quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Baia de Guajará – primeira travessia


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Sensação de mundo

De imensidão

 

Os dias doíam

A água era o chão

 

O barro agarrava

Como saudade

E a noite sentia

A primeira verdade

 

O mais rústico

Pôs-se no olhar

O cansaço

Desejou se largar

 

Emoção de aldeia

Tantos sons no ar

 

Começar de novo

Renascer, sonhar

Engenhando a vida

No novo plantado

Lambendo as feridas

Do velho lembrado



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terça-feira, 30 de agosto de 2016

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Andanças - Frederico Galante

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Quero dizer, sim, que foram estas andanças. De cerro mato, em torto de rio. Os encontros. Cada um é um, por certo, dizia minha comadre, que ainda diz, nos revelos, que as coisas são mais belas do que aparentam poder ser. Foi, que foi, nos meus sós. Cresceu tanto de modo terreno baldio antes de bosquear. Diz -se que a terra no onde a gente pisa tem forma de nos falar, basta ter ouvido. E que o rio do onde se bebe a água, traz a gente sempre de volta para o ele. Mas quando, que força desta monta eu mesmo senti, nos meus dentro e fora. Onde quando foi que, deitado, pensando em forma de desistir, senti, que prova é quem sabe olhar o fundo de um homem, a terra me abraçar e dizer "fique, meu filho, que aqui é lugar seu".


Entrementes, que bulia dizer algo de mim, forma era eu sabia não. Peguei do que conhecia, tendo passado por um demais dum vazio de ser. Qual o que um homem, que, dotado de sabedoria, decide é largar de tudo o que sabe para se preencher no novo. E foi assim. Só que o intento é danado, dói que ferra queimando, assusta e apavora. Qual um curuminzinho que ainda não sabe nadar e gente joga ele na água. Ai, que demora dum tanto em saber-se capaz! Passa por sufoco e alívio, no bater forte do coração, no pensar que vai morrer, no desespero, qual a beira dum cume bem alto, sem escora de apanhar e grito de socorrer.

Voltei a mim, modo como um homem, em broca de fome, vasculha terreno atrás de fruta e caça. Era deste tanto o caminho: vim de saída dum lugar belicoso, fumaçento, lotado de gente raivosa e dotada duma tristeza calada, crivada é mesmo lá nos recônditos da morada da alma. Em este lugar eu fazia morada, como que já não sabia mais quem morava dentro de quem, era eu nele ou ele em mim, visto que o modo de ser de um podia ser o modo de ser do outro. Em vista que, posso eu ter sido muitas vezes, eu mesmo, belicoso, fumaçento, lotado de gente. O me sentir neste lugar, eu mesmo conto: era que, de um modo meio nublado, meu coração doía era muito. Como o sumo de um homem se sentindo sozinho no meio de tanta gente!

Digo isto, sim, que o serviço de alguém nesta vida é achar o seu-caminho. Que quando as estradas estão prontas, de quem elas são? Os caminhos no onde eu morava, já eram picados. Quem tinha picado, eu não sabia não, e para onde ele queria ir, eu também não sabia. E, movido duma força, qual correnteza de rio, eu me movia nestas estradas, que não eram minhas e que me levavam para dentro delas, e eu parecia era estar sendo carregado e sem jeito de pôr os pés no chão.

Mas que, um dia, a vida tem seus modos, vi o olhar dum velho. Era de modo que ele tinha a vida nas mãos, que o mundo seu era dum tanto certo e nítido e apropriado, que até dono do tempo ele parecia que era. Os meus andares estavam por conta de construir estradas iguais a aquelas todas que eu via. Mas o olhar daquele velho me mostrou que ele tinha mesmo, de forma própria sua, criado um sereno jeito de se viver, forte como um terreno arado, semeado de tudo quanto é árvore e que resiste aos rasgos de água e seca que o céu faz o chão provar.

Sucede que eu meio que segui aquele velho. Segui sem tê-lo seguido, compreende? Nos meus pensamentos, cá de dentro. Primeiro segui foi era uma mulher, que fazia uma arte de um tal negócio de palhaça. Ai, que foi que vi dentro do olhar dela e da outra que também caminhava junta, que somando eram duas, e que também olhava igual, o mesmo jeito de caber no mundo. Mesmo jeito lá, daquele velho. E que as duas estavam eram caminhando dum jeito contrário do para onde eu ia. E elas me acenaram dizendo: vem com a gente! Fiz, que fui. Eu estava atrás do velho, como-que, era só dizer do sim.

