domingo, 31 de maio de 2015

Buriti Cercado - MQ


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Amadeu cutucava a fogueira com o tição avivando o fogo naquela noite fria. O pensamento ia longe, os companheiros esperavam calados, como se escutassem, ele lembrar o dia. Pedaço de cada um ali, restado, presente, menos de Valdo, o mais moço, agregado a eles na passagem pelo Corumbá.

Neles as marcas no rosto delatavam, com ensimesmar de Amadeu, que estavam voltando para o mesmo lugar, no mesmo pensamento.

Tavinho tossia disfarçando a tristeza, Jujim tecia o laço apertando mais cada trançada, Rubilão aparentava, naquele silêncio, atento no lembrar. Com apreço no coração, eles olhavam fixo a lenha queimando, naquela noite escura e fria.

Quem primeiro abriu a boca foi Valdo perguntando a Jujim.

 

- Quanto vale?

 

- Faço laço prá vendê não, só p’ro orgulho de uso. Compra lá na venda do Manco. Respondeu Jujim meio ríspido, não agradando de Valdo tirar ele do lembrar. Mas era seu jeito, abrutalhado de tão sincero.

 

Tavinho, tomando as dores do companheiro, disse:

 

- Num fala assim cum ele não, Jujim, desmerece o Valdo não. Ele pois agrado no laço, divia gradecê, cobiçô um trem qui ocê feiz.

 

Tavinho era assim com todo mundo, não agüentava nada errado em volta dele, gostava de tudo no justo.

Rubilão, calado como era, com o olhar mais forte que qualquer palavra aprovou. Seu silêncio seguiu até o momento que  Amadeu jogou o tição na fogueira e se levantou, naquele rompante só seu.

 

- Vamo vortá p’ro Buriti Cercado, num semo home de fugi no mundo. Ponho assunto cum eles, cum aquele Linalvo inté tropa de guverno, preciso for. Ocê, Valdo, segue em rumo, é briga nossa, seu aperreio é outro, vai na sorte...

 

Valdo sem entender nada do que ouvia e sem dizer uma palavra, montou sem hesitar, tomando o mesmo rumo dos companheiros. Rubilão olhou consentindo. 

Na Vila, para assombro do Manco, tomaram uns goles e anoiteceram no Buriti Cercado. Nas doze léguas vencidas, quase a trote, nenhuma palavra, nem Valdo perguntou nada, observava calado.

 

- Melhor esperá manhecê. Propôs Jujim.

 

Ninguém respondeu e continuaram no trote até a casa às escuras. No latir dos cachorros, dona Dalva levantou com a lamparina na mão. A porta já estava aberta quando Amadeu apeou. A primeira reação foi de susto ao vê-lo. Chorando muito, exclamando:

 

- Fiquei só no mundo, meu filho! O Melques brigou com o Linalvo em luta corporal, com facas e punhais, um sangrou o outro no meio do pasto. Linalvo morreu na hora e o Melques veio arrastando, esvaindo em sangue e em meus braços, deu o último suspiro, falando seu nome.

 

Ainda sem desmontar, Valdo perguntou a Jujim:

 

- É a mãe dele?

 

- Madrasta, respondeu Tavinho.

 

E foi no paiol onde Valdo ouviu toda a história da boca de Jujim.

 

- Quando seu Melques ficou viúvo, nóis trabaiava aqui, lidava cum boiada mais Amadeu e o Mané Bem. Dona Dalva era madrasta do Linalvo, viúva tamém, vizinha e dona de mais terra e menos gado que seu Melques. No casamento dos dois, cum o acordo de Linalvo e o Amadeu, num dividiro nem terra nem gado com os filho, virô uma coisa só.

Mané Bem era nos muito melhor vaquero, afamado no laço, quase regulano idade cum seu Melques, tomava de conta de nóis e do gado. Nóis até pidia a bênção p’ro Mané Bem, escutava um tudo dele.

