sexta-feira, 12 de junho de 2009

ENTREATOS - Seu jeito

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Vivia de pequenos negócios informais, intermediava jogos, lutas, apresentações de artistas e até contratos de morte. Tinha sido taifeiro na Marinha, amado apenas uma mulher num porto distante que também o amava e morreu afogada. Perdeu todas as lágrimas naquele dia e nunca mais chorou.


Mais de vinte anos passados de porto em porto e, agora, mais de três sobrevivendo de expedientes, sem se importar com coisa nenhuma.

Não fumava nem bebia, mas passava as madrugadas procurando pela dor, nos velórios, porta de hospitais ou na boemia, onde houvesse uma tragédia, um acidente. Qualquer dor.

Gostava de olhar o sofrimento, era viciado em ver as pessoas padecendo, chorando, acompanhava atentamente cada lágrima e a fisionomia.

Seu semblante nestas horas se iluminava, ficava tempo esperando o desenrolar de qualquer infortúnio para depois perambular pelas ruas, incorporando o que assistira na aridez da sua vida.

Para ele, era o único jeito de ser feliz.

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MQ

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