quarta-feira, 29 de julho de 2009

VAQUEIRO MARAJOARA - ENCANTARIAS, CHULAS E LADAINHAS

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Fumando o Tauari
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Convidados: Nilson Chaves, Celso Viáfora, Joãozinho Gomes e eu, estivemos no Marajó onde passamos uma semana, embrenhados nas fazendas das margens do Paracauari na perspectiva de conhecer mais profundamente os valores culturais do Marajó e traduzi-los na nossa criação individual ou mesmo idealizar algum trabalho coletivo tendo como foco a cultura da Ilha de Marajó.

Lá freqüentamos a lida do vaqueiro e as pajelanças, ouvimos historias, chulas e ladainhas, recolhendo tudo o que pudesse traduzir o lugar e sua gente.

A idéia coletiva foi de um documentário cuja figura central seria o vaqueiro marajoara que, em nossa observação, sintetiza toda a cultura marajoara – seus modos, as chulas, ladainhas, pajelanças e a solidão que paradoxalmente os une em vez de separá-los. O jeito de lidar com a natureza, com o gado vacum e bufalino e com as águas e a estiagem.

O documentário seria todo narrado pelo vaqueiro centenário Preto Juvêncio e baseado em sua experiência de vida e de seus companheiros de profissão. Escreveríamos o roteiro, as músicas e canções baseadas nesta narrativa.

Lamentavelmente o projeto do documentário não vingou.

Do material recolhido, historias, palavras, modos, crenças, pajelanças, doutrinas, oralidades, vestimenta, sensualidade, amores, formas de lidar com o trabalho, as encantarias, comidas, remédios naturais etc... transformei num feixe de poemas. Sempre com o canto de uma doutrina (canto de pajelança) recolhida e adaptada ou mesmo criadas para funcionar como sabedorias em cada texto escrito, já com intenção de serem musicados, na tentativa de reavivar as chulas e ladainhas marajoaras.

Neles transpiram o vaqueiro marajoara e sua luta cotidiana. A rudeza dentro da harmonia que é sua vida. Seus quereres, fazeres, jeito de falar e a convivência social, o respeito com a natureza e a sabedoria de seus menores modos.

Aqui serão postados sempre com este título durante os próximos meses
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MQ
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Para:

Jacaré
Preto Juvêncio
Ruxita
Elvira
Alacizinho
Nilson
Celso
e
Joãozinho


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“No coração a gente tem é coisas igual ao que nem nunca em mão não se pode ter pertencente...”

João Guimarães Rosa


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Vez em sempre
Os pés descalços
Calçando o mundo

No lugar que passado
Não é longe

No lugar marajó
Meu sertão



“Onde índio se escondeu
Quilombola já se escondeu
Curiboca esconde agora”






°°°


Vaqueiro velho do Desaguadouro


Nos campos virentes
Lá no Desaguadouro
Lugar de aruanãs e acarás
De salga e aningueiras
Aracus e curimatás

Onde só caboclo sabe
Qual caminho de chegá
Ensina pra todo mundo
E ninguém sabe encontrá
Teve gente que por perdido
Se aportou em Muaná

Lá vive um ser cambado
Que se esforça pra andá
Parece com mucura
Imita tamanduá
Um ser que não tem tamanho
Mas tem jeito de atacá

Com semblante encanecido
Duas sementes no olhá
Sabe cantá dolente
Encanta quem apreciá

Dizem que foi vaqueiro
Nos tempos lá do passado
E sofreu a desventura
De amor atraiçoado

Por isso quando caboclo
Vai por lá trabalhá
Põe algodão nos ouvidos
Evitando se encantá


“Montaria derrubou
Vaqueiro ficou cambado
O amor desgovernou
Andou pro outro lado”

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