sexta-feira, 29 de maio de 2009

CONCEIÇÃO CAMPOS - A letra brasileira de Paulo César Pinheiro

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PAULO CESAR PINHEIRO - Vidência

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Eu vi uma velha, um velho e vi um menino.
E sobre as mãos e o colo da anciã
Eu vi a renda, a agulha, o bilro e a lã
Com que tecia as malhas do Destino.

Eu vi uma velha, e vi um menino e um velho.
E o quase cego olhar desse ancião
Tentava achar em nosso coração
Vestígio ao menos de seu Evangelho.

Eu vi um menino, um velho e vi uma velha.
E esse menino me arrastava a ela.
E a luz do velho se fechava em breus.

Chama-se Tempo esse menino forte.
E a costureira, pois, chama-se Morte.
E o velho cego, então, chama-se Deus.

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NAZARÉ PEREIRA - BELÉM

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COPACABANA - Jeito de Sentidor

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Serviram teorias e erudições
E o encanto de algum poder
A mesa era posta para todos
Os dias não tinham pudor

Vieram sem afeição no olhar
E nem ouviram um cantar
Pois simplicidade e caminho
Pareciam coisa de outro lugar

Ofereciam o mundo
E se ofereciam a ele
Como se os modos
Saíssem sozinhos
E pudessem se separar

Omissão e timidez entregadas
Nos corredores como sinais
Igual o pouco da mão que educa
Esquecendo o feito que vive

Meus passos caminharam
Por uma Copacabana fria
Em direção contrária
Por entre Carvalhos e Pinheiros
Ao lado de um Mago, um Antônio
O companheiro novo
E a força dum Paraíba
Meu irmão

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MQ
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quinta-feira, 28 de maio de 2009

EMMANUEL NASSAR - BELÉM

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LABIOSO - BELÉM

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DANTE MILANO - Ao tempo

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Tempo, vais para trás ou para diante?
O passado carrega a minha vida
Para trás e eu de mim fiquei distante,
Ou existir é uma contínua ida

E eu me persigo nunca me alcançando?
A hora da despedida é a da partida
A um tempo aproximando e distanciando...

Sem saber de onde vens e aonde irás,
Andando andando andando andando andando
Tempo, vais para diante ou para trás?

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LIA SOPHIA - BELÉM

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DENTRO DA PALAVRA - Doce Desejo

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Doce Desejo
(Henrique Pereira Alves / Marcos Quinan)


Me redimir
De todas as lembranças
Trágicas
De amores passados
Num mergulho profundo
Nos teus olhos
Que já me deram
A certeza de me ver
Tu que vieste
Inesperadamente
E já te impregnaste
Em todos os meus sentidos
Quem és
Que me invade com tanta ternura
E me faz sentir
O mais doce desejo
De ser teu
O mais doce desejo
De ser teu

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Voz - Henrique Pereira Alves
Arranjo – Fernando Carvalho
Violão de aço e nylon – Fernando Carvalho
Bateria – Pantico Rocha
Baixo – Marcelo Mariano
Cello – Saulo Moura

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Encontre na www.ladodedentro.com.br

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DAISY CORDEIRO - USP FM

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GRITO - Oração de Floresta e Rio...

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é teu
o grito escondido
dentro da alma
e podes
lançá-lo no ar

pressuponho
ser de paixão
e ternura
se espalhando

pressuponho
ser de solidão
e procura
ecoando

é teu
o grito engasgado
na alma
e podes
lançá-lo no ar
é fácil
assim
feche os olhos

é como voar

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MQ
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HÉLIO RIBEIRO E DUDA ANÍZIO - RIO DE JANEIRO

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ENTREATOS - Nervos de aço

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A primeira sensação foi de muita frieza; gelou e pode sentir o sangue correr mais rapidamente pelas veias. A boca ficou seca, a atenção mais aguçada e a coerência com o momento o tomou.


A praça deserta, a noite queria ação, uma mulher o esperava no bar. Tinha muita pressa, estava sedento. Precisava.


Olhou para os lados, apontou para o peito do passante que esboçou uma reação até ver a arma. Titubeou e levantou as mãos como nos filmes.

Silêncio, não conseguiu falar por alguns segundos; viu a pergunta no olhar da vítima perplexa. Reagiu fazendo um movimento para baixo e para cima com a mão armada.

As palavras não saíam, era seu primeiro assalto. O outro não tinha nenhuma experiência, também sua primeira vez. Foi tirando a carteira, o celular, o tênis, onde colocou tudo que tinha no bolso, olhando interrogativamente.

O assaltante, nervos de aço, num grande esforço, conseguiu articular a frase inteira:

- Cara, só quero os seus sonhos.
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MQ
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RIO VERDE - GOIÁS

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O POVO DO BELO MONTE XXII - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

Cada gesto
Das minhas mãos
São momentos
Do teu corpo
E da minha boca
Cada um deles
Esquece as palavras
Mistura temperaturas
Para te beijar
Em cada instante
Dou-te meu olhar
Para o teu invejar
E todo o meu cheiro
Para o enlevo do teu
Sonho as histórias
Da minha voz e da tua
E o calor corre
Enchendo meu sangue
Em cada instante
Transbordo no precipício
Do teu gosto de aurora
E bebo o orvalho
É assim que me alimento
De teu corpo entorno
Dos momentos em que
As lembranças da vida
Para a vida retorna

***

O tempo finca
A demanda
Porosa e fria
E desmanda

Nenhum amor
Quando súdito
Pode sentir
As coisas do rei

Ele vive é sem liturgia
Se vestindo de enlevo
Sem simulações

O medo não é medo
Quando parece sentido
E só escolhe o perdão

Seu jeito súbito
Denuncia a razão
E coloca loucura
Em todas as mãos

***

Foi uma canção ferida
Que a mordaça deixou
Escapar da boca sedenta
Fugindo de sua hora

Foi uma dor fingida
Nas horas sem contas
Saindo do seu real
Em perfume e fel

Desmandou as mãos
E o ferimento entalhado
Descomposto na costura
Nem precisou de perdão

Nascido assim mesmo
O que se quer, se quiser
Juntado as partes
Que decompõem uma razão

***

Sonho com você
E meus sonhos
Escondem a impotência
Que o tempo
Impôs a meu corpo

A poesia que dele sei
Ficou esmaecida
Virou lembrança
E só pode estar mesmo
Assim

A poesia que sei das cores
Não está nas minhas mãos
Nelas agora há um momento
De terra e chão queimado
Pela angústia

Meu coração pertence
Mas meu corpo
Constrange a beleza
Do amor que sinto

Então minhas mãos
Nunca te tocam
E por isso peço perdão

***

A paixão não sabe a hora
De esconder-se da dor
E nem sonha pra sempre
Viver do mesmo calor
Ela não morre ardente
Como queremos supor
Só fica indiferente
Negando seu estupor
Mas um dia a saudade sente
Dispondo o seu valor
É quando o tempo mente
Nos descaminhos do amor
Deixando tanto da gente
Para o melhor de nós dois

***

Enquanto viver
E sentir o vento
Correndo em teu corpo
Sou eu te abraçando
Suavemente
Sou eu, teu
Sinceramente

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EDYR AUGUSTO - BELÉM - TEATRO CUÍRA

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quarta-feira, 27 de maio de 2009

GUIMARÃES ROSA

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“Remanso de rio largo
Viola da solidão:
Quando vou p’ra dar batalha,
Convido meu coração...”


