quarta-feira, 30 de abril de 2014

Instituto Moreira Salles lança prêmio de fotografia

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O Instituto Moreira Salles lança neste sábado (26/4) o edital da 2ª edição da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS, que premiará dois projetos inéditos com bolsas no valor de R$ 65 mil cada.
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O objetivo da bolsa é permitir que artistas e fotógrafos desenvolvam e aprofundem sua produção no campo da fotografia, nas mais variadas vertentes, sem restrição de tema, perfil ou suporte. O selecionado terá oito meses para desenvolver o trabalho. O resultado final dos projetos selecionados será incorporado ao Acervo de Fotografia do Instituto Moreira Salles.
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As inscrições para a bolsa vão até o dia 23 de junho e devem ser encaminhadas via correio para Bolsa de Fotografia ZUM/IMS 2014 (Avenida Paulista 1294 – 14º andar – Conjunto 14-B – Bela Vista – CEP 01310-915 − São Paulo/SP).
O edital completo e a ficha de inscrição estarão disponíveis no site revistazum.com.br.

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Fonte: culturaemercado

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terça-feira, 29 de abril de 2014

Sua cara

 

Explorar a ignorância

Da forma que for

É a pior das ditaduras

 

Encobrir a desonestidade

Com leniência

É cumplicidade sem cura

 

Falar aos desiguais

Como se fossem iguais

(Inventando feitos

E desmerecendo fatos)

 

É como armar as forças

Só para vigiar o prato


MQ

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segunda-feira, 28 de abril de 2014

SIDNEY MATTOS - RIO DE JANEIRO

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domingo, 27 de abril de 2014

Novembro de 1999 - MQ


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Foi numa tarde

de passarinhos,

de água clara.

 

O sol projetando

os espaços,

a ponte sugerindo

as ligações

do trabalho

com a saudade.

 

Era o terminar do século.

 

O computador portátil,

no banco traseiro do carro,

pronto para palavras antigas

e o Braço indo... indo...

 

De repente vi.

 

- Tarde, seu moço...

 

Perplexo respondi:

 

- Boa tarde.

 

Era Baldino,

Ojero, Borborema

e toda a mulada

entrando nos matos

no rumo de Ipameri.


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sábado, 26 de abril de 2014

RUY GODINHO - ENTÃO, FOI ASSIM?

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Nacional FM!
Aqui quem fala é Ruy Godinho.

Estou aqui pra avisar que o programa Então, Foi Assim? deste sábado, será inteiramente dedicado ao talento e à criatividade do  cantor e compositor piauiense Cacá Pereira.  
 
Na ocasião, ele nos contará as histórias de:

- Sambista

- Maria das Dores (c/Rafael dos Anjos)

- Mirada (c/Pedro Vasconcelos)

- Esculpido (c/George Lacerda) e
- Eu vou

Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde na Nacional FM .

 
PRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO: RUY GODINHO

 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

8º FICA Festival Indaialense da Canção

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RUY GODINHO - RODA DE CHORO

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O Roda de Choro deste sábado traz no 1º bloco Juca Kallut, compositor dos primórdios:.
 
No 2º bloco o CD Quem não chora não ama, de Izais Bueno de Almeida.
 
No 3º bloco teremos o pianista e compositor Mu Carvalho apresentando o CD O pianista do cinema mudo.
 
No bloco do Choro Cantado a revisita de Carmina Juarez e o som do CD Tenho Saudade.
 
E para finalizar o som do CD Brasilidade, do multi-instrumentista mineiro Dado Prates.
 


 Roda de Choro, sábado, ao meio dia, Rádio Câmara FM, 96,9 MHz e mais 203 emissoras em todo o Brasil.

Produção e apresentação: Ruy Godinho


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Zelé - MQ


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Açodando o passo iam pela madrugada, a chuva fina, de novo, começava a cair encharcando a capa estendida sobre a cabeça dos dois. Ela toda encolhida, com frio, esforçava andar mais depressa e puxava o corpo de Gentil para esquentar o seu.

Passando na porta da igreja, Zelé vinha apagando as luzes dos postes. O claro do dia entrava no Arraial e a chuva engrossando, sobrepunha o fusco, embaralhando o que se enxergava.

Zelé viu aquele vulto estranho passando do outro lado da rua, não distinguiu quem, hora de quase missa o certo era eles estarem indo para igreja, não como saísse dela. Coisa de noite feia, pensou, mas logo esqueceu, continuando a lida.