Mas que, largar do tudo? Gente de próximo me diziam, como se fosse o acesso do insano, o dizer da bobéia, o azar do sem-juízo. Que eram olhares do fora, eu bem sabia, como do meu dentro não compreendiam. Quem era que sabia do velho? E da mulher-palhaça? E da minha dor de não caber naqueles caminhos? E quem sabia que os caminhos davam no sem-sentido? Sei que bem sabiam alguns com os quais eu convivia e que estavam eram contidos na brecha do tempo e desarrazoados do convívio, marcados por não serem compreendidos. Estes, digo-eu, mereciam vir comigo. Mas que, pelo não, sei que deixei um pouco de mim com eles.

Era bem que tinha começado, ou ainda não? Numa beira de estrada, esperamos um tal de um índio que nos levaria para o alto do rio, bem dentro da floresta. Esperamos cansados, três dias, em rede atada em cima de bosteiro, com os porcos cheirando e farejando rastro de gente e comida. Mas ficou do intento o sentido do tempo espichado, como o quê deveria ser de lugar como aquele, o velho me disse. A pequena aldeia, de tanta forma era grande, de se perder, com os jeitos deles de comerem, dormirem, falarem e amarem. Coisa de monta. Estas, que dariam livro. Em matéria de medicina, tinham o pajé e o sagrado de plantas do mato. Falavam com os mortos e limpavam o espírito das doenças, nas pajelanças. Tinha a uasca e o cambô. Tinha o canto que invadia o sono.

Foram mais muitas andanças. De entre quais, dos tantos feitos, se sabe ter registro, mas que mesmo eu deixo para quem quiser saber, procurar. O que de mim se faz saber, o velho me diz, é do crescido. Mesmo que o crescido do olhar. Mas que, sou o mesmo de ontem ou não. Quem me diz é quem me vê, não é como se diz? Sei que, de agora e do onde estou o mundo se passa no como eu vejo agora. Do passado, lembro pouco, vislumbros de desgosto. Mas que, no presente, não se tem permanências?

Se sabem, são poucos, do ofício que levo. Sou médico. Mas que, fui acrescido. Dum tanto de estas experiências com as mulheres-palhaça. Mas que, me transformei? Não sei mais, visto que, como eu disse, sei do que vejo agora. Sei dum tanto que me é pouco no sentido de compreender, mas tenho vontade de dizer. Mas que, digo: sinto é falta de ter não ter compromisso quando falo com alguém. Pois que, sempre preciso fazer alguma coisa, para motivo de acalentar. De tanto compromisso, me falta por tantas vezes é do natural, do vontadear. Posso eu não querer transcorrer prosa com fulano? Sei que, posso gostar pouco, mas digo menos ainda. Os modelos. De estradas já percorridas. Vou menos para o profundo. A prosa segue rasa, e vou tentando achar motivo de mergulho.

Não é que a gente, por vezes, perde a alma? Como se diz. Tem uns que vendem, pro dito. Quero também dizer mais coisa, a tempo. Tenho duas almas, como também soube de outro homem, e de outro e de outro - nem sei mais se todo mundo é assim! Mas, falo por mim. Uma delas, sei não, mais parece que vem como para proteger a outra. E esta alma é a que me veste para este negócio de médico. E a vila onde eu moro, conversa e lida é com esta alma. Ela é tal que tem jeito próprio de amar e desamar, de jeito de falar, dum modo assim meio letrado, sucinto e objetivo. Dum jeito meio sem-sentimento, que olha para as coisas mais de longe, que quer se afetar pouco pelas coisas. Dum jeito que fica assim meio de lado para as pessoas, pois sabe que, se deixar, "o pessoal monta em cima", como disse o caboclo.

Agora, tem a outra alma. Que dela digo pouco, pois que é ela quem vos fala agora. Sabe quem então me ouve. Ela mesma - essa alma -, que ouve o velho. Como que, não foi que vim até aqui? Casei com a mulher-palhaça. E vou ter uma filha com ela. Essa mesma alma que chora bem por dentro, abafada pela outra, em mais-de momentos. Chora às vezes à noite, escoando do travesseiro. Ela ri também, nuns tantos. E foi ela que acresceu, nestas andanças. Ela que-palhaça. O velho fala é com ela.