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POSSO SIMPLESMENTE

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Posso simplesmente dizer
Que foi tudo tão pouco
Ou então entender
Que só tu foste louco
Quando me deixaste

Posso simplesmente
Aceitando assim
Parecer eloqüente
Quando mostro as marcas
Que fizeste em mim

Posso simplesmente
Esquecer que um dia
Viramos do avesso
Nossas diferenças
Enquanto o amor valia

E viver por ai... recorrente
Bar em bar pela noite... vazia
Esquecendo se foi bom ou ruim
Retocando o baton pra beber
Toda boca que quiser o meu sim

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MQ
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ENTREATOS - Verdade

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Não sabia mais distinguir o que era real do que imaginava, mentia a todos.
Aos estranhos, com requinte de absorver o ambiente, o momento e o tema da conversa e usar a sutileza para parecer quase um ingênuo. Quando conhecia o interlocutor, observava a reação e conduzia o que inventava por entre a perplexidade e a desconfiança do outro de maneira a parecer só amplificar verdades, fantasiando a narrativa.

Um dia contou que tivera um enfarte, passou a sentir uma opressão no peito que durou quase um ano. Noutro, que tivera uma grande paixão pela atriz, ficou anos sem poder tirá-la do pensamento.

Contou que já freqüentara um culto religioso e que falara “em línguas”, tinha certeza de dominar o aramaico quando estava em transe. Passou a ter impulsos recorrentes no meio das conversas, gesticulando e falando um amontoado de palavras inexistentes.

Um dia, ao ouvir a experiência de uma médica espírita sobrevivente de um acidente, contou ter ficado em coma durante muitos dias, ter visto um grande clarão e sentido a presença de dois seres parecendo anjos.

Naquele mesmo dia, o motorista que o atropelou fugiu do local e ele foi socorrido por dois mendigos, mas já estava morto.

A morte não sabia que era tudo mentira
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MQ

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POESIA NO OLHAR

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Autor desconhecido
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terça-feira, 26 de maio de 2009

CAMILO DELDUQUE

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Bebo no olhar da serpente
Assuntos de cicuta

Bebo nos olhos da serpente
Tragos emendados de delírio
Para encher de fingimentos
Cântaros de mentira


Abrigo a morte no colo
Colo pedaços coloridos de miriti
Articulo doses de veneno

Sou o ovo do ofídio
Chocando talagadas de verdades

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ENTREATOS - Quase vida

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Não sabia viver de outro modo, queria o mundo todo, tudo de uma vez. Ávido. Não parava de querer e não percebia o vazio que ia se formando, crescendo em seu contorno, como uma aura acompanhando sua vida.


A mulher era especial, aquela lua também. Ambas fascinavam no imediatismo do momento, mas nenhuma durava em seu sentimento. A lembrança do enlevo ia encher o vazio que o triturava, alimentando-se de nada e crescendo.

Passado, isso é bobagem. Futuro, nem existe ainda, dizia e continuava ávido em viver. Cada dia de um jeito, cada dia com uma pessoa que ele encantava com sua beleza. Cada dia com seu vazio ao lado virando substância.

Um dia realmente percebeu-se diferente, quis lembrar da aurora e do sentimento pela mulher que amou num amanhecer e não conseguiu.

Sentiu a voracidade do vazio que o envolvia dominando sua memória, ditando procedimentos, pedindo mais para crescer e entendeu sua quase-vida.

Estava insepulto, carregando um vazio.

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MQ
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HISTÓRIA INACABADA

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A distancia desapareceu
No meio da manhã
Inesperada aos personagens
Que na adolescência
Quiseram se compreender

Uma voz de amor
Reconstruída na distancia
Colocou mundo
Na emoção que sobreviveu
Aprisionada na lembrança

Acendeu juventude explodindo
Por entre o tempo vivido
Com o mistério da voz
Escondendo e revelando
Gestos e juras perdidas

Uma estrela ficou ao longe
Esparramando o brilho
Negado ao coadjuvante
Um aprendiz sem mágoas
Rodopiando caminhos

O pano de boca se abriu
Para uma tristeza aplaudir
E a vida entregar
Outras cenas
Para a história inacabada
Terminar de sonhar


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MQ
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BIRATAN PORTO

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segunda-feira, 25 de maio de 2009

ALEXANDRA SENNA

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ANGÉLICA TÔRRES - TRILHA PARA O ALTAR

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CORA CORALINA - Meu Destino

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Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...

Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.

Esse dia foi marcado
com a pedra branca da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos
juntos pela vida...

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RENATA PEDROH - RIO DE JANEIRO

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CRISTINA FARAON - A máquina decisiva

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Não é justo a gente andar por essa vida com tão poucas certezas. Temos algumas que não chegam a meia dúzia. O resto fica por conta do destino, da meteorologia, dos dados, do fígado, da bosta de - digo - bolsa de valores, do cachorro do vizinho, de uma pedrinha no rim.

Uma máquina útil, é tudo o que peço!

A idéia é essa: por um buraco você enfia fatos, frases, prós, muitos prós, quilos e quilos de prós! e depois é a vez dos contras; carradas e carradas. Depois variantes de tudo o que for raciocínio, TPM, terceiros interessados, prováveis filhotes advindos do cruzamentos dos prós com os contras, filhotes saudáveis, filhotes de duas cabeças, de cinco olhos, filhotes lindos, horrorosos, filhotes parecidos com o vizinho, contas vencidas, planos infernais, boas intenções, sentimentos derrotados e trouxas de coisas inconfessáveis. Enfia tudo. Adiciona água, cuspe, lágrimas falsas e verdadeiras, chiclete, sêmem, perfume barato e então aperta play. A máquina sacode, arregala as luzes, estranha mas consegue entrar em transe.

Vá para um spa.

Depois de uns dias está lá a decisão da sua vida. A decisão indincutivelmente acertada, pensada e repensada, medida e remedida, a melhor para você. Que máximo! Aquela que Deus sem sombra de dúvidas concordaria e emprestaria seu divino selo de qualidade. Os anjos em coro cantariam um amém tão unânime que você ficaria até desconfiado.

Você vai emocionado para trás da bendita e pega sua pasta. Pasta não, caixa! Cheia de papéis dobradinhos e ainda quentes. Pesada e lacradinha - que amor! Com seu nome impresso. Acabou de ser posta no mundo e ali está toda a sua segurança. Também toda a explicação de por que diabos aquela é infalivelmente a melhor resposta para o seu problema. Você pode passar os próximos 10 anos tentando entender o raciocínio da máquina ou pode ir direto para os finalmentes, que não dão nem três parágrafos.

