segunda-feira, 19 de outubro de 2009

SERTÃO D'ÁGUA - ESTADO DO PARÁ

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continuação...


Estado do Pará


Apesar de saber de tudo, Tibúrcio Maia fingiu surpresa com a notícia e mandou fazer a cobertura, inclusive que levassem um fotógrafo.

Desde que viera para ajudar a fundar o jornal, estava acostumado a obedecer sem questionar nada. Afinal, o jornal era do partido do governo e seu interesse em uma nomeação política de maior importância era muito grande. Desde que veio de Cametá, estudante ainda, sempre conseguiu subir: o casamento, o emprego com o sogro, depois o jornal, no ano passado a diretoria da festa de Nazaré, e agora comandando sozinho o Estado, depois da briga com João Merino. Homem de confiança do governador, disse-lhe o intendente, estava exultante.

Quando o Estado do Pará saiu nas ruas, foi um acontecimento: os comerciantes festejavam; no Ver-o-Peso nem o Caviana, freteiro dos mais conhecidos, falando que viu a visagem naquela madrugada, pôde reacender os boatos. O Porto do Sal voltou à normalidade; nas estações a confusão desapareceu, os bondes transitavam normalmente; o teatro Ideal confirmava o programa e no arraial todos comemoravam. As pessoas começaram a retornar. Um sucesso o engodo armado. Entretanto, a brigada continuava de prontidão. A Folha do Norte publicava “A VIDA DO PESCADOR PLÁCIDO”, a Província do Pará vinha com a manchete “ POEMAS À NOSSA SENHORA DE NAZARÉ” e no Estado:

BAÍA DE GUAJARÁ
LIVRE DA VISAGEM

“Graças a pronta intervenção das autoridades que, nestes dias de pânico, tomaram todas as providências para garantir a segurança da população, foi abatida a tiros, esta tarde, nas imediações de Mosqueiro, pela alvarenga da capitania, comandada pelo sargento Abdias, da Brigada Militar, a visagem que nos últimos dias espalhou o terror pela baía de Guajará.

A patrulha naval, composta de quatro alvarengas, estava equipada com armas modernas e homens treinados e não teve nenhuma dificuldade em cercá-la no largo da ilha de Mosqueiro.
Conforme relato do sargento Abdias, quando acuada, ela se mexeu e os soldados dispararam a carga mortífera de uma canhoneta cedida pela brigada, especialmente para a operação.

O ser, depois de um grito rouco, calou-se para sempre, sumindo no ar, e as bolas de fogo que a acompanhavam, mesmo durante o dia, se apagaram como por encanto.

De toda a operação, sobraram apenas destroços da canoa, que oportunamente serão mostrados à população.

Ainda sob investigação da polícia estão as duas mortes ocorridas na Vila do Pinheiro. Os corpos estão sendo exumados para exame, uma vez que ambos apresentam sinais de violência, conforme testemunhas e familiares das vítimas.

Após a divulgação da operação bem sucedida da capitania, com a coordenação da Brigada Militar e da Intendência Municipal, a normalidade volta aos portos, feiras e estações. A população sai às ruas sem tumultos, as pessoas que fugiam para o interior começam a retornar.

A diretoria da festa do Círio de Nazaré espera um número muito grande de fiéis na Procissão da Transladação.”

continua...


MQ
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