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Passava o tempo na porta da emergência, sempre próxima dos que pareciam sofrer mais com a falta de notícias.
Rasgava a folha no meio, depois o meio no meio, até picar todo o papel em pedaços minúsculos e ficava de lado, solidária na espera.
Quando algum familiar saía, depois da única visita permitida, era a primeira a querer ouvir sobre a situação. O semblante acompanhava o teor do relato e as mãos acalmavam ou aceleravam, mediante as reações da família.
Rasgava preferencialmente revistas, os jornais soltavam muita tinta; falava, ia tirando dos bolsos as folhas, conduzindo seu ritual de cálculos quase geométricos para produzir pedaços de menos de um centímetro que colocava no saco de plástico até enchê-lo e, num instante, jogá-lo na lixeira.
Perguntada se era parente do acidentado, respondia: “só conhecida”. Onde morava: “ora, no albergue e na rua”. Por que passava o tempo todo picando papel, respondia: “acalma, enquanto espero”. Espera o quê? “Notícias ora”. Mas notícias de quem? “De quem precisa, ora”.
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MQ
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segunda-feira, 27 de julho de 2009
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