perguntado: moro aqui perto, tenho um irmão que não vive aqui. E sua profissão, respondia de pronto: sou poeta. Assim interrompia qualquer conversa sobre si. Profissão: poeta, era tudo que se sabia dele.
Quando o encontraram, na praça em frente, naquela manhã, apenas o silêncio transitava nas imediações, parecendo acompanhar o corpo do velho poeta.
Na necropsia, o espanto. Nas suas vísceras só havia poesia.
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MQ
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domingo, 29 de abril de 2012
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Gostei muito, Marcos!
ResponderExcluirEssa criatura refugiada em sua
poesia e solidão...
Sempre vivem e partem sozinhos,
atrás dessa 'malha improvável'
que tecem à sua volta!
Sem compreender o resto, sem
que possamos tocá-los!
Abraço carinhoso.
Obrigado Jac., abraços.
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