terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FELIZ ANO NOVO

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

BALDINO - MQ

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domingo, 29 de dezembro de 2013

MASTRO - MQ

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sábado, 28 de dezembro de 2013

RUY GODINHO - ENTÃO, FOI ASSIM?

 
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Então, Foi Assim? Os bastidores da criação musical brasileira deste sábado, será inteiramente dedicado ao talento e à criatividade do cantor, pianista e compositor mineiro Túlio Mourão.  
 
Na ocasião, ele nos contará as histórias de:
 
- Nenhum Verão (Túlio Mourão)
- Teia de Renda (Túlio Mourão e M. Nascimento)
- Desamparado (Túlio Mourão)
- Eterno de vez em quando (Túlio Mourão) e
- A primeira estrela (Túlio Mourão/T. Moura e M. Nascimento).
 
Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde.
 
Produção e apresentação - Ruy Godinho
 
 
 Retransmitido por 230 emissoras por todo o Brasil.
 
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

RUY GODINHO - RODA DE CHORO

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RODA DE CHORO - SÁBADO - DIA 28.12.13

ESPECIAL ERNESTO NAZARETH 150 ANOS IV

Os quatro programas RODA DE CHORO de dez/2013, vão ser especiais. Isso porque homenagearemos o grande pianista e compositor Ernesto Nazareth, um dos pilares da música brasileira, nascido no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1863.

O pianista e pesquisador Alexandre Dias, compartilhará com os ouvintes, nos dois primeiros programas, músicas mais conhecidas, consideradas lado A. E nos dois últimos, músicas menos conhecidas, consideradas lado B do compositor carioca.

Roda de Choro, sábado, ao meio dia.

 
Produção e apresentação: Ruy Godinho

Rádio Câmara FM, 96,9 MHz, de Brasília, retransmitido por mais 190 emissoras por todo o Brasil.
 
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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

MARIA FRAGMENTADA - MQ

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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Acabei com elas - MQ


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Lindaura reclamava todo dia e Linoro fingia que escutava. Prometia providências mas, na verdade, não fazia nada. Ia levando no depois faço, até que fez mesmo. Catou  estrume seco no curral do curtume e pôs para queimar, enchendo a casa de fumaça. Espantar as muriçocas? Espantava. Mas logo, elas iam acostumando com a fumaça e os da casa enojando cada dia mais daquele cheiro.

Aparecendo ali e nos vizinhos, em quantidade maior que o de costume, Lindaura pediu a Linoro para achar o lugar de onde elas vinham. Na mesma noite os dois foram no terreiro, com a lamparina na mão,  e encontraram o foco na casinha.

 

- Traiz querosene que vou pôr fogo e matar o ninho, pediu ele. Lindaura lhe convenceu a esperar o outro dia de tardinha, hora que elas não tinham saído ainda, matava mais.

 

Ele acatou. No outro dia, com uma lata de quarto derramou o querosene na fossa deixando um rasto para pôr fogo de longe. Foi no borralho do fogão, acendeu um chumaço de palha de milho e quando ia chegando perto com o fogo... Bum. Só se ouviu o estouro da labareda sapecar o monte de lenha rachada e a copa das mangueiras ao redor.

A fossa exalando seus gases, somados ao querosene que ele derramou, explodiu, abrindo um buraco que engoliu até ele, espalhando sedimento e pedaços da casinha para todo lado. Foi um corre-corre danado. Lindaura gritava.

 

– Acode, meu Deus. Os vizinhos assustados com o estrondo e aquela gritaria, correram, de pronto, no tempo de segurá-la desmaiando.

Seu Ambrósio, mais dois passantes, correram para procurar e não encontraram Linoro em lugar nenhum em volta da casa. Sumira.

Dentro a consternação. Para todos ali, ele tinha voado com a explosão, caindo longe em pedaços. Era em volta do quintal em chamas que eles agora o procuravam. A casa foi enchendo de gente, chegavam só até a porta do terreiro para ver o buraco em chamas, sem aproximar. Dona Lindaura desesperada, em prantos, gritava querendo sair e procurar o marido. Batira, nora de seu Ambrósio, segurava, acalmando com chá de erva cidreira, e Deus sabe o que faz.

O fogo no buraco crepitava no queimar a lenha e o que restou da casinha, quando seu Geraldinho Mulato transpôs o umbral da porta descendo o degrau para o terreiro, querendo ver o acontecido, a madeira queimando estralou mais forte e um vulto saiu de dentro do buraco. Seu Geraldinho identificou como o diabo em pessoa, por causa das duas pontas do chapéu que sobrou e do corpo queimado, uma mistura de carne viva com o sedimento da fossa, como se o buraco tivesse dado nas profundezas. Deu um grito e saiu correndo sem olhar para trás.