Um dia, nasceu arrelia entre Mané Bem e Linalvo por conta duma bobage que ninguém nem alembra qual e aí virô aquele aperreio. Mané Bem dizia que ele era cria do demo, que num prestava em nada.

Um dia, meio no à força, Linalvo buliu com a filha dele quase desonrano a moça. Mané Bem, na frente de todo mundo deu surra de vara nele. Linalvo jurou morte. Mês depois Mané Bem pareceu morto de bala  numa grota no pasto do Buriti Cercado, ele num tinha inimigo ninhum, fora o anteado de dona Dalva.

Amadeu quis satisfação com pulícia e tudo. O pai num deixô. Pediu sua parte nas terra, o pai num deu. Aí nóis resorveu segui ele sem nada, ino p’ro norte mode honrá Mané Bem.

 

- Jujim! E o Amadeu cumbina cum a madrasta?

 

- Ela foi boa prá ele, ajudô esfriá cabeça quando em ia matá o Linalvo.

 

Amadeu e a madrasta passaram quase a noite toda conversando, ela lhe contou a tristeza do pai quando ele se foi e das brigas dele com Linalvo desde então. O pai não se conformava, queria mandar gente atrás, queria paz igual no tempo de Mané Bem. Contou da família dele. A filha caiu na vida. A mulher tinha ido viver com o irmão em Minas.

Amanheceu o dia, aquela tristeza entre os dois. Os companheiros, no curral, tomando sol, enrolando seus cigarros e com os cavalos arreados, esperavam Amadeu.

 

- Ele vai querer ficar, Rubilão? Perguntou Jujim.

 

- Vai não, mas abre questão de deixá nóis prá trais, respondeu.

 

Dona Dalva não se conformava. Amadeu firmava opinião de ir embora e deixar o passado em paz. Gostava muito dela, considerava, mas ia. No desamparo deixava não. Jujim, Rubilão, Tavinho mais Valdo davam conta da lida. Rubilão tinha o comando de conhecer mais.

Amadeu fez madrugada não despedindo de ninguém, venceu a estrada até alcançar o Corumbá sem nem olhar para trás. No atiçar o fogo na noite fria, já pensando só nos em frente, escutou o barulho de alguém chegando. Era Valdo que foi desmontando e dizendo:

 

- Sigo daqui com o amigo, faço parte do prá trais não...

 

Seguiram vida a fora, fazendo um serviço aqui; outro acolá, sem parar em lugar nenhum. Sempre longe do Buriti Cercado mas sem seguir para o norte como era de plano fazer.

Valdo respeitava o em si de Amadeu e gostava do jeito dele cada dia mais. A amizade, feita no mais calado, só foi aumentando. Amadeu apreciava naquela malungagem o simples de Valdo.

 Às vezes, Valdo arriscava conversar um pouco mais, contar casos do Roncador, de Maria Bibica que gostou dele e propôs caso de rabicho. Contava as doidices dela quando eles se deitavam. Dizia.

 

- Um dia, em perto, nóis passa lá e o amigo Amadeu vai ficá gostano.

 

Amadeu ria como consentisse. E assim, um dia, a distância era tão pouca, o serviço feito em boa paga, encostaram lá.

De fato, Maria Bibica tinha um rabicho por Valdo. Era risonha nos olhos, morena, de ancas fartas mas um jeito de ainda menina. E gostava do Valdo, delatado. Amadeu ria com o feliz do amigo indo para o quarto.

O semblante anuviou quando a viu na cozinha despenando o frango do almoço e perguntou, sem querer acreditar.

 

- Zumira?

 

- Seu Amadeu! Espantada e demonstrando muita vergonha, disse.

 

- Como vai o sinhor?

