sábado, 4 de julho de 2009

ENTREATOS - Provedor

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O mais velho lavava carros na rua, o segundo trabalhava numa banca de jogo do bicho; depois vinham as duas únicas mulheres, uma era garota de programa, outra empregada doméstica.


Teve um que morreu antes do primeiro ano de vida, outro era vendedor de raspa-raspa na feira. Os quatro menores ficavam sozinhos ou com a vizinha quando ela ia trabalhar como diarista.

Vivia numa invasão, casa de dois cômodos conseguidos por um dos últimos homens com quem viveu. Gostava dos homens; se pudesse, queria todos pra si.

Freqüentava o cais, gostava mais dos marinheiros, eram divertidos. Quando engravidava, freqüentava todo dia o templo do final da rua, mas quando estava perto da criança nascer ia para a Basílica se confessar; vestia-se com a melhor roupa e, fosse qual fosse o padre no confessionário, sabia de cor os conselhos e a penitência, eram sempre os mesmos.

Entre a igreja e o posto de saúde, Deus sempre proveria; assim como Lhe dera um corpo cheio de desejo, perdoava seus pecados e, filhos no mundo, ele mesmo ajudava a criar.

O preço, ela pagava só o que desse conta.

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MQ
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