Na noite seguinte, clara e estrelada, madrugada fria, Zelé lembrou do vulto quando vestia a capa. Foi subindo a rua pensando fosse a parteira Júlia indo aparar alguém ou seu Arcílio da farmácia acudindo algum doente. Nesse pensamento, foi descendo a rua. No terceiro candeeiro, concluiu não ser possível pois nenhum deles morava na direção de onde o vulto vinha e nem para onde ele ia. Um dia, se lembrasse ia perguntar.

Passou mais de mês, até já tinha esquecido daquele assunto, ao apagar o último poste atrás da igreja, viu saindo do cemitério um vulto, mais magro, quase certo o mesmo daquela noite. Zelé, homem sozinho no mundo, já tinha visto tantas coisas no escuro da noite, parecendo ser o que não era, que já nem ficava assustado. Coragem não faltava, lidava com tudo sem assombro, no mais real.

Sem reconhecer quem fosse, mesmo tendo visto ele antes de apagar o último candeeiro, Zelé acabou o serviço naquele dia e, como quem não quer nada, foi visitar seu Zé Coveiro na intenção de descobrir alguma coisa. Conversaram a manhã toda mas nada na conversa dele deu pista de quem pudesse ser. Naqueles mais de seis meses, o único enterro foi o da moça Aurora, filha do seu João Bastos, que morreu de tuberculose. Enterro dos mais tristes, o marido, casado de novo, dava dó. Dizia Zé Coveiro.

Ficou Zelé, dali em diante, por quase o mês vigiando o cemitério, apagava o último candeeiro no fim da rua e se escondia na sombra esperando ver quem entrasse ou saísse. Nada aconteceu naquele tempo, Zelé foi esquecendo o assunto. Uma tardinha ele viu sair do cemitério dona Celeste, mulher de seu João Bastos, e naquela madrugada resolveu esperar mais uma vez.

O céu choveu todo naquela noite, estiando perto do romper do dia, para sua surpresa não era um vulto e sim dois, para seu espanto era Gentil e a moça Aurora entrando no cemitério, o susto foi grande mas Zelé não se revelou escondido.

Hoje, ele vigia a hora de Gentil buscá-la e vai na frente apagando os candeeiros, das ruas onde os dois passam, para ninguém descobrir aquele segredo das madrugadas do Arraial de Nossa Senhora da Conceição.

 
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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Pai rei - MQ


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Como fosse o próprio, entestou, ferveu e veio, queria porque queria me enfrentar de novo, ali no meio da rua, na frente de todos; de certo na demonstração de valentia, coisa que não tinha. Era jeito de traiçoeiro, de capanga restado, mais sem serventia. Dormia de favor na casa velha do Delfonso, se dizia parente de fulano, do sicrano, que era filho de pai-rei, sabia dos modos e de todas as profissões; invocasse o pai não sobrava nada  em volta, secava tudo. Que eu fosse embora antes que tardasse ali, esticado no chão com a alma apensa nos profundos. Enquanto falava ia batendo as mãos nos bolsos como se procurasse alguma coisa.

Me sentia na vergonha, ali no meio da rua em briga de mão. Ele mal parando em pé de tão bêbado, mas era assim, não podia me ver em lugar nenhum que vinha, bêbado ou não. Todas as vezes era aquela provocação, quando levava uns pescoções, xingava de longe, esbravejava. O motivo dele não sabia, uma ojeriza gratuita, nascida do nada.

Aquela situação já durava tempo, ficava medindo lugar de ir para não encontrá-lo, tentando evitar. Mas não adiantava muito porque onde me visse, lá vinha, batendo as mãos nos bolsos provocando, querendo briga, se dizendo filho da brabeza, do pior que havia, não adiantava esconder que ele achava, seu pai-rei guiava na sova que ia dar, que era protegido no natural e no urdido.

A idéia surgiu quando vi na casa do Linoro uma carcaça de boi, no quintal, secando ao sol. E ele, prontamente, me cedeu a cabeça e ajudou nos preparativos. Passamos quase uma semana trabalhando para achar a indumentária, o cavalo, o arreio, tudo preto, como foi pintada a cabeça de boi preparada para vestir a minha.

Uns metros antes da casa velha do Delfonso, no Beco da Passagem, fiquei esperando o Birobo naquela noite. O Linoro, na outra esquina, deu o sinal quando ele apareceu na rua. Coloquei a cabeça de boi, abri a capa de chuva sobre as ancas do cavalo e apontei na esquina. Quando ele me viu, parou no susto. Nem dei tempo, com a voz empostada inquiri.

 

- Num toma bênça do pai-rei, Birobo?