Essa alma faz modo de eu ficar aqui, agora, no sossego do mato, no encalço dos homens daqui, querendo ainda mais aprender. Como se faz a bajara, e se pesca de tarrafo. Como se trata desmentidura ou rasgadura. E como descer o caminho do rio.


Frederico Galante

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domingo, 28 de agosto de 2016

Carvoeiro

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sábado, 27 de agosto de 2016

Velho Pescador

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Foi um velho pescador

Que um dia me ensinou

Olhar pro horizonte

Na linha d’água do mar

Pedir a rede cheia

E a certeza de voltar
 
Ensinou que o perigo

Está em todo lugar

Seja no liso das pedras

Ou na imensidão do mar
 
E ter fé é como reza

Que se reza sem rezar

Que o respeito é valentia

De quem sabe navegar

E por fim arrematou

Ensinado e ensinando

Nunca fique de costas

Para o tamanho do mar

 

 
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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

365 Igrejas

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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

TRÊS PODERES


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Poderes da incompetência

Do descaso

De ladrões

 

Poderes do corporativismo

Da falsa cidadania

Produzindo miseráveis

 

Sobranceiros

Dessabendo

Valores

 

Incultura

Ditando a norma

E sua curteza

 

Tanta necedade

De improficientes

Cheios da prenoção

De capacidade

 

Homens faltos

Exibindo pedantaria

E doutrinice

Vivendo a inópia

Do caráter ou mascando latim

No entreconhecimento

São indoutos, larápios

 

No desserviço

Albardeiros e canalhas

Sarrafaçando sem suor

Como se tudo fosse inoficioso

 

Homens de exceção

Sem valores ou honra

Homens vãos

Que nem se percebem

Por ditadores que são.

 

 
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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Cabano

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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Antigo Aeroporto de Brasília


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Os jardins internos

Continham o cerrado

Plano de pequenas arvores

Cascas grossas, suberinas

Retorcidas

Onde gramíneas eram pedras

Simbolizando os grandes

Períodos de secura

 

Os jardins internos

Nos meus moços olhos

Primeiro encantamento

Primeiro vôo

Diziam a terra onde nasci

Emoldurada entre vidros

Para o olhar anônimo

Colher descampados

E silêncios

 

Dos muitos jardins internos

Que meus olhos olharam

Este, pouco lembrado

O que mais significou

 

Esculpido na memória

Tal qual se desenhou

Burla sempre o descaso

De quem os desmanchou

 

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domingo, 21 de agosto de 2016

sábado, 20 de agosto de 2016

Bica

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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Acaso


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Quando te vi, escrevi desejo

Com os gestos que imaginei

Saltar da tua imagem

 

Quando te revi desejo reescrevi

Com a sensualidade das palavras

Que peguei do poema

 

Quando te encontrei bebi tua voz

E embriaguei meus sentidos

Para entregá-los aos teus

 

Quando te beijei, misturei

Teus poemas nos meus

E bendisse o acaso

 

Quando nos tocamos

Decerto algum deus inexistente

Existiu de verdade

 

E sorriu reticente

Ao ver nossos corpos

Rimando vontades


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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Iên e Zu Munducu


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Quando viu, veloz e em saltos no meio fechado do mato, pensou: guariba. Não era. Pensou pintura sem preceito, desar. Não era. Caça fora de hora no espaçado do dia, parecia.

 Acompanhou pisando silêncios até o destro gesto. No outro, metade susto, metade medo. Caça nada, parecia resto de fogo sem fumego, avaliou quanta carne, armou a borduna de tucum, recém tirada.

Queria o assado vivo, pensou; esse prostrou manso facilitando o golpe ou adivinhando intenção de ser levado. Olhou no detalhe cuidando distância; viu os molambos que o outro vestia; a pele porejando, escura e brilhante. Não resistiu, baixou o braço e o tocou com a ponta da arma falando.

 

- Iên... iên... iên...

 

De joelhos, sem entender aquela língua mais estranha ainda do que a que vinha ouvindo desde o navio, levantou a cabeça e gesticulando desandou a contar sua história para espanto e risos do pajé. Ria de sua fala mais enrolada que a dos outros e de seu jeito de animal já ferido. Sem entender as risadas, o negro voltou cabisbaixo para sua submissão. Calaram-se. O escravo esperava o golpe, o pajé queria ouvir mais, apontava a arma:

 

-          Iên... iên... iên... pedia ouvir.