 

– É o diabo. Passando dentro da casa cheia, derrubando tudo pela frente até ganhar a rua .

 

O povo que enchia a  sala, no curioso, seguiu ele gritando.

 

- Cruz Credo, Ave Maria! O buraco deu nos infernos, o diabo saiu de dentro da terra.

 

Quem procurava nos arredores os pedaços de Linoro, ouviu aquela assuada, na gritaria correu, também, sem saber direito de quê.

Sobrou só dona Lindaura e Batira que levaram o maior susto quando Linoro adentrou pela cozinha, surdo, todo chamuscado de fogo e lambuzado de merda, ainda com o chumaço de palha na mão, olhou para mulher gritando;

 

– Acabei com elas.


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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Júlia Partera - MQ

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Era custoso o preparo da terra, o plantio e a lida, o cuidá da roça até o colhê. Inda tinha que esperá o tempo certo da chuva prá tudo isso e depois infrentá  as capivara cumeno o roçado, inda fora de hora, como se fosse à-meia nossa labuta.

Foi aí que pareceu na idéia a arapuca.

Seguino no triero, abrimo deiz buraco de mais de dois metro, tampamo cum foia de buriti, modo que quando elas viesse cumê, caísse neles.

E deu certo. Teve dia que chegamo a pegá cinco delas. Aí era marrá no laço e puxá, depois sangrava uma a uma. Na primera veiz, num sabia como lidá com o bicho. Mais Miguilina perguntô prá seu Juvito mais dona Divina e eles explicô prá tirá o coro, depois tirá a banha que formava outro coro, ficano a carne que era boa de fazê armôndega e guardá na banha de porco. Durava ano.

E foi o que nóis feiz, enfileramo oito lata de banha de porco, enchemo de armôndega de carne de capivara. Zefa já perto de discansá, enjoano cum tudo que era de cumê, nem na cuzinha foi, fizemo tudo suzinho, eu mais Miguilina.

Na hora de fritá as armôndega, deu um lampejo e levei uma amassadinha cum farinha de milho e Zefa num istranhô; inda pois querença de mais.

Num teve injôo nem nada, foi o acabá das preocupação em tudo que cumia e num sustentava. Desse dia em diante, ela armuçava e merendava as armôndega de carne de capivara pega nas armadilha do triero.

Mesmo quando iscasseou a pega dos bicho, num sei se pur isperteza delas ou pur ismazelo nosso no preparo das armadilha, Zefa foi até discansá sem fartá as armôndega, que era só o que ela cumia.

Nasceu Laurino, grande, forte; a partera nem acreditô, lembrano os injôo de Zefa. Daí em diante, virou recumendo seu: cumê carne de capivara desde o primero mêis. A receita ajudava a afamá ela no Vai Vem. Quando as muié embuchava e cumeçava a baldiá, era só chamá Júlia Capivara, ela dava jeito.

Era assim que ia pono o cunhecimento nessa fartura, lugar mais abençoado e de tudo pur fazê, o povo trabalhadô dimais, mas meio sem idéia das coisa. Pois olha que nesse tempo eles fazia a derruba do mato p’ra roça e num distocava. Ficava o milho e os toco. Desses, só colhia o estrovo no passá cum arado.

A primera veiz que Juvito viu a que fiz, ele pois reparo na trabalheira que dava. Mais quando coí os primero carro de milho ele num acreditô no rendê do plantio. Hoje ele prepara milhor a roça. Inda aprendeu a esperá a cheia mode favorecê a distoca.

Juvito ficou meu cumpadre. Dei a caçula, Duvigis pr’ele batizá e ele pois querença d’eu batizá o dele tamém, que envinha nos dia. Nóis ficô isperano o nascê.

No dia, quando Neco Talagada foi chamá a partera, na passagem deu aviso, e num vortô. Júlia Capivara num passô e nóis incomodô. Zefa num agüentô, bateu lá.

Eu e Juvito pegamo o triero atráis de Neco mais a partera. Neco encontramo na venda bebeno.

 

- Onde tá a partera?

 

- Seu Juvito, ela foi na mesma hora, já divia ter chegado faiz tempo. Eu parei prá molhá o papo, ela já em ia longe.

 

Saimo os três pelos triero procurano. Neco, já meio tonto da pinga, cambaleava na frente. Quando passamo perto da roça, onde tinha as armadilha, Neco, na frente, parou na primeira e olhou dentro do buraco.