 

Ele quase já correndo, gritou.

 

- A bênça, pai-rei.

 

E correu, rua abaixo, até que cerquei no galope; com aquela cabeça de boi me machucando o rosto e o pescoço, perguntei.

 

- Tá fugino do seu pai, travesso?

 

Birobo tentava pôr desconfio, ali parado na minha frente, misto de assusto e espanto, abobado, sem conseguir falar, me ouviu dizer que filho de pai-rei não podia ficar arreliando com ninguém para não dar parecença de quem era e proteger os profundos, que ele tomasse tento. Num volteio saí a galope rua acima.

Muitos dias se passaram sem que Birobo aparecesse. Um dia o encontrei sóbrio, mais arrumado que sempre, meio sem graça aproximou-se de mim, misto de riso e medo no rosto, se curvando todo, falou baixinho como para ninguém ouvir.

 

- A bênça, pai-rei...

 
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terça-feira, 22 de abril de 2014

SELMA PARREIRA - GOIÂNIA

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Rua de Baixo - MQ


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- Cotinha, que sombrinha bonita, foi de Baldino, foi?

 

- Demorou mas trouxe; trouxe também uma peça de chita p’ra Das Dores do Baltazar, mas não achou minhas intertelas. Ele passou lá, encomenda de Irino. Nem olhei nada não. Tava na hora da minha novena e ele com pressa.

 

- A senhora viu quem o padre escolheu para festeiro?

 

- Também não gostei. O seu Zé Bilú até simpatizo, mas a mulher dele é um entojo, gosto não. É um tal de lá em Minas prá cá, lá em Minas prá lá.

 

- Ela é muito exibida mesmo.

 

- Passa o dia inteiro varrendo a porta da rua, sem precisão. Até parece que é muito asseada. Dona Duvigis do céu! Quase esqueço de contar, o filho da Davina da pensão embarrigou a sobrinha dela.

 

- O mais velho?

 

- Não, o mais moço. Imagina também deixar aquela molecada sozinha, ainda mais a sobrinha, filha de quem é.

 

- Lembro da mãe dela não!

 

- Aquela que foi excomungada, morava no curtume.

 

- Não, Cotinha. Aquela não era mãe dela, era irmã da mãe e da Davina.

 

- É a mesma coisa, essa gente é tudo igual. Num vê o filho do seu Laudênio, igual ao pai, não vale nada. Todo dia vejo o cavalo dele parado na porta daquela mulher amigada do Custódio.

 

- Cruz credo, que discaração.

 

- Imagina que ele põe de um tudo prá ela, até encomenda de peça de pano fez p’ro Baldino. O dia que descobrir vai ser um deus nos acuda.

 

- Soube da Ana do Clemente?

 

- Que falta de vergonha, logo com o vaqueiro. Basta ver os dois juntos, o jeito dela dá ordens prá ele. Quem não sabe.

 

- Nem na missa ela vai mais. Seu Clemente deve de tá revirando na cova.

 

- A Júlia Parteira me contou que o vaqueiro num dorme junto com os outros, não. Tem dentro da casa um quarto só dele, ao lado do dela.

 

- Deveras?

 

- Ela pois a Clotilde e o marido, quando foram de poso, prá dormir no quarto do vaqueiro e ele num colchão do lado da porta do quarto dela.

 

- Que falta de respeito.

 

- Esse mundo tá virado, Cotinha.

 

- Aquele lá num é o irmão do que enforcou a mulher?

 

- Parece. O Irino diz que viu ela enforcada, ficou de cedo até de noite pendurada na corda. Disse que num podia mexer no corpo até a polícia chegar. O pescoço dela foi esticando por causa do peso do corpo. Que judiação.

 

- Dona Duvigis, senhora já pois reparo nas desgraças que tá acontecendo aqui? Dona Idalina, coitada, nunca mais soube de Mundica. Agora, a mais nova abandonada pelo marido. Ele parecia tão bom.

 

- Mas num tolerou a loucura da Lilica.

 

- Isso é. Mas quem havia de tolerar, ele não devia é ter casado com ela.

 

- Mas a cobiça era nas terra do sogro.

 

- Lilica é muito formosa e os homens num querem saber do juízo não, quer é tudo na mão, a formosura e o fogo do corpo.

 

- Falar em fogo, Cotinha, tem noticias do sacristão?

 

- Tenho não, o padre num deixa ninguém entrar no quarto dele. Diz prá respeitar a velhice dos outros. Depois do enterro ele ficou variando, só vi ele no dia.

 

- E os parente dele?