 

Ali na cozinha ficaram conversando enquanto Zumira preparava o almoço. Amadeu relatou tudo o que aconteceu no Buriti Cercado. Conversa triste de ter, mais triste, ainda, quando Zumira falou como caiu na vida, contou de Linalvo derrubando ela à força, logo depois de ele fazer rumo com os meninos. Amadeu até sorriu quando ela se referiu a Jujim, Rubilão e Tavinho como meninos. Zumira contou que Linalvo fez ela deitar com um vaqueiro novo que chegou lá e que os dois tomavam ela quando queriam. Desonrada já estava, então que ganhasse dinheiro e pudesse escolher com quem deitar. Nessa intenção, foi parar ali no Roncador na bondade de Maria Bibica, agora sua irmã.

 

- E minha mãe? Sinhor sabe dela?

 

- Sei, foi morá em Minas com seu tio.

 

- Coitada da mãe, sofreu tanto a morte do pai, padeceu. E começou a chorar.

 

Amadeu a abraçou lembrando seu Mané Bem, seu mais que tio, lembrando seu pai, arrependido de não ter ficado com ele, de dona Dalva, justa no propor passar no papel tudo para ele e, apenas, viver vivendo das lembranças ali junto. Lembrou dos amigos ficando na lida, consentindo apartar. Da amizade de Valdo.

 Quando Valdo e Maria Bibica entraram na cozinha viram os dois no meio da tristeza. Valdo enxergou o mesmo momento, igual de Amadeu, Jujim, Rubilão e Tavinho na beira do Corumbá.

 

- O que aconteceu aqui, Zumira?

 

Antes de ela responder, Valdo percebeu que Zumira era a filha de Mané Bem, fez sinal para Maria Bibica e saíram da cozinha. Valdo contou toda a história dos dois, a casa encheu de silêncio. Amadeu não saía do rabo do fogão, cutucando com o tição o borralho. Valdo e Maria Bibica apartados noutro cômodo respeitavam a hora.

 

- E isso é vida, Zumira?

 

- A sua é, seu Amadeu?

 

- É não Zumira, longe do Buriti Cercado, de Tavinho, Jujim e Rubilão, isso é longe de sê vida. Sobrô só Valdo prá tê bem querença.

 

- Queria essa vida não seu Amadeu, queria apartar da mãe não. Queria casá, em igreja e tudo, com moço bom igual o sinhor, sabedô dos direito. Fazê famia grande, aprendê a custurá em máquina. Prá mim ficou Maria Bibica.

 

Enquanto ela falava, Amadeu foi prestando atenção na mulher que se transformara Zumira, olhou pela primeira vez com os olhos de homem aquela que restou na lembrança apenas menina magra, que vivia no curral esperando o balde de apojo para a mãe fazer queijo e sentiu desejo. Ela desde que o vira sentira a mesma coisa. Demonstravam os dois agora em olhares e naquela noite, fugindo de suas histórias, nos braços um do outro.

Quando amanheceu, Amadeu chamou Valdo numa conversa séria, queria levar Zumira para casamento, buscar a mãe dela em Minas, voltar para o Buriti Cercado e retomar sua vida. Queria tocar a criação de gado com a madrasta, Rubilão, Jujim e Tavinho, e queria ele junto para quietar no Buriti Cercado. Se fosse do gosto que levasse Maria Bibica.

 

Na porta da casa todos esperavam.

Amanhecia quando Jujim avistou vindo pela estrada do Lajeado e deu galope para avisar.

Rubilão já quase sem enxergar, Tavinho sustentando sua velhice e a de dona Dalva, Amadeu, Zumira e Maria Bibica num riso grande esperavam seus filhos e netos chegarem do Entre Rios.

Jujim desceu do cavalo e rodeou a casa até o pequeno cemitério, nos fundos. Na beira do túmulo de Valdo, orgulhoso como tecendo um laço, falou:

 

- Tá vendo cumpadre, envai tempo que o diabo num põe cria aqui no Buriti Cercado.


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sábado, 30 de maio de 2015

ENTÃO, FOI ASSIM? - RUY GODINHO

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O programa Então, Foi Assim? deste sábado, será inteiramente dedicado à parceria com o cantor e compositor Milton Nascimento com o compositor Ronaldo Bastos, que rendeu músicas memoráveis.  
Na ocasião eles revelarão as histórias de:
- Cais;
- Cigarra;
- Circo Marimbondo;
- Cravo e canela e
- Nada será como antes.
 
Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira, sábado, às seis da tarde na Nacional FM com retransmissão para mais de 240 emissoras em todo Brasil.

 
 
Produção e apresentação: Ruy Godinho
 
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sexta-feira, 29 de maio de 2015

RODA DE CHORO - RUY GODINHO

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RODA DE CHORO - ESPECIAL ADAMOR RIBEIRO
LANÇAMENTO DO CD LÁGRIMAS DA MINHA ILHA
O Roda de Choro deste sábado vai ser especialmente dedicado ao lançamento do CD Lágrimas da minha ilha, do bandolinista e compositor paraense Adamor Ribeiro, que estará presente durante todo o programa.
Na parte musical, choros instrumentais autorais presentes no CD:
 Roda de Choro, sábado, meio dia pela rádio Câmara FM, 96,9 MHz, de Brasília, retransmitido em mais 205 emissoras pelo Brasil, Japão e Angola.

Produção e apresentação: Ruy Godinho
 
 
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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Pai rei - MQ


 
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Como fosse o próprio, entestou, ferveu e veio, queria porque queria me enfrentar de novo, ali no meio da rua, na frente de todos; de certo na demonstração de valentia, coisa que não tinha. Era jeito de traiçoeiro, de capanga restado, mais sem serventia. Dormia de favor na casa velha do Delfonso, se dizia parente de fulano, do sicrano, que era filho de pai-rei, sabia dos modos e de todas as profissões; invocasse o pai não sobrava nada  em volta, secava tudo. Que eu fosse embora antes que tardasse ali, esticado no chão com a alma apensa nos profundos. Enquanto falava ia batendo as mãos nos bolsos como se procurasse alguma coisa.

Me sentia na vergonha, ali no meio da rua em briga de mão. Ele mal parando em pé de tão bêbado, mas era assim, não podia me ver em lugar nenhum que vinha, bêbado ou não. Todas as vezes era aquela provocação, quando levava uns pescoções, xingava de longe, esbravejava. O motivo dele não sabia, uma ojeriza gratuita, nascida do nada.

Aquela situação já durava tempo, ficava medindo lugar de ir para não encontrá-lo, tentando evitar. Mas não adiantava muito porque onde me visse, lá vinha, batendo as mãos nos bolsos provocando, querendo briga, se dizendo filho da brabeza, do pior que havia, não adiantava esconder que ele achava, seu pai-rei guiava na sova que ia dar, que era protegido no natural e no urdido.

A idéia surgiu quando vi na casa do Linoro uma carcaça de boi, no quintal, secando ao sol. E ele, prontamente, me cedeu a cabeça e ajudou nos preparativos. Passamos quase uma semana trabalhando para achar a indumentária, o cavalo, o arreio, tudo preto, como foi pintada a cabeça de boi preparada para vestir a minha.

Uns metros antes da casa velha do Delfonso, no Beco da Passagem, fiquei esperando o Birobo naquela noite. O Linoro, na outra esquina, deu o sinal quando ele apareceu na rua. Coloquei a cabeça de boi, abri a capa de chuva sobre as ancas do cavalo e apontei na esquina. Quando ele me viu, parou no susto. Nem dei tempo, com a voz empostada inquiri.

 

- Num toma bênça do pai-rei, Birobo?

 

Ele quase já correndo, gritou.

 

- A bênça, pai-rei.

 

E correu, rua abaixo, até que cerquei no galope; com aquela cabeça de boi me machucando o rosto e o pescoço, perguntei.

 

- Tá fugino do seu pai, travesso?

 

Birobo tentava pôr desconfio, ali parado na minha frente, misto de assusto e espanto, abobado, sem conseguir falar, me ouviu dizer que filho de pai-rei não podia ficar arreliando com ninguém para não dar parecença de quem era e proteger os profundos, que ele tomasse tento. Num volteio saí a galope rua acima.