Claro que você vai para os finalmentes e toma a decisão absolutamente CERTA! (confetes, confetes!)

Ficção, ficção...


Bem, era isso o que eu queria. Deixo aqui o meu apelo para esses cientistas que estudam tanto e só inventam babaquice. Deixem as vacas e bois treparem a vontade pelo amor de Deus! Clonagem pra quê? Troço caro e sem aquele lance de pele. E parem também com essa mania de querem cruzar banana com tomate e grudar orelha em camundongo. Quem vai querer uma esquisitice dessas?

Eu quero a Máquina Decisiva. Dá pra ser ou tá difícil?

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Cristina Faraon - http://cadeaminhavida.blogspot.com/
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ABRIGO PARA UM VIOLEIRO ANDANTE

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Abrigo para um violeiro andante
(Marcos Quinan / Eudes Fraga / Joãozinho Gomes)


Remadô que lá disponta
Antes que incoste a canoa
Grite alto a vossa graça
Que esta beira né atoa

Riberim que aí pergunta
Minha graça é violeiro
Tô chegando nesta beira
Prá fugi do tempo feio

Remadô que lá disponta
Vens de onde vais prá onde
Se és do bem seja bem vindo
Se és do mal não me responde

Riberim que aí pergunta
Venho lá do Ri Vermelho
Vou levando esta canoa
Para os ris do mundo inteiro

Remadô que lá disponta
Sendo vós um violeiro
Só te dou o meu abrigo
Se me deres teu ponteio

Riberim que aí pergunta
Só não toco por dinheiro
Mas em troca dum amigo
Já toquei por cem janeiro

Remadô que lá disponta
Não te espanta com meu zelo
Se eu te faço estas pergunta
É por medo do estrangeiro

Riberim que aí pergunta
Eu compreendo teu receio
Vou levando esta canoa
Para os ris do mundo inteiro


Vozes – Luli e Lucina
Arranjo – Fernando Carvalho
Violão e viola de 12 – Fernando Carvalho
Cello – Saulo Moura
Viola – Ivan Zandonade
Violino - André Cunha
Flauta – Roberto Stepheson
Percussão - Zamma

Encontre na www.ladodedentro.com.br

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ANGELA CARLOS - BELÉM

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domingo, 24 de maio de 2009

ENTREATOS - Ano-Novo

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Adorava o perigo, os desafios e o desconhecido que exercia enorme fascínio em sua vida incomum. Um tipo de prazer que não sabia explicar.


Tinha experimentado de tudo que esteve ao seu alcance e foi possível. No cotidiano, nos esportes, nos relacionamentos, bebidas, drogas, transgressões, perversões. Freqüentado todo tipo de religião, culto e estudo. Dominava a economia, a informática, tocava vários instrumentos, lia música na partitura e aceitava todos os desafios, por mais tolos que fossem.


Quando começou a se interessar por filosofia, isolou-se e passou a não sair mais de casa. Ficava o tempo todo lendo.

A morte o fascinava e acabou por levá-lo a freqüentar o necrotério, assistir às necropsias, a preparação dos corpos para os velórios e a ler tudo que podia sobre suas causas, o tempo, os relatos de quem ficara em coma profundo ou que tivera qualquer contato com coisas estranhas sobre a vida e a morte.

Na véspera do ano-novo, encontraram-no vestido a caráter, sentado e sem vida, com um cravo branco na mão descansada no encosto do banco de jardim que ficava nos fundos do clube, como se estivesse namorando. O corpo enrijecido e no rosto um sorriso insinuante.

Seus amigos tinham-no visto dançar no baile com uma mulher belíssima e tinham certeza: era ela, ele havia enfim conquistado a morte.
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MQ
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MÁRCIA CORRÊA - Fome de menina

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A tarde abafada e densa anunciava, sob a pressão dos carros, uma chuva ansiosa por desabar. Havia tensão coletiva no ar. O murmúrio inquieto das pessoas tornava indefiníveis os pensamentos, atordoados pela pressa de libertar o corpo daquele calor letárgico. Cortando a tarde como quem atravessa um campo de nuvens, ela nem percebia o cenário cáustico que desenhava enfados à sua volta.


Era noite em seu pensamento, bem próximo da meia-noite, e ela bordava cores brandas no tecido de tramas, sentada na direção da brisa que invadia o quarto de costura pela janela semi-aberta. O coração mergulhava na emoção da seqüência de fados delicadamente escolhidos por sua tia de alma portuguesa, que costurava lenços de saudades em silêncio.

Um grito na esquina da tarde quase carbonizada atraiu-a de volta ao volante. Num reflexo pisou no freio e, calmamente, desviou o carro de dois homens que agitavam os braços numa aparente discussão. Raramente se irritava com o trânsito. Naquele dia então, as marcas invisíveis deixadas em sua pele e as vestes de ternura que vestiam seu espírito a mantinham em estado de elevação.

Voltou ao quarto de costura para recompor sua perdoável aflição. Enquanto bordava, sem dar muita atenção aos fios, pensava com o coração acelerado no dia que amanheceria inebriado pela espera, que se derramaria lenta feito areia clara numa ampulheta dourada. Espera por alguém que sabia que ela sabia, mas sequer a conhecia. Alguém que a percebia nas marcas encontradas em antigas fotografias.

Nesse exato momento o semáforo de três tempos apagou a lâmpada amarela de alerta e fez com que a fila de carros parasse diante do proibitivo vermelho. A mudança de cores luminosas lá no alto trouxe de volta aos olhos dela, os olhos fugidios dele. Eram os mesmos olhos que a haviam fitado num sonho quase real sonhado anos antes. Eram eles que falavam com ela enternecidos com sua dor.

No sonho, os olhos que pareciam transcendentes, de uma indescritível cor de reflexo solar na superfície de um rio musgoso e profundo, pediam impacientes que ela vivesse. Que vencesse aquele espaço sem tempo de lágrimas e se permitisse beber a vida com a sede dos imortais. E ela chorava compulsivamente. Não sabia como fazê-lo, apenas sentia a tristeza permear sua alma vestida de trapos.

A lâmpada verde do semáforo a fez seguir. Estava aberto o caminho e ela o queria por inteiro. Dali em diante não importaria a distância, e o impossível lhe parecia tênue ilusão dos sentidos. Ela queria mais... Queria saciar sua fome de menina com o que ele sabia que ela sabia. E ela agora sentia que ele também sabia. Eram sábios de si enquanto carne e espírito que se espreitam por entre a luz das estrelas.
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MARIELZA TISCATE

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Certo apenas sei
Que cairei em corredeiras
E me demorarei em lagos quietos


Certo apenas o chão por onde sigo
O movimento de um passar eterno

Certo apenas esse breve momento
E que em alguma parte

Desaguarei

Talvez não como um rio caudaloso
Ou mesmo um riacho doce

Talvez um córrego sujo
Um filete de água que ninguém vê

Não sei!