 

- É sozinho no mundo. Os parentes que tem, ninguém sabe onde vive, só sabe que foram p’ro norte.

 

- Não é no norte que o filho da Lila mora, aquele esquisito que tem nome de mulher.

 

- É sim, ele esteve aqui outro dia, é meio esquisito mesmo.

 

- Eu vi ele conversando com o Arcanjo, andou por aí em todo lugar.

 

- Já reparou o desmazelo que tá a igreja depois da doença do Otacílio?

 

- Mas quem tá cuidando agora é dona Geralda; porca que só ela, num limpa nada na igreja, mas é protegida do seu Firmino, único benfeitor  que o padre vê, desde que ele deu o sino novo.

 

- Diz que o seu Firmino dorme é pelado.

 

- Quem te contou?

 

- Foi Rita Bananera, ela viu ele levantar igual veio no mundo, e num foi só uma vez, não.

 

- Será que ela tá se engraçando com ele?

 

- Viúva há tanto tempo, né? E ela tem jeito de fogosa.

 

- Será? Por isso que ela passa lá todo dia e com o mesmo tanto de banana no tabuleiro que entra, sai.

 

- É mesmo. A senhora espia eles.

 

- Destramelo a janela e olho pela fresta. Ela só vai lá cedinho, hora que ele tá acordando.

 

- Num falo que é gente que num presta?!

 

- Cotinha, vamos rodear, num gosto de passar na porta da venda desse Manco, só tem falação e fuxico, esse homem não presta.

 
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domingo, 20 de abril de 2014

Zarias - MQ


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Zarias era tocador de viola, dos mais afamados chapada afora. Não tinha um arrasta-pé que não era, ele e seus companheiros, chamado para tocar. A catira era o que mais dava prazer a Zarias.

Junto com Nacleto, Clóvis e Zé Dado, formavam o quarteto de sanfona, viola, caixa e violão mais apreciado, fosse no toque das valsas, mazurcas ou nos rastapés, fosse nos cateretês, maxixes, xaxados ou xotes.

Tocavam em todo o tipo de festa e diz que, uma vez até num enterro, por encomenda do viúvo. E na hora não sabiam o que tocar, foram perguntar ao vigário e quase foram excomungados.

Nesse dia foi só valsas.

Os quatro cruzavam aquele sertão mês a mês, ano todo. Três bons cavalos, com arreata no apuro; um carro de uma junta só, que levava os instrumentos e a tralha de cada um; o rancho e a canastrinha do dinheiro. Essa, vigiada dia e noite. Mesmo quando estavam tocando, ela sempre ficava aos pés de Nacleto, seu vigia oficial.

Zé Dado era jogador inveterado. Uma vez, foi surpreendido junto com um vaqueiro; na frente de cada um, um montinho de açúcar, e eles esperando para ver em qual deles o mosquito ia pousar primeiro.

Clóvis não podia ver rabo-de-saia. Como metade do ano as funções eram nos cabarés, ele se esbaldava; espalhava promessas de agrado, que nunca cumpria, para toda mulher que enrabichasse com ele.

Zarias, o mais afamado, em qualquer lugar que chegasse para um divertimento, ficava horas no centro da roda sempre tocando sua violinha.

E era bonito vê-lo tocar. Diziam até que ele dormia junto com ela.

Mas dizem que o certo é cheio dos poréns.

E o certo é que fazia sete anos que eles não punham os pés em Urutaí. Todos os figurões do lugar, gente mais simples, o padre e até dona Dirce, esta dona de casa de mulher, já haviam chamado os músicos. Zarias sempre arrumava uma desculpa e nunca aparecia. Todas as localidades e fazendas da chapada, de menos Urutaí, tinham seu comparecimento.

Perguntado, Zarias enfezava e perdia todo o cavalheirismo que lhe era peculiar. Não respondia. Perguntados, Nacleto, Clóvis e Zé Dado, tinham as mais diversas reações. Nacleto ficava sério e desconversava. Os outros dois davam uma risadinha e corriam do assunto.

Nesse tempo, eu era menino e me lembro dessa observação, feita na venda do Manco, pelo meu avô.

Hoje, passados mais de vinte anos, numa conversa com meu pai sobre aqueles tempos e aquelas pessoas, e principalmente sobre o músico, ele me contou que, até morrer, Zarias, sempre inseparável de sua viola, nunca voltou a Urutaí. Morreu de repente, longe da família, quando tocava, sentado no tamborete na varanda da pensão de sua comadre Quirina.

