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OS 11 DO SUPREMO COMEÇAM A DECIDIR HOJE O DESTINO DE 200 MILHÕES, NÃO APENAS DE 38 PESSOAS
O
Supremo Tribunal Federal começará a decidir hoje, caso não seja
atropelado ou se deixe atropelar por alguma manobra, que cara pode ter o
Brasil nos próximos cinco, dez, quinze, cinquenta anos… Se os ministros
da Corte — sempre atentos às provas, claro!, mas cientes de que
corruptos profissionais não costumam deixar ato de ofício — disserem ao
país que são inaceitáveis os episódios reunidos sob o nome-fantasia
“mensalão”, então temos futuro ao menos, desde que passemos a fazer as
coisas certas. E só há uma maneira de eles dizerem isso: condenando os
réus. Se, por outra, a maioria decidir inocentá-los, especialmente ao
núcleo duro do escândalo (José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e
Marcos Valério), então, meus queridos, será o caso de rezar. Porque a
esse eventual resultado desastroso se seguirá um verdadeiro tsunami de
imoralidades. Afinal, se aquelas são transgressões menores, que não
merecem o peso de uma pena, então tudo é permitido entre o Oiapoque e o
Chui.
Guardemos estes nomes: Celso
de Mello, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Ayres
Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia, Dias
Toffoli, Luiz Fux e Rosa Weber. Eles não estão decidindo apenas
uma pequena parte da vida de 38 pessoas. Eles estão decidindo é o
destino de 200 milhões de brasileiros e de outros milhões que estão por
vir. Guardemos esses nomes: eles poderão restar na história como
personagens de um marco histórico: o dia em que as leis brasileiras
disseram aos poderosos que eles não podem tudo. Guardemos esses nomes
para que sejam decorados por nossos filhos e por nossos netos. Eles
poderão vir um dia a ser exaltados como os protagonistas do dia do
“Basta!” Mas também poderão ser execrados como exemplos acabados de
promotores da impunidade.
Não se
deixem intimidar pela rede petralha, que vem com a tese furada,
vigarista, de que tudo não passou de caixa dois de campanha, coisa
menor, quase uma besteirinha. Não se deixem sequestrar pela falácia. Se
usaram o dinheiro para pagar dívidas de campanha ou para tomar Chicabon,
isso não muda a natureza dos crimes cometidos para obter os recursos.
Eu insisto neste ponto: tanto pior se a dinheirama ilegal, vinda de
empresas e órgãos públicos, foi usada para financiar eleições. Isso quer
dizer que recursos públicos foram empregados para fraudar um dos
pilares da democracia. Se a turma tivesse usado a grana para cair na
farra, acreditem!, seria igualmente grave do ponto de vista moral, mas
menos deletério no que concerne à ordem democrática.
Os 11 do
Supremo estarão escolhendo um futuro para o país. Então não é esta a
Casa que, num impulso moralizante — ainda que eu ache a tese discutível
—, aprovou a Lei do Ficha Limpa? Que limpeza espera da política quem, na
prática, condescende com o uso do dinheiro público como se privado
fosse, usado para financiar partidos políticos e parlamentares? Se houve
crime eleitoral também — e isso parece incontroverso —, ele está no uso
que se fez do dinheiro, não na maneira usada para consegui-lo.
Exemplo de lambança
Já reproduzi aqui e faço-o de novo trecho do relatório da CPMI dos Correios que explica como funcionavam os “empréstimos” feitos pelo Banco do Brasil às agências de Marcos Valério. Vale a pena reler:
Já reproduzi aqui e faço-o de novo trecho do relatório da CPMI dos Correios que explica como funcionavam os “empréstimos” feitos pelo Banco do Brasil às agências de Marcos Valério. Vale a pena reler:
1.2 – O Banco do Brasil e empresas associadas
As ligações das agências do Senhor Marcos Valério com as empresas do governo podem ser a fonte dos recursos que foram destinados às pessoas indicadas pelo Sr. Delúbio.
As ligações das agências do Senhor Marcos Valério com as empresas do governo podem ser a fonte dos recursos que foram destinados às pessoas indicadas pelo Sr. Delúbio.
Pode-se
tomar como exemplo o contrato de publicidade e propaganda celebrado
entre o Banco do Brasil e a empresa DNA, que foi objeto de auditoria
realizada pelo Tribunal de Contas da União em que se constataram
irregularidades na sua execução.
Os Bônus
de Volume, diferente de bonificação, deveriam ter sido transferidos ao
Banco do Brasil, de acordo com o contrato, mas não o foram. O Banco, por
seu turno, não tomou as medidas para receber esses valores, em
descumprimento aos arts. 66 e 67 da Lei n° 8.666/93 e às cláusulas
contratuais. Segundo o TCU, o prejuízo pode ter chegado a RS
37.000.000,00.