Certo apenas que um dia vou ser nuvem e voltarei
Como água de chuva ao rio

E serei rio outra vez!
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RONALDO FRANCO - Na Beira Do Mar

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deves andar assim porque
o amor navega
como peixe de lembranças
nas ondas do teu corpo
para ancorar
onde termina o teu começo
de águas sozinhas

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sábado, 23 de maio de 2009

ORAÇÃO DE FLORESTA E RIO - Verdade Quanta

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para marcelo quinan


verdade quanta
sermos juntos
um ser só

prova nosso cheiro
que ainda é o mesmo
e nenhum tempo
conseguiu desbotar

prova nossas bocas juntas
que nossos seres
separados
não podem controlar

nossa verdade
afirmada sempre
no medo
de sermos juntos
um ser só

verdade quanta
essa mentira de
estarmos sós

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MQ
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POESIA EM UM OLHAR

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Fotografia: Marina Quinan
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ANGÉLICA TÔRRES - SOLARES DE IPAMERI

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Vôo volátil, o vento
tocou-me o pensamento
em um jardim suspenso
entre telhas de barro:

olhos cerâmicos sombrearam o mundo

Desembrulhados
ao humor dos feitos do céu
os telhados guardam
em meu olhar desabitado
a alma da cidade
vermelha, de barro,
pairando no azul solar.

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CONDICIONAL - DENTRO DA PALAVRA

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Condicional
(Marcos Quinan)

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Na primeira cena
O calor escorreu por entre
O aperto das mãos
Habitou o vazio dos olhos
Na segunda cena
A fragilidade do tempo
Ficou em algumas canções
E velhas histórias de amor
Num segundo se passaram horas
E a tarde que a noite acoitou
Na terceira cena
O corpo queria falar
Mas se calava
Os olhos queriam te desnudar
Mas te vestiam
A boca só queria teus beijos
Mas só disse frases
No condicional

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Voz - Vital Lima
Arranjo de base - Eudes Fraga
Arranjo de cordas e clarinete - Roberto Stepheson
Violão nylon - Eudes Fraga
Clarinete – Johnson Joanesburg
Cello - Manoel Antônio
Viola - Ivan Zandonade
Violino - André Cunha
Moringa / pandeiro - Marcos Amma

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Encontre na http://www.ladodedentro.com.br/

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O POVO DO BELO MONTE XXI - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

A cama vazia
E os meus beijos
Jogados no chão

Soltos sem enlaço
Os meus abraços
Mofados estão

Ando jogado
Fora dos lençóis
Esparramado
Meio bagunçado
Cadê minhas mãos?

Peço não demore
Arrume logo o quarto
Antes que seja fato
Eu morrer de você

***

Rente um silêncio
De janela fechada
O quintal da casa
Recolhe no chão
O viço do jambeiro
Que taciturno dança
Passos de flores
Chorando saudade
Na mais perfumada
Das horas da noite
De uma paixão

Rente um silêncio
De janela fechada
O quintal da casa
Recolhe no chão
Um confuso luar
Cheirando a solidão
Que a lua minguando
Põe pela noite
Separando em pedaços
O mais dolorido
De uma canção

***

Dou cabimento ao que cabe
Inteiro em meu coração
Pela manhã o seu amor
Cabe então
No dia que passa o seu amor
Cabe então
Na tarde que vem o seu amor
Cabe então
Na noite que chega o seu amor
Cabe então
E em centímetros do meu desejo
A saudade do seu amor
Arde então

***

Percorrerei
Com meu corpo, o teu
Desvendarei todos os mistérios dele
Possuindo teus sentidos
Com avidez de querer morar
Dentro de ti, sempre
Sentirei teu cheiro mais íntimo,
Teu gosto
Arrepiarei cada vez
Que tua pele roçar minha pele
E te possuirei totalmente
Com vigor e suavidade
A mim pertencerás
E te pertencerei
Ilimitando os limites
Que tem qualquer lei

***

Seriam teus
Meus pensamentos
Fora do torpor
Em que tudo acontecia,
Minhas entranhas
Reviravam-se
Como num parto,
Como se o rebento
Fosse a própria dor
Dentro deles
Queria te levar
Por entre o povo da terra,
Fora de qualquer lei
Que só a loucura
Pode arrumar dentro da gente
Vagar com eles
Pela cor do quase esquecimento,
Por tons de solidão
E traços brutais
Chorar no meio
De uma guerra inteira
Vendo a verdade da minha vida
No pensamento
Queria que vivêssemos juntos
Uma fé dolorida
E momentos só possíveis
Aos incrédulos,
Nosso amor incompleto
E sem recesso, uma melancolia
E a absurda ausência
Da tua presença em mim

***

Torna-se queixume
A pele queimando
O calor da boca
Os olhos espantados
Em merecimento

A primavera gera
Mágica conspirada
Entre olhares e lençóis
E forma o ser
Enlaçando como heras
À vigência dos sarçais

Seduz o nascido
Cada parte de nós dois
Um reino indo
Onde o rei nunca foi

***

Todos os dias
Desesqueço teu olhar
E sonho com as rimas
Que as palavras
Sabem me dar

Todos os dias
Dentro de um verso
Esqueço os instantes
Em que não estás

Todos os dias
A saudade volta
Ao poema onde sei
Que sempre estarás

Todos os dias
Perco-me no tempo
Desesquecendo de te lembrar

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sexta-feira, 22 de maio de 2009

CIA DANÇAS CLAUDIA DE SOUZA - SÃO PAULO

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JEITO DE SENTIDOR - Noite Goiana

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Saudade por todos os lados
Num silêncio taciturno
Quebrado por latidos longínquos
Lembrando quintais

Um sinal de estrelas
No céu embalsamado
Sobre os telhados
Na noite que nunca dorme

Um vento frio me toca
Numa espécie de abraço
Um cheiro de madrugada
Vem misturado com o teu

Na noite Goiana
Viajo pela ausência
E te entrego meu pensamento
Adormecendo devagar

Em troca do instante
Dou o passado inteiro
E a sonolência envolve
Tua presença distante

Então amordaço o corpo
E meu sono é teu

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MQ
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Encontre na www.ladodedentro.com.br
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POESIA EM UM OLHAR

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Fotografia: Marco Antonio Quinan
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ENTREATOS - Armou o cão

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Estava sozinho em casa, sentado na poltrona de couro, com a espingarda entre as pernas. Fechou os olhos percorrendo as lembranças, identificando cada momento bom, cada decepção. Sentiu saudade.


Como se fosse um ritual, abriu a caixa no colo, escolheu a ferramenta e começou a limpar a arma. Desmontou-a peça por peça, lixou as pequenas ferrugens, limpou com a flanela, passando óleo fino em cada encaixe. Montou e desmontou duas vezes, conferindo a precisão do funcionamento. Levantou-se e foi buscar o carregador de cartuchos manual, escolheu um e calibrou com gestos seguros, a carga reforçada.