 

- Isso é hora de pensá em caça, Neco? Onde já se viu.

 

- A capivara tá aqui, seu Juvito.

 

- Ponha tento Neco.

 

- É ela seu Juvito.

 

Era Júlia, a partera, que tiramo do buraco, das mais infezada.

 

- Tenha mais respeito seu cachaceiro. Dizeno p’ro Neco.

 

Quando chegamo na casa de Juvito, a Zefa já tinha aparado o minino e tudo corria bem.

Batizamo o Tércio mais Duvigis junto, dos dois, a madrinha foi a partera, modo de acabar com a disfeita do buraco.

E, desse dia em diante, nunca mais chamamo a cumadre de Júlia Capivara.

 
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Baltazar de Das Dores - MQ



Vagava na chapada, havia mais de vinte anos, conhecia ela como a palma das mãos, caminho, atalhos, jeito de chegar. Era Baltazar. Uns diziam que era descendente de ciganos, outros que era dali mesmo. O certo é que cruzava aquelas terras, trabalhando ora aqui ora ali, sempre muito considerado por todos. Da família diziam que só restava ele.

 

- Seu Baltazar, apeia.

 

- Cumo vai dona Filó? Bom dia, seu Aniba.

 

- Dia. Chegô na hora, Filó cabô de passá um café. Achegue.

 

- Cum gosto, seu Aniba, cum muito gosto.

 

Ali mesmo, entre gole e prosa, tratou do serviço. Na preferência de Baltazar, trabalhar ali era o melhor. Fosse pela paga, fosse pelo trato, além de poder pôr os olhos em Das Dores, que quanto mais passada do tempo, mais boniteza acumulava. Em sendo filha única de seu Aniba e dona Filó, ficava no vantajoso da herança, mas isso não era cobiça de Baltazar.

Das Dores, moça donzela, jeito de menina ainda, apesar do maduro nos anos, vivia na conformação de solteira vida afora. Bonita, isso sim, ela era: o rosto, os olhos claros, os cabelos lisos sempre presos para trás, e o corpo escondido naquele mesmo jeito de se vestir. Baltazar não tirava a atenção dela. Coisa que seu Aniba logo avaliou nele foi a bem querença escapulindo nos olhos, nessas horas.

 

- Seu Baltazar, já pensô tomá sussego na vida, pará num canto, radicá?

 

- Dô prá isso não seu Aniba, ponho custumação in lugá ninhum. Ponho gosto é nos caminho, na istrada.

 

- I’eu mais Filó tamo ficano véio, nóis só tem Das Dores e a terrinha. Se nóis fartá é ela só no mundo.

 

Numa pausa.

 

- Faço cumbinação, cunheço ocê prá mais de vinte ano, ponho reparo nos oiá docêis dois, fereço a mão dela e tudo que carecê.

 

- Na honra fico seu Aniba, no acanho de respostá tamém.

 

A conversa acabou ali. No outro dia, nem a paga Baltazar esperou. Ganhou estrada.

 

Dois anos passados.

 

Das Dores estendia as roupas na frente da casa para quarar, quando avistou no longe o cavaleiro, caminhou até o batente da porteira, enxugando as mãos no avental. Distinguiu Baltazar ainda no longe. Seu coração disparou; sem pensar muito, abriu a porteira.

 

- Cumo vai, Das Dores?

 

- No custumá, em como Deus qué.

 

- E seu Aniba, vim tê uma prosa mais ele.

 

- Foi na rua cum a mãe, apeia.

 

Baltazar desceu do cavalo, levou o animal para o cocho e sentou na soleira da porta.

 

- Nem fiz armoço ainda. Se quisé merendá, a mãe dexô quitanda feita. Vô passá um café.

 

- Carece não, Das Dores. Gradeço. Sabe do assunto qui quero pôr trato cum seu pai?

 

- Magino, mania do pai querê rumá casamento de cumbinação, mais quero não, quero só se for de bem querê.

 

Baltazar ficou surpreso e envergonhado, disfarçou o quanto pôde, tentou mudar o rumo da conversa, mas ela insistiu.

 

- Foi pur isso que ocê sumiu, igual fugino, foi o pai?

 

- Cumbinação foi não, ele só falô que punha gosto.

 

- E ocê põe?

 

Ele ficou um bom tempo pensativo, meio encabulado, sem saber o que fazer com o chapéu que tinha nas mãos. Mas respondeu balançando a cabeça afirmativamente.