A
Companhia Brasileira de Meios de Pagamento – Visanet – e a Servinet
também podem ter sido utilizadas pelo Banco do Brasil para repassar
recursos ilegais à DNA. Essas empresas repassaram, à DNA, R$
91.149.916,18 no período de 2001 a 2005 e, segundo o Senhor Antônio Luiz
Rios (sócio das duas empresas), não mantinham contrato com a DNA.
Conforme seu depoimento, desde 2001 os pagamentos à DNA pela Visanet são
oriundos do Programa “Fundo de Incentivo Visanet”, proposto pelo Banco
do Brasil, sendo que os repasses se davam mediante autorização do Banco.
A CPM1
rastreou os dois maiores créditos efetuados pela Visanet à DNA – R$ 23,3
milhões em 20/5/2003 e R$ 35 milhões em 12/3/2004 e verificou que:
a) quanto
ao crédito de RS 35 milhões, observa-se que, em 12/3/2004, a Visanet
depositou R$ 35 milhões na conta da DNA no Banco do Brasil; no dia útil
imediato, a DNA transferiu R$ 35 milhões para outra agência do Banco do
Brasil e, no mesmo dia, aplicou R$ 34,8 milhões em fundo de investimento
do Banco; pouco depois, em 22/4/2004, a DNA efetuou uma TED de R$ 10
milhões a crédito do Banco BMG, referente à compra de certificados de
depósito bancário; quatro dias depois, em 26/4/2004, foi concedido
empréstimo de exatos R$ 10 milhões do Banco BMG a Rogério Lanza
Tolentino & Associados. Como garantia, apenas o aval de Marcos
Valério Fernandes de Souza e Rogério Lanza Tolentino e a aplicação
financeira da DNA junto ao BMG acima referida. Apenas após a instalação
da CPM1 foi proposta a execução judicial do crédito.
b) no
tocante ao crédito de RS 23,3 milhões, verifica-se que, em 19/5/2003, a
Visanet depositou R$ 23,3 milhões na conta da DNA no Banco do Brasil; no
dia seguinte mesmo, a DNA aplicou R$ 23,2 milhões em fundo de
investimento do próprio Banco do Brasil; depois, estranhamente, em
26/5/2003, a SMP&B, também pertencente a Marcos Valério, tomou
empréstimo de R$ 19 milhões no Banco Rural. Há fortes indícios de que
esses empréstimos, na verdade simulados, serviram de fonte de recursos
para distribuição de dinheiro, conforme admitiram os próprios
envolvidos, Srs. Delúbio Soares e Marcos Valério.
(…)
(…)
Voltei
Deu pra entender a lambança? Sim, senhores! Os 11 do Supremo estarão dizendo se o Brasil passará a considerar corriqueiras essas práticas. Não adianta! Se o Supremo procurar um memorando em três vias de alguma autoridade mandando fazer isso e aquilo, não vai encontrar, por certo. As evidências da cadeia criminosa se encontram na relação que os réus mantinham entre si e na cadeia de subordinação. Imaginar que Delúbio Soares, por exemplo, fosse o nº 1, o nº 2 ou nº 3 do partido é desses delírios ridículos. O Supremo julgue Dirceu como lhe parecer, mas uma coisa é certa. Se deixasse memorando assinado, não seria Dirceu. Porque é quem é, então não deixa. A questão é saber quem articulava a base de apoio do governo e como essa base se aproveitou desse esquema. Isso tudo está devidamente caracterizado.
Os 11 do
Supremo estarão, a partir de hoje, acertando menos as contas do Brasil
com o seu passado do que estabelecendo um pacto com o futuro. Se o
tribunal disser, em nome da nacionalidade, que determinadas práticas são
inaceitáveis e serão severamente punidas, então os agentes públicos
saberão que certas linhas não devem ser cruzadas. Mesmo aqueles que se
virem a tanto tentados podem ser coibidos pelo receio da punição. Se, ao
contrário, derem uma piscadela para o vale-tudo, numa interpretação
rebaixada, lassa e relapsa do que se entende por um tribunal
“garantista”, então as garantias do conjunto dos brasileiros é que vão
para o lixo.
É preciso
que jamais percamos uma questão de vista: a penca de crimes cometidos
tinha um intuito: passar a governar a país por meio de um estado
paralelo, financiado por dinheiro ilegal, para atender a uma agenda que
estava fora dos limites institucionais.
Por essa
razão esse é o mais grave caso de corrupção da história do país e o
julgamento mais importante jamais havido no Supremo. Anotem os
respectivos nomes dos 11 ministros. Com eles, faremos história e
contaremos a história. Vamos ver qual.
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