 

Ficaram tempo... um gesticulava e falava muito; o outro ria sem abandonar o domínio da presa. Quando o índio ria, o negro parava e abaixava a cabeça. Parecia uma brincadeira, o índio lembrava o movimento da dança do tamanduá, boleando a arma. O negro medrava como precito, bongando dor como no castigo do bambaquerê.

Entraram juntos para espanto da aldeia, o pajé o exibindo como um animal de estimação. Esperou juntar todos em volta e cutucou falando:

 

- Iên... iên... iên... repetindo a brincadeira que fez muitas risadas.

 

Desse dia em diante, o negro virou a sombra do índio, sempre um passo atrás, acompanhando onde quer que fosse, era servidão e a curiosidade em aprender puçangas e feitiços, não ocultando modos que sabia, conhecimentos de raízes, folhas e musgos. Quando os dois se embrenhavam no mato, ficavam por dias e dias colhendo toda sorte de ervas e, de retorno, faziam experimentos, beberagens e inalações como se fossem dois boticários em pesquisa de cura.

Virou um igual - de nome ficou Iên - a sombra do pajé a quem chamava Zu Munducu. Inseparáveis. Calada a língua, falando  por olhares, sinais e meios, se entendiam mais ainda no colher ervas, em lidar com as encantarias e na evocação de espíritos, sabedoria de um e de outro se misturando e misturando as línguas. 

Iên vivia na maloca sem participar de nenhuma festa, deles, recebia nestas ocasiões, o naco de comida das mãos de Zu Munducu; mas pelas frestas do palhiço acompanhava as cerimônias de preparo da carne, fosse caça ou carne humana; as danças e rituais de alegria e cura.

Afastado dos demais, ficou até o dia que trouxeram um dos presos, peado no cercado. A pancada na testa derrubou o corpo no chão. Iên olhou Zu Munducu, viu consentimento. Correu, tomou a dianteira pra descarnar, cabendo, valente, nas vistas de muitos e no espanto do pajé. Cortou como eles, limpou, corou como nunca viram, esfregava as costas da mão esquerda na cavidade do ventre e entoava palavras parecidas com as já ouvidas. Soaram melancólicas, calando qualquer riso. Foi olhado de um modo diferente quando pelou pernas, braços, separou a cabeça e entregou ao pajé, murmurando profundo como no ritual. Serviu as partes dando gritos e rindo alto, tinha aprendido tudo.

No passar do tempo a aldeia foi se acostumando com a presença do negro, todos o tratando como igual, aceitando outros escravos fugidos, como ele, aparecendo sozinhos, em pequenos grupos e, às vezes, misturados com índios de outras aldeias, chegados por vontade, sem lutas.

O lugar ia cafuzando, crescendo seus domínios, misturando as raças e os costumes, protegido pela valentia e mistério. O jeito dos negros em tratar os fugidos contaminava. Passaram a fazer o mesmo com os capturados transformando o Abaribó numa mistura de muitas tribos com quilombolas. Lugar de liberdade, calaçaria, igualdade, magia, dançarás e alegria.

Tapuiúnas e tapuitingas impregnados naquelas matas surpreendiam comboieiros e grandes descimentos, aumentando a população raciada de índios, negros e mestiços aldeados na extensão de muitas léguas.

Acumulavam a comida viva, aprisionada, para grandes festejos. Comum, Zu Munducu, separar dos brancos os que tinham algum traço de sua raça ou da de Iên. Esses viviam em liberdade, a menos que não se submetessem, eram tratados como iguais, alimentados e não trancados em cercados vigiados, como os outros.

Eram mais de sessenta peados, um jesuíta e oito brancos fortemente armados. Foram dominados na escaramuça, maior grupo preso pelos abaribós, dos oito brancos, três feridos, dois mortos e comidos no local do encontro. Primeira vez que capturavam um padre, causou rebuliço. Muitos ali conheciam os jesuítas das missões, esse foi mantido separado dos demais, era um fascínio para as mulheres que dele cuidavam, comia muito e nunca foi comido, morreu velho, ensinando coisas, trancado mas espalhando descendentes. Do tempo, desse dia, ficaram poucos rituais. Os  capturados serviram de escravos até se acostumarem ao jeito de viver no Abaribó, virando gente de lá, se misturando nos quereres de todos, plantando mandioca, fazendo farinha, aprendendo junto alegrias e todas as danças.