Aquilo, passado tanto tempo, não me saía da cabeça. Intrigava também muito meu pai e, naquela conversa, ali na varanda da Forquilha, esperando dona Flora que ia pegar a jardineira para Urutaí, tentávamos desvendar o mistério quando, na surpresa, dona Flora, ouvindo um fiapo da nossa conversa, contou depois, para minha mãe, o motivo de Zarias nunca ter voltado a Urutaí.

Na manhã do outro dia, meu pai acordou rindo todo.

 

- Descobri o mistério. Você tinha uns três anos, foi no casamento de sua madrinha Lilica. Uma festança, tinha gente até de Minas, coisa de muita cerimônia.

Zarias, ainda pouco afamado, chegou com sua turma, assistiu à cerimônia do casamento e, na hora da festa, muita gente, muito barulho. Ele precisava afinar a viola e, antes de começar, queria urinar.

Foi para o terreiro junto da cerca de taquara, desabotoou a braguilha e, enquanto urinava, afinava a viola, colocando o bojo dela de encontro ao ouvido, por causa do barulho da festa. Afinava uma corda e fazia acordes para conferir a afinação, afinava outra e fazia o mesmo. Como ele era muito virtuoso, entusiasmou-se com aqueles acordes e se esqueceu até da festa. Foi preciso chamarem.

Na arrumação de começarem a tocar, nem seus companheiros viram. O baile começou e Zarias no canto, tocando sua violinha. E eram polcas, valsas, mazurcas, às vezes um rasteado ou uma quadrilha, muito xote e todos dançando. Foi quando Nacleto começou a reparar que as mulheres puxavam seus pares, no embalo da dança, para mais perto de onde eles estavam. E sempre soltavam risinhos, trocando sinais entre si.

Nacleto pôs cada vez mais sentido e viu que tinha alguma coisa errada. Seguindo os olhares, descobriu que a braguilha de Zarias estava aberta e as partes para fora. Começou a olhar para ele desesperadamente antes que, em vez de só as mulheres, os homens também notassem. E aí, seria caso até de morte.

Zarias não entendia o que o companheiro queria dizer com tanto sinal; todos estavam tocando direito, nenhuma nota escorregada, a festa muito animada. Nacleto olhava para os olhos dele e tentava puxar, arrastando com o olhar sua atenção para a braguilha. Até que conseguiu, mas a viola atrapalhava ele enxergar as partes de fora.

Nessa hora, já ficava em frente de Zarias, escondendo ele, para evitar o assanhamento do salão. E Zarias pensava, por que será que Nacleto queria aparecer tanto, ele que era o mais quieto de todos?

Era de uma pausa a combinação, mas Nacleto acabava uma música, puxava os baixos da sanfona e começava um recortado, Zarias não entendia, aquilo não tinha sido combinado.

O desassossego tomou conta também de Clóvis e Zé Dado, que não sabiam o que estava acontecendo, quando repararam na braguilha do companheiro. Aí foi sinal de tudo que é jeito. Zarias levantou a viola, encostando o bojo na orelha, e viu suas partes de fora. Assustado e vermelho de vergonha, virou de costas e, no terminar da música que tocavam, entrou num rasteado que fazia com uma mão só e, com a outra, guardou as partes e abotoou a braguilha.

Acabaram a função. Zarias saiu na frente, montou seu cavalo e esperou os companheiros no Inajá. Obtendo deles a promessa de nunca relatarem o acontecido, não voltarem lá e nunca mais falarem no assunto com ele.

Desse dia em diante, nunca mais voltou a Urutaí e, fora seus três companheiros e algumas mulheres que viram, mais ninguém soube do acontecido.

 

- Pai, como é que dona Flora soube? E com tantos detalhes, perguntei.

 

- Ela foi casada com ele.

 
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sábado, 19 de abril de 2014

RUY GODINHO - ENTÃO, FOI ASSIM?

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O programa Então, Foi Assim? deste sábado, será inteiramente dedicado ao talento e à criatividade do  cantor e compositor mineiro Lô Borges.  

Na ocasião, ele nos contará as histórias de:

- O trem azul (c/Ronaldo Bastos)

- Clube da Esquina Nº 2 (c/ Milton Nascimento e Márcio Borges)

- Equatorial (c/Beto Guedes e Márcio Borges)

- Paisagem na janela (c/Fernando Brant) e

- Para Lennon e Mc Cartney (c/Fernando Brant e Márcio Borges)

 

Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde pela Nacional FM com retransmissão para mais de 240 emissoras em por todo Brasil.

Produção e apresentação Ruy Godinho.

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