Terminou a preparação e guardou o material; tomou um copo d’água, tinha a boca muito seca. Olhou contra a luz o cartucho como se o medisse e lhe conferisse uma missão.

Pensou na mulher quando chegasse, o quanto se aborreceria. Desencaixou os dois canos da espingarda e carregou o esquerdo, depois resolveu e mudou o cartucho para o direito.

Um tiro só, o que bastava; depositou a arma carregada no braço da cadeira, levantou-se e ligou a televisão no último volume; voltou, sentou-se e reviveu alguns momentos, armou o cão e respirou profundamente.

Puxou o gatilho, atirou no tubo da TV.

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MQ
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quinta-feira, 21 de maio de 2009

ALEIJADINHO - OBRA PRIMA DA CULTURA BRASILEIRA

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Animação Gráfica: Foton - Goiânia-GO

Restauração do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Santuário Bom Jesus de Marosinhos Congonhas-MG

Biapó - Goiânia-GO
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Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho - nasceu em Vila Rica no ano de 1730 (não oficial). Era filho de uma escrava com um mestre-de-obras português. Iniciou sua vida artística ainda na infância, observando o trabalho do pai que também era entalhador.

Morreu pobre, doente e abandonado na cidade de Ouro Preto provavelmente no ano de 1814. O conjunto de sua obra foi reconhecido, somente muitos anos depois. É considerado o mais importante artista do barroco brasileiro.

O trabalho artístico na Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, cidade de Congonhas do Campo é formado por 66 imagens religiosas esculpidas em madeira e 12 feitas de pedra-sabão.

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EUDES FRAGA - HOJE EM SÃO PAULO

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COTAS RACIAIS

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os despenseiros querem escravizar a memória,
combatendo a brasilidade, que é nossa cor
prorrompem com o gesto torpe de desrespeito
querendo tutelar descaso com doutrinice
aprestamos resposta, sendo quem somos

pai, que cor seu filho é?
sei de cor não... é brasileiro,
mas preto não é não

mãe, que cor seu filho é?
sei de cor não... é brasileiro,
mas branco não é não

pai, que cor sua filha é?
sei de cor não... é brasileira,
mas mulata não é não

mãe, que cor sua filha é?
sei de cor não... é brasileira,
mas sarará não é não

menino, que cor tu és?
sei de cor não... sou brasileiro,
mas vermelho não sou não

menina, que cor tu és?
sei da cor não... sou brasileira,
mas cafuza não sou não

moço, que cor tu és?
sei de cor não... sou brasileiro,
mas mameluco não sou não

moça, que cor tu és?
sei de cor não... sou brasileira,
mas morena não sou não

homem, que cor tu és?
sei de cor não... sou brasileiro,
mas amarelo não sou não

mulher, que cor tu és?
sei de cor não... sou brasileira,
mas mulata não sou não

velho, que cor tu és?
sei de cor não... sou brasileiro,
mas negro não sou não

velha, que cor tu és?
sei de cor não... sou brasileira,
mas negra não sou não


o morto que cor é?
cor brasileira, misturada
senhor


a morta que cor é?
cor brasileira, misturada
senhor


Em 5 de outubro de 1988 a Constituição Federal elegeu, entre os objetivos da Republica Federativa do Brasil, em seu artigo 3º, inciso IV, promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de discriminação.
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MQ
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POESIA EM UM OLHAR - Serra Pelada

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Fotógrafo não identificado - Acervo Benedicto Monteiro

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VÁSSIA SILVEIRA - A moça na fila do ônibus

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A frase era de indignação. “É tudo sem vergonha mesmo, tá morrendo e quer levar o resto junto!”, disse a mulher. “(...) E a essa hora da manhã”, emendou o senhor de gravata; “O que adianta tomar banho?”, quis saber a velhinha do crochê; “Tenho pena é dos filhos”, lamentou a garota da academia – e pronto, estava armado o zumzumzum.

Falavam da moça que aguardava, no terminal, o ônibus para a Lagoa. Certo que era jovem ainda – o suficiente para ignorar os desfechos trágicos –, mas se permanecia ali, em meio a toda àquela gente hostil, arrisco dizer que era por distração. “Esse já é o terceiro dela!”, informou a mulher ao meu lado, explicando depois: “Imagina que tô suportando isso desde a parada lá no bairro, quando ela se atracou com o primeiro. Depois, não satisfeita, pegou outro no cafezinho, tão logo chegou aqui, e agora taí com este!”.

Ah, a maldade humana! Quais monstros adormecidos carregam esses homens e mulheres? Que lembranças expurgam, sem saber, enquanto amaldiçoam a jovem na fila do ônibus para a Lagoa?

Sobre o monte, ao fundo, o sol ensaia uma manhã de verão. Estamos em abril e ainda assim, faz verão. Lembro que há um ano, por esta época,
eu comemorava a chegada do outono. E falava sobre o cheiro do ar, das roupas de frio guardadas em malas, da casa e do espírito se preparando para o inverno.

Tudo, então, era ausência. Não somente a do companheiro que eu deixava para trás. Mas a ausência da rotina, dos pequenos hábitos que justificavam minha existência. Quantas angústias me assomaram nas noites e dias que seguiram à decisão? E o que dizer do medo, cada vez maior, que as palavras me abandonassem de vez?

Foram essas lembranças que me fizeram acompanhar as baforadas da moça que esperava o ônibus para a Lagoa. Porque eu me via nela. E sentia, com aquela crescente onda de intolerância, uma solidão antiga. A mesma que há um ano tomava conta de mim quando acendia um cigarro e percebia, pouco a pouco, as pessoas ao redor se afastando. As tosses forçadas, os olhares enviesados, um ou outro comentário desagradável.

E agora, vejam: cá estou eu sentada ao lado daqueles que antes me atiravam pedregulhos. Uma fileira extensa de homens e mulheres, num banco de cimento frio, retesando a face e soltando farpas à moça que aguardava o ônibus para a Lagoa.

Esse aparente pertencimento, no entanto, fere como feria antes a hostilidade. Porque não há como negar sua raiz fascista, não há como apagar o rastro de ignorância desta sociedade que ainda ontem associava o cigarro à idéia de inteligência, rebeldia ou charme. E que agora cobra aos fumantes, as contas públicas: “Abaixo o cigarro!”.Com tamanha perseguição, é forçoso reconhecer que a vida ficou mais fácil sem o cigarro.

Mas preciso dizer que não se toma impunemente uma decisão como esta, de abandonar companheiro tão fiel e ao mesmo tempo pernicioso. Prova disso são os quilos a mais na balança, as longas horas à procura desta ou daquela palavra, e essa solidão que entra sorrateira, em minhas madrugadas.

