quarta-feira, 19 de julho de 2023

ABRAÇO Desde que li o livro com seus textos para teatro, alguns anos atrás, o de “Abraço” me deixou emocionado. Cheguei a reclamar uma montagem urgente tamanha impressão que me causou. Uma reflexão sobre quem somos, nossas alegrias, nossas tristezas e mágoas, as pessoas da nossa história – é como se recebêssemos com o Abraço, abraços da vida e da própria morte. Muitas surpresas boas: a direção do autor, apurando as marcas fundas do sentimento de ausência que está em nosso final, a solidão dilacerando aos poucos o que ainda teima em viver em quem envelhece e se isola ou é isolado, todas essas cores fortes, os tons de abandono sabiamente desdramatizadas na dose certa na direção e montagem do texto. A preparação do ambiente com a música, também do autor e diretor, que nos vai guiando para a intensidade, com leveza, desde a cena inicial. Aí esta Edyr Augusto Proença inteiro, sua simplicidade nos inundando de sensibilidade. Aí esta o Edyr confabulando com Cacá Carvalho e com os próprios atores para nos entregar um espetáculo impecável, seja na música que conduz o público para a intimidade das cenas, seja na dosagem dramática do personagem ou na sedutora mulher/morte, poesia pura na representação da atriz. Fragilidades, contundências e angústia que nos remete a nossa própria vida e chega a nos hipnotizar. Generoso Edyr – nos presentear com Zê Charone e Cláudio Barradas, juntos pela primeira vez, definitivos neste Abraço. Zê, que acompanho faz tempo, traz o teatro dentro de si, brilha esplendorosa como que tirando outras vidas de cada gesto. Barradas, meu contemporâneo no Festival de Teatro da Aldeia de Arcozelo, época do Teatro de Estudantes, de Pascoal Carlos Magno - a quem tanto devemos - época em que a imprensa brasileira dedicava páginas à arte, ao nosso teatro mesmo que de estudantes ou amador. Revê-lo em cena agora fez voltar o tempo e lembrar nitidamente Vereda da Salvação que arrebatou todos os prêmios em Arcozelo. Um mestre desde aquele 1981 me entregando lembranças junto com a contundência da sua interpretação. Demorou um pouco para vê-la encenada. Mas, no último fim de semana, vi e de uma maneira muito especial. O texto me lembrando a emoção da leitura, a montagem me remetendo ao Assalto e toda minha história no teatro, a música de mãos dadas com o passado e o futuro onde me vi, ora num, ora noutro. O pessoal do Cuíra me lembrando a AGT e o Espaço Cuíra o Teatro Inacabado em Goiânia, Zê me lembrando Luiza e Barradas saído do texto de Jorge de Andrade e entrando no de Edyr Augusto me fazendo sentir Otavinho Zaldivar Arantes sentado ali ao meu lado. Edyr e o Grupo Cuíra, bardos, loucos sãos, sonhadores e realizadores, gente que faz e faz com rigor e determinação seus sonhos acontecerem – e como sabem fazer - a todos vocês minha emoção, admiração e profundo respeito. Com o seu Abraço dentro da minha sensibilidade abraço a todos e te abraço Edyr Augusto Proença. Marcos Quinan ABRAÇO Texto, Direção e Música: Edyr Augusto Proença Elenco: Cláudio Barradas e Zê Charone Consultoria Artística: Caca Carvalho Consultoria em Figurino e Maquiagem: Ronaldo Fayal Iluminação: Roma Muniz Cenotécnico: Ribamar Monteiro Técnico de Palco: Suely Brito Adereço: Delleam Cardoso Constureiras: Telma Lima e Maria Fernandes Gomes Músico: Anderson Brum Produção: Zê Charone Uma Realização do Grupo Cuíra Sextas, Sábados e Domingos - 21:00h – ESPAÇO CUÍRA Em Cartaz até o dia 27 de setembro

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