Tinha se mudado
naquela semana em que a viu pela primeira vez. Balzaquiana simpática e muito
séria; sua vizinha, muito falante e educada, gostava de ficar conversando com
todos e, por isso, sabia de tudo que se passava com os outros moradores.
Nunca soube o
que fazia, saía sempre no começo da manhã e voltava no início da noite.
Mal se viam e,
quando acontecia, ele notava um olhar desconfiado de donzela reparando muito,
uma espécie de desejo e temor ao mesmo tempo.
No começo não
desconfiou, mas com o passar do tempo notou um desconforto dela quando ficavam
sozinhos no elevador. Nesses dias, um barulho de móveis sendo arrastados,
coisas mudando de lugar ressoava pela calma da madrugada.
Um dia resolveu
convidá-la para ouvir música, tomar uma bebida ou um café. Ela prontamente
recusou, assustada.
Num sábado, ao
sair, viu que a porta estava entreaberta e olhou casualmente. Percebido, foi
como se tivesse sido pilhado em uma contravenção. Com o atestado de virgindade
sendo exibido em uma das mãos, escancarou a porta antes de batê-la com força.
Virou as costas e foi mudar os móveis de lugar.
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