A voz rouquenha da mulher sentada ao lado não me desperta de todo – há uma névoa sobre mim. Então ouço longe, muito longe, um ou outro comentário a respeito da moça; do cigarro; da fumaça. Dessa fumaça que se mistura ao ar quente de verão e que absorvo, em silêncio, como se nela repousassem minhas mais antigas e caras lembranças.

É abril. E o outono segue apenas como uma idéia, um novelo de lã ocre que repousa em alguma esquecida sacola do universo.

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Vássia Silveira -
http://todaquinta.blogspot.com/
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CAMILO DELDUQUE - Pacto

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Todos os dias o bar me toma
Para beber a minha alma
Embriagar o meu poema

É um pacto religioso
Com o demônio dos bêbados

Um gole de vidro picado
Uma taça de chatice
Uma dose de conversa
Um copo derretido

Para derramar a mágoa
Que afaga os vícios da felicidade
Todos os dias
A minha alma
Bebe um bar


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LUCINA - DOIS ROSAS

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Dois Rosas
(Lucina / Tavinho Limma / Marcos Quinan)


Seja na vila ou no sertão
O sempre é todo dia
Desfazendo a ilusão
Em um o moço diria
No outro a moça diz não

Em trilhos suburbanos
Ou caminhos descobertos
Lugares, cotidianos
Desiguais assim tão pertos

Melodia na palavra
Palavra na melodia
O sentimento por certo
Seja qual for a valia

Um é Rosa do sertão
De viola caipira
Dedilhando a nação

Outro é Rosa da vila
Que faz samba todo dia
Como se fosse oração

Rosa da Vila
Rosa do Sertão
Toada deixando cheiro
E samba na varação

Pra contar o hoje, o ontem
Vivendo nos amanhãs
Viaje pelos brasís
De Noel a Guimarães

Seja na Vila ou no Sertão
O sempre é todo dia

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Violão e voz : Lucina

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

RAFAEL LIMA E WALTER FREITAS - BELÉM

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SIVUCA - RIO DE JANEIRO

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Shows – Oficinas – Palestras

21/05 – Quinta-feira - 21h
RODA DE SANFONA SIVUCA
Casa do Mercado 45
Rua do Mercado, 45 – Centro – RJ
Não tem telefone
Entrada Franca

23/05 – Sábado de 14h às 17h
OFICINA DE SANFONA COM MARCOS NIMRICHTER
Sala de música do SESC Tijuca
Rua Barão de Mesquita 539 – Tijuca - Tel: 3238.2100
Entrada Franca
Inscrições pelo telefone: 3238-2133.
O pré-requisito é já tocar sanfona, seja amador ou profissional

23/05 - Sábado -16h
PALESTRA: "SIVUCA - MÚSICA E HISTÓRIA
Sala de Vídeo do SESC Tijuca
Rua Barão de Mesquita 539 – Tijuca - Tel: 3238.210023
Entrada Franca

24/05 – Domingo - 16h
RODA DE SANFONA CHINOCA - COM PRESENÇA DE CHINOCA
SESC Tijuca
Rua Barão de Mesquita 539 – Tijuca - Tel: 3238.210024/05
Entrada Franca

26/05 - Terça - 14h40
PALESTRA – OFICIALIZAÇÃO DA DOAÇÃO DO ACERVO FONOGRÁFICO DO MAESTRO SIVUCA
Conservatório Brasileiro de Música
Av. Graça Aranha, 57 – 12º andar
Centro - RJ
Entrada Franca

28/05 - Quinta-feira - 19h
QUINTETO SIVUCA Show Quinteto Sivuca no "Quintas do BNDES"
Auditório do BNDES
Av. Chile, nº 100
Centro – Rio de Janeiro
Tel: 2172-775728/05
Entrada Franca

30/05 (sábado) 14h
PALESTRA "SIVUCA NO CHORO"
Na Escola Portátil de Música (EPM).

Uni – Rio
Av. Pasteur - Urca - RJ
Entrada Franca

A palestra apresentará um panorama da obra de Sivuca com enfoque no Choro, mostrando o seu lado intérprete e autoral. Todos os choros de Sivuca ao longo de sua carreira, desde o primeiro choro gravado em 1951 até a homenagem que ele fez a Dino Sete Cordas, com a música "Dino Pintando o Sete", em 1997. Haverá apresentação de slides, fotos de discos, imagens raras, mas tudo voltado para o Choro. O público alvo serão os alunos da EPM, naturalmente. Mas é aberto ao público, aos amantes do Choro e da música brasileira.

Nesta ocasião, o Projeto Sivuca irá fazer a doação do Acervo Sivuca para a Midiateca Hermínio Bello de Carvalho, que pertence à EPM e de consulta gratuita para os alunos.
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NICE PINHEIRO - http://www.nicepinheiro.blogspot.com/
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“É SAMBA NA VEIA, É CANDEIA” - RIO DE JANEIRO

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"É Samba na Veia, é Candeia", reestreou no Sesc Tijuca. O espetáculo venceu o concurso de dramaturgia Seleção Brasil em Cena 2007, foi considerado o Melhor Espetáculo 2008 pelo Júri do JB e foi vencedor do Prêmio Shell 2008, na categoria Melhor Direção Musical.

Para recepcionar o público, pinga e caldinho de feijão.

"É Samba na Veia, é Candeia"Sesc Tijuca
Rua Barão de Mesquita, 539
Até dia 31/5
Sextas, sábados e domingos, às 20 horas.
Ingressos a R$ 4 (comerciários), R$ 8 (estudantes, idosos) e R$ 16 (inteira)
Contato : (21) 3238-2100


NICE PINHEIRO -http://www.nicepinheiro.blogspot.com/
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INJUSTO, SE HÁ - Oração de floresta e rio

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foi num lampejo de
angústia que deus,
injusto,
se há,
nos formou um ser só,
deu solitário limite
na enorme ternura
em outro lampejo
permitiu, ainda,
a chama acesa
injusto,
se há,
reluta severo
em de verdade nos criar
embaralha o tempo
na dor que
recende dos nossos corpos
e num gesto de
generosidade
nos dá referências,
pessoas amadas
e nega,
na sua angústia,
que fossem
para nós dois as mesmas
se há,
injusto que é,
quem sabe num dia
de muita melancolia
nos permita alma
e carne se pertencer
se tarde for,
injusto,
se há
permitirá
nos contentarmos
com a lembrança
do que nunca fomos



MQ
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SANDRA DUAILIBE - BELÉM

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MARISA (A)PENAS

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Um pingo, uma letra, um mundo


Disseram-me um dia:
A moeda
Dois lados tem.
Descri.

Surpresa então
Desejando crer
Sorri.

E a duras penas
Tentando dele fugir
Não sabendo como
E nem porque
Descobri...

O amor
Não como imaginava
É.
Um pingo
Que se faz risco
Pois escorre e
Riscando
Forma a letra
E é.

É sim
Um mundo
De sonhos
Fantasias
Prazer e dor.

Amor: Você é!
E eu? Quem sou?