Das Dores abriu um sorriso e falou bem baixinho, enquanto olhava Baltazar bem nos olhos.

 

- Brigado Santo Antônio.

 

Ele, por sua vez, sentiu o coração bater mais depressa. Nunca tinha sido olhado daquele jeito antes. Conhecia o afeto de muitas pessoas encontradas vida afora por onde seu caminho levava, nada como o que Das Dores demonstrou com aquele olhar. Os dois parados no meio da cozinha, água fervendo no fogo, nem notaram a chegada de seu Aniba e dona Filó que, da porta, os olhavam. Seu Aniba tossiu e pôs o quebrar naquele momento.

 

- Cumo vai Baltazar. Veio recebê a paga?

 

- Vim foi pôr trato de casamento cum Das Dores, se ainda é do agrado do sinhor e dela.

 

- É do seu agrado, minha fia?

 

Ela, baixando o olhar, sem graça:

 

- Se for do seu, pai, do meu é.

 

- Vamo cunversá lá no terrero, seu Baltazar.

 

Estranheza de Das Dores, que conversa seria essa? O pai vivia tentando arranjar marido para ela. 

Tomando o rumo da cerca, seu Aniba foi pensando na conversa que tivera com ele, no seu sumiço de dois anos, e em toda aquela situação repentina, agora.

 

- É de seu querê mesmo? Tá resorvido tomá sussego? Puis reparo no que aconteceu dois ano atráis.

 

- O sinhor sabe da minha andança, que sô respeitadô; nesses dois ano garrei a pensá na vida. Das Dores tá no meu pensá faiz muito. Fugi no acanho de num sabê do gostá dela. Agora sei.

 

O casamento se realizou meses depois. Os dois viveram o primeiro ano sem filhos; no segundo, nasceu o primeiro e, daí em diante, foi um atrás do outro, para alegria de Das Dores. No todo, doze.

Baltazar tomou amor pela lida e, uma vez por ano, levava o gado para vender no curtume. Demorava mais que o necessário, mas era do saber de Das Dores que ele corria a chapada toda matando a saudade das gentes e dos lugares. Mas quando voltava, era como no dia em que pediu sua mão. Tocava o berrante no longe e chegava sempre cantando.

 

quando ando no sertão

careceno pricisão

eito prá invergá o corpo

sei que num farta não

quem me é de valia

ladainha creio

rezei tantas

esqueço não

 

Das Dores largava tudo o que estivesse fazendo e o esperava com a porteira aberta e a quantia de amor que cabia no seu olhar.

 
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domingo, 22 de dezembro de 2013

Breganha - MQ

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pareceu agora na minha lembrança

um caso do diabo que se assucedeu...

muitos ano atráis

lá nas bera do Ri do Braço

 

Rosinha ruim dos peito nem ia iscapá,

famia tudo avisado, a mãe, as irmã, as tia

puxava reza, fazia promessa

era uma consumição vê ela daquele jeito

benzedô num dava jeito,

dotô só balangava a cabeça desacorsoado

i’eu no meu canto

me apegava com pai de todos e nada

foi aí que resovi chamá o dêmo

e fazê breganha

vida de Rosinha prá cá

arma pecadora prá lá

 

foi como se o coisa ruim tivesse esperando,

de repente Rosinha miora,

fica boa que os dotô e benzedô num creditava

vinha de longe prá vê

 

i’eu no meu canto

isperano o rabudo cobrá o trato

numa tremedeira nem durmino tava

e deu-se um tempo

desalembrei do beiçudo

que num vinha acertá

um dia tano tocano boiada

só animá pejado de brabeza

e muita pricisão de chegá

no relance

apareceu o vermelhão,

o ronca quente, capeta no duro

pele carroquenta e chifrão afiado

 

- vim te buscá

 

- agora num vô, tô cheio de sirviço

 

- trato é trato

 

- tem que isperá

 

- vou te levá

 

- agora num vô, tô ocupado

 

- ocê tratô tem que pagá

 

- pagá i’eu pago, mais tem que isperá

 

dipois de muita discussão o gramulhão intestô

e bufando veio prá riba de mim

i’eu num devorteio

garrei o rabo dele e dei um nó

o bichão saiu pulando,

peidando e cagando fidido

era bosta do dêmo prá tudo que é lado

do Carvueiro até a Meia Légua

ficou uma catinga só

no rasto do beiçudo

pulano cerca

 

dafeita que o feioso nunca mais vortô

i’eu num temo a morte pur sê coisa certa

mais arma minha na rezança do céu

vai parecê não 

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