Muitos dias se passaram sem que Birobo aparecesse. Um dia o encontrei sóbrio, mais arrumado que sempre, meio sem graça aproximou-se de mim, misto de riso e medo no rosto, se curvando todo, falou baixinho como para ninguém ouvir.

 

- A bênça, pai-rei...

 

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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Antonho da Fita - MQ

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Que dava por fora dos morros era só algodão, labuta de Tertuliano mais Idalina, vencendo no tempo o aperreio da idade, o desgosto de Mundica e criando Lilica no sem juízo.

 

- Se é Deus que serve, i’eu tô sirvido, dizia Tertuliano.

 

Às vezes achava ridiqueza no gostar de Lilica, era a mais velha, vivia nos bordados com a mãe. Era moça esquisita. Perto das visitas ficava olhando, pondo reparo demais. Buscava os bordados para mostrar, as pontas encorpadas com as fitas nas cores. E ficava no tempo passando as mãos. Cantando.

 

Traiz o cavalo que infeito a sela

Envou na garupa, sou moça donzela

Fita vermeia é cor do pecado

Quero dimais é vivê do seu lado

 

Parecia que nada fazia agrado a ela, a não ser os bordados. Bastava um falar que ia na rua buscar os do carecer, que Lilica pedia para trazer uma fita. Quando ia junto ficava empatando tempo na venda por conta das fitas.

E Deus serviu, para alegria de Tertuliano e Idalina. Lilica foi pedida em casamento por Antonho, empregado na venda do Manco. Nessa hora, ficaram sabendo o porquê da demora, quando ela ia na venda, já era a lisonja de Antonho.

O casamento se deu no mês de maio, era do querer dela. Foi um festão.

Agregado na família de Lilica, Antonho ganhou do sogro o de morar, um cavalo e à-meia na lavoura de algodão.

Na primeira noite, meio da madrugada, Lilica acordou.

 

- Antonho, acende a lamparina, dexa i’eu ti vê, ocê é bunito dimais, Antonho, parece uma fita. Ocê é bunito dimais, Antonho.

 

Primeira vez que Antonho foi na rua...

 

- Antonho, traiz uma fita verde pr’eu fazê um bordado.

 

O de comer ele não achava pronto, mas os bordados, cheios de fitas de tudo que é cor, era garantido.

Isso se repetiu por toda a vida. Ficou sendo o Antonho da Fita. Do seu desagrado, mas foi tolerando os dias, os meses, os anos. Era fita amarrando o pote, nos pé da cama, em todo lugar da casa, até no chapéu dele.

E de madrugada:

 

- Antonho, acende a lamparina, dexa eu marrá uma fita no seu pé, ocê é bunito dimais, Antonho.

 

Num falhava um dia.

 

- Antonho, traiz um agrado de fita prá mim.

 

Antonho da Fita foi se conformando.

 

- Antonho, acende a lamparina, dexa i’eu marrá uma fita marela nocê. Ocê é bunito dimais, Antonho.

 

Acordava com fitas amarradas no corpo todo. Cada dia que passava, Lilica ficava pior.

No entremeio de maio do ano, lavoura no prumo de colher, Lilica passava os dias junto com Antonho, colhendo o algodão, ia colhendo, fazendo uns chumaços e amarrando com as fitas. Não tinha renda um serviço daquele.

Um dia, Antonho desacorçoou e, na desculpa de ajudar na colheita do sogro, dormiram lá.

 

- Antonho, acende a lamparina, dexa i’eu ti vê, ocê é bunito dimais, Antonho, parece uma fita. Ocê é bunito dimais, Antonho.

 

Nesse dia, deixou o cavalo já arreado, fez madrugada, passou a mão na lata de paçoca e numa cabaça d’água. E ganhou o mundo.

Marcou o rumo do Cavalheiro e só desmontou na boca-da-noite. Quando desarreou o cavalo, achou amarrado nos baixeiros os quatro laços de fita, uma de cada cor.

 

 

 

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