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FELIPE CORDEIRO - BELÉM

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JAC. RIZZO - Só a vida

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Na janela
do dia
nem a hora
me encontra
só os cacos
do tempo
ferindo
a alma

A palavra
é um oco

o existir
um vazio

no contorno da vida
só a vida
e o bater do coração.



Jac. - http://jacrizzo.blogspot.com/
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ADILSON ALCANTARA - BELÉM

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VILLA LOBOS

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"Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil.

Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter dos homens dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas idéias".

Heitor Villa Lobos
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terça-feira, 19 de maio de 2009

IRAH CALDEIRA - RECIFE

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GRUPO CALDEIRÃO PROCURA ATOR E ATRIZ - SÃO PAULO

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O Grupo Caldeirão, companhia paulista de teatro com 20 anos de existência, procura um ator e uma atriz com noções de canto para completar o elenco da mais nova produção do grupo, o espetáculo LORCA EM OURO E PRATA.

Os ensaios acontecem de 2ª a 6ª, das 20h às 23h, na sede da companhia, que fica no bairro do Butantã/SP.

Os interessados devem enviar currículo para grupocaldeirao@yahoo.com. br ou falar com Irani pelo (11) 8109-9090. Informações do Grupo Caldeirão
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NICE PINHEIRO - http://www.nicepinheiro.blogspot.com/

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NILSON CHAVES - MACAPÁ

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O POVO DO BELO MONTE XX - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

Súbita mulher
Que redesenha
Minha angústia
Em contentamento

Fúlgida mulher
Que colhe
Das labaredas
A umidade do amor

Túmida mulher
Que dança
Improváveis notas
Fingindo aprendiz

Lúcida mulher
Que só é louca
Quando me quer

***

De amor
Chamaria o teu nome
Minhas mãos
Dir-te-iam das saudades
De desejo
Vestiria teus beijos
Nossos braços
Sonhariam verdades
E um rio
Escolheria o caminho
Encobrindo
Nossas pegadas
Escondendo do desencontro
Os restos do amor sonhado

***

Fechem as cores
Apaguem as luzes
E amordacem os vaga-lumes
Cubram as ruas e os anfiteatros
Ponham as casas nos porões
E cubram com escuridão
Juntem sol, lua
Estrelas e amarrem,
Feito uma trouxa,
Com as pontas do céu
Deixem o céu, ao próprio léu
Fechem as nascentes
Dos rios, os centros
Os templos, o tempo
E a periferia
Escondam a cidade
Os remédios antigos
Os novos sabidos
Façam o que digo
E me tragam
Um coma induzido
Meu único abrigo
Até tua chegada

***

Pensei suportar
Penei esperar
Parecia um rei
Desgovernando
A lei que tracei
Sem traçar
Pensei controlar
Penei separar
Parecia a lei
Reinando
Num rei
Que ficou
Sem lugar
Parte de mim
Era o rei
A outra, a lei
Em qual nem sei
Das duas
Eu mais apanhei

***

Entre conteúdos
E fazimentos
Dizendo do olhar
Decerto o teu
Estavas aqui
No fragmento
Da tua voz
Lenindo saudade

As palavras
Que traduzi ouvir
Pediam meu coração
Fossem sinônimos
Só de paixão
E ensinasse
Melhor conseguir
Tolerar do tempo
O seu andamento

***

Ainda que a lua
Jogasse restos de luar
Ainda que as palavras
Soassem em mim
Ainda que invejasse
As que faltaram
Ainda que me imaginasse
Vestindo teu corpo
E sentindo a volúpia
Da tua presença
Mesmo assim
Senti a solidão
E me perdi completamente
Minha identidade
Ficou nos teus olhos
E a solidão do mundo
Está entrando pela janela

***

Um dia ou quantos
Tem nesse turbilhão
De longas horas
Ressoando nas ruas
Que lembram você
Em quantos e tantos
Ainda é primavera
E a esquina espera
Seus passos passar
Em que dias estão
Escondidos os instantes
Do seu jeito de olhar
Em que segundo andará
Tudo o que nascemos
E nunca morrerá
Em que hora do dia
Um conflito haverá
O medo é tão perto
E na tarde a saudade
Não sai do instante
Em que não estás

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CIRANINHO, RAFAEL DOS SANTOS, LEANDRO FREGONESI E DANIEL PEREIRA - RIO DE JANEIRO

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AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - A implosão da mentira - fragmento 1

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Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.

Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases

falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil

e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

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NÁ OZZETTI - SÃO PAULO

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ORIGEM DA EXPRESSÃO MINEIRA "UAI"

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Os Inconfidentes Mineiros, patriotas mais considerados subversivos pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se através de senhas, para se protegerem da polícia lusitana. Como conspiravam em porões e sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os companheiros com as três batidas clássicas da Maçonaria nas portas dos esconderijos. Lá de dentro, perguntavam: quem é?, e os de fora respondiam: UAI - as iniciais de União, Amor e Independência. Só mediante o uso dessa senha a porta seria aberta aos visitantes.

Conjurada a revolta, sobrou a senha, que acabou virando costume entre as gentes das Alterosas. Os mineiros assumiram a simpática palavrinha e, a partir de então, a incorporação ao vocabulário quotidiano, quase tão indispensável como tutu e trem. Uai, sô...
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Fonte: CORREIO BRASILIENSE
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segunda-feira, 18 de maio de 2009

EUDES FRAGA - SÃO PAULO

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Fotografia: Marcos Quinan
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A VIZINHA - ENTREATOS

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Tinha se mudado naquela semana em que a viu pela primeira vez. Balzaquiana simpática e muito séria; sua vizinha, muito falante e educada, gostava de ficar conversando com todos e, por isso, sabia de tudo que se passava com os outros moradores.

Nunca soube o que fazia, saía sempre no começo da manhã e voltava no início da noite.

Mal se viam e, quando acontecia, ele notava um olhar desconfiado de donzela reparando muito, uma espécie de desejo e temor ao mesmo tempo.

No começo não desconfiou, mas com o passar do tempo notou um desconforto dela quando ficavam sozinhos no elevador. Nesses dias, um barulho de móveis sendo arrastados, coisas mudando de lugar ressoava pela calma da madrugada.

Um dia resolveu convidá-la para ouvir música, tomar uma bebida ou um café. Ela prontamente recusou, assustada.

Num sábado, ao sair, viu que a porta estava entreaberta e olhou casualmente. Percebido, foi como se tivesse sido pilhado em uma contravenção. Com o atestado de virgindade sendo exibido em uma das mãos, escancarou a porta antes de batê-la com força. Virou as costas e foi mudar os móveis de lugar.