Os infensos acabavam por deixar envelhecer cativos no mais bruto dos fazeres, vigiados sem castigo até a morte. Serviam de brincadeira para as mulheres e crianças. Uns tentavam fugir, sem caminhos, errando o rumo das águas, se perdendo dos limites e se embrenhando na sesmaria dadivosa, corpos nunca achados, virando húmus ou comida de animais.

A sabedoria de Iên e Zu Munducu perdurava pela lembrança de todos; anos de harmonia com o natural e as encantarias, inçando quem chegasse fugindo do que quer que fosse.    

Quanto mais crescia o lugar, mais ousados ficavam, indo longe buscar pelas trilhas, capturar viajantes de quem esbulhavam tudo. Como os dois ancestrais cuidavam harmonia. Nessas incursões fizeram o primeiro contato com um regatão, na tensão de armas que só não resultou em luta porque a cor da pele identificou iguais de um lado e de outro.

Dali ficou, para os abaribós, o comércio das drogas do sertão, as trocas e a fama do lugar que correu pelas águas, levada pelo comércio ambulante dos poderosos, ligando-os aos oprimidos e desvalidos, atraindo fugidos que achavam o rumo das suas terras, lugar onde tudo se podia.

 

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terça-feira, 16 de agosto de 2016

Os Dagobé

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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Luz D'água

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domingo, 14 de agosto de 2016

Quilha da Ilha de Crôa I


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Pesco sol

Pesco chuva

Sete cores

E ventos iguais

 

Pesco lua

Pesco filhos distantes

Pesco amores

Dores

E sete varais

 

Pesco o mar

E deixo o horizonte me pescar
 
 
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sábado, 13 de agosto de 2016

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Baldino

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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Último encontro

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A revelação não o surpreendeu; suspeitava desde muito, na infância, na mocidade. Sempre uma coisa estranha, espécie de comichão dando no centro do corpo e uma coisa saliente no pensamento vazando inteira para as extremidades dos membros. A atenção redobrava, os sentidos aguçava o raciocínio formulado com muita rapidez, quase aviltava o interlocutor.

Ela era bela e sofisticada, curvava o olhar enquanto falava, parecendo querer ser interrompida, confrontada com alguma razão. Ele apertava os olhos e disfarçava dúvidas, não contracenava. Ouvia. Só ouvia.

A revelação veio entre a intenção das palavras. Claro como aquela tarde quente, estranha como as probabilidades do seu corpo. Ele era um demônio...

Sim, um demônio, sentia, sentia ser. Foi como um rastilho de pólvora aceso, seu pensamento correu o passado todo. Era mesmo, lembrava-se a cada momento de suas transmudações ao longo da vida.

Queria rir, gargalhar, mas se conteve. Impassível, ouviu a transgressão confessada, o desejo de remissão impresso na voz. Viu nos olhos molhados nostalgia e nenhum arrependimento. O esforço que ela fazia para inventar uma história já não tinha importância. Era só um espectador. A beleza ele já roubara. O arbítrio da fé não o interessava. Apenas ergueu o copo. Em silêncio, brindou ao pecado que a colocara inteira no seu inferno particular.

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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

terça-feira, 9 de agosto de 2016

abc das acrossemias


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as letras viram siglas

bastando que ao se juntarem

combinem em cada logro

dividir ao se repletarem

 

em cada grupo que formam

fraternos são os caminhos

ganâncias se articulam

há para todos, escaninhos

 

importa não ter conteúdo

jurando como tivesse

kubitschek deixo de fora

labor que foi inconteste

 

mas junte todas que engodo

não se separa facilmente

onde letras formam embuste

presumem-se impunemente

 

quem entra não quer sair

recorre por toda vida

sem pudor com o lugar

tramando por onde siga

 

uma forma de rapina

vendida em cada bravata

xeleléu de quemmais

zanzando fora das atas 

 

o y e o w desse abc

corresponde ao povo inteiro

difícil de ser versado

mas fácil de se conter

é espalhar a esmola

pra ele nem perceber

quem vive dentro de siglas

no vício do poder

parecem mais estrupícios

que homens em seu valer

merecem formar agora

com letras do abc

A.P.R.O.V.E.I.T.A.D.O.R.E.S

F.A.C.I.N.O.R.A.S

C.A.N.A.L.H.A.S

conveniências de cada mercê

 

 

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