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MQ

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ASSIM SERÁ

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Fotografia: Marcos Quinan

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ASSIM SERÁ
(Marcos Quinan)

Arranjos: Eudes Fraga e Sávio Deib

Sávio Deib : samples piano elétrico – acordeon – violoncelos – violinos – violas baixo acústico – harpa – pratos - tímpanos

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BIRATAN PORTO

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FEIRA DE LIVROS - SESC ARAXÁ - MACAPÁ

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De 20 a 22 de maio o Sesc estará realizando, pela 27ª edição, a Feira de Livros de Macapá, com o tema “Letras no circuito da cultural”.

A programação conta com oficinas, palestras, mostras, exposições, venda e troca-troca de livros, atividades lúdico-pedagógicas, cinema, teatro e poesia.

A feira acontecerá no Sesc Araxá, das 8h30 às 20h, entrada franca e para as oficinas e palestras é necessário fazer inscrição antecipada (vagas limitadas), pelo telefone 3241-4440, ramal 257 ou 8125-8688 (Tatiane).

Feira de Livro - objetivo
Oportunizar à comunidade a aproximação da Literatura, de maneira lúdica e criativa, com atividades que proporcionam o desenvolvimento e difusão cultural e, principalmente, favorecendo o intercâmbio de atividades para formação do público leitor, através da oferta de um leque de atividades em torno da literatura.

ProgramaçãoConstam atividades diversificadas, direcionadas para o público de todas as idades. São espetáculos teatrais, atividades de animação e recreativas, oficinas nas diferentes linguagens artísticas que possibilitam uma releitura de mundo, exibição de vídeos, palestras para educadores e promotores de leitura.

Juliana Coutinho
SESC/AP

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domingo, 17 de maio de 2009

ANA TERRA

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... Vivemos a era da especialização, do clone e do descartável. Conhecendo cada vez melhor o menor, nos afastamos da totalidade. Quando sentimos dor, nos referimos a um pedaço do corpo que dói e consultamos o médico especializado naquela área. Mas, na verdade, quando adoecemos, é nossa unidade de corpo e alma, nosso mundo que adoece. Estamos nos comunicando, usando a doença como metáfora, uma linguagem para dizer que alguma coisa no mundo percebido, que, por sua vez me percebe, está em desequilíbrio. Mas quando necessitamos de um atendimento médico, na maioria das vezes, em vez de uma terapêutica de reintegração, somos induzidos a mais fragmentação. Isolam-nos de nossa história pessoal e dos elos afetivos para facilitar a prática de uma medicina invasiva, impessoal e pragmática, onde somos avaliados do ponto de vista de um saber padronizado e estatístico. Privilegiando a objetividade como condição para a exatidão científica, o subjetivo é jogado fora como a criança junto com a água do banho. Como nos diz Merleau-Ponty, “A ciência manipula as coisas e renuncia a habitá-las.”

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DRIKA BOURQUIM - VER-O-PESO II

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ELE QUEM FAZ - ENTREATOS

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Começou ouvindo vozes, depois os objetos da casa começaram a sumir ou mudar de lugar. Um dia, os espelhos apareceram todos quebrados.


A empregada começou a faltar quase todo dia e, quando aparecia, tinha sempre uma marca no corpo, um olho roxo ou chegava com luxações nas pernas e braços. Perguntou algumas vezes, ouviu as mais diversas explicações, não perguntou mais.

As esquisitices foram aumentando; começaram a sumir roupas, livros e alguns CDs. Um dia, faltou dinheiro na carteira, ele não agüentou: dispensou a moça, trocou as fechaduras e pensou ter resolvido o problema.

Passou-se um mês e aquilo não parava. Chamou o síndico, a polícia. Só olharam, ninguém pôde fazer nada.

Ela estava parada numa esquina, ele nem reconheceu. Tinha hematomas e escoriações pelo corpo todo, estava com o rosto muito inchado. Tentou se esconder para que ele não a visse, mas ele a viu; parou o carro, aproximou-se, pegou-a pela mão e levou-a para o apartamento. Lá, envergonhado, desculpou-se por ter desconfiado dela e indagou quem a espancava e se sabia o que estava acontecendo com suas coisas. Quem fazia tudo aquilo?

Ela o levou até um dos quartos vazios, abriu a porta e apontou para a fotografia do anjo; começou a chorar convulsivamente e disse:

- É ele quem faz e me bate.
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MQ
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CLARISSE GROVA - RIO DE JANEIRO

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sábado, 16 de maio de 2009

GUIMARÃES ROSA

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"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

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O POVO DO BELO MONTE XIX - Poemas – Deixados pelo pintor para Anabel.

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***

O que não te posso dar
Em todas as horas de viver
Dou-te assim, no pensamento

O corpo de outras mulheres
Ainda me lembro, era o teu
A voz de todas elas
Eu sei que era a tua
O olhar, se as amei
Só poderia ser o teu

A ti pertence o pensamento
Deslembrando o tempo
E as mil vezes que morri
Antes de te reconhecer

Mando as horas pra frente
E te dou vivido, o que sou
E o que finjo e finjo tão bem
Que sou a mentira me crendo real
Em todas as horas de viver
Dos instantes antes de te conhecer
Até os momentos, os últimos que vou ter
Também te invento inteira
No meu pensamento
E te imagino minha e verdadeira
Para jamais esquecer

***

Se hoje uma dor
Veste teus olhos
Muito amor
Sente o perdão

Se o fato, o ato
Ainda choram
Feito uma lança
No coração

O teu caráter
Quem absolve
E te concede
Sua razão

Porque é assim
Que a vida mora
Quando erramos
É construção

***

Deixa-me te amar muito
Em todos os momentos
Deixa-me eternizar
No meu corpo o teu
Onde já habitas
Deixa
Refletido estar
Sempre
Nos teus olhos
Onde possuo dimensão

***

Salto pra dentro do teu amor inteiro
Não é uma parte de mim que te ama
Nem a que depressa queima
Nem a que contém calor
Salto com a vida toda
Com todos os ferimentos
E as cicatrizes da dor
Com todos os momentos
Em que há verdade no amor
Com todos os rudimentos
Que me foi dado supor
Salto pra dentro do teu calor inteiro
Não é uma parte de mim que te quer
Salto com a vida toda
Desde a puberdade
Até a madura idade
Salto de todas as lembranças
E do que quero esquecer
Com a vida toda
Como mandam o corpo e a alma
É assim que salto
Para perto do teu amor

***

Que só houvesse um reino
Queria eu
Onde só houvesse súditos
Seria eu
E tu
Se quisesses, seria

Assim ninguém reinaria
Por sobre qualquer vontade
As guerras e quem vence
Qualquer delas
Seria o de menos
E nem eu nem tu
Invejaríamos qualquer batalha

E quem soubesse do amor
E viesse contar
Perder-se-ia no reino
Procurando um rei
Pra quem delatar

***

O verde engolia o silêncio
E invejava o instante
Vomitando mormaços

Havia entrecortes de solidão
Espalhando ermos e sinais

Ali o inesperado esperado
Entre suores e restos de adolescência
Como encanto conspirado
Em formas e zelos

Dois seres
Recitavam seus
Sins e nãos
Jurando um jeito de nascer

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