quarta-feira, 12 de agosto de 2009

ANA TERRA

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... Eu não passo de uma dona de casa e avó de sete netos, artista burguesa a escrever versos de música, mas que se permite alguns momentos de maior liberdade: no ato da criação. Este é um momento absoluto. Ao escrever com lápis e papel ou computador, uma letra de música, um poema, uma peça teatral, um roteiro de filme, um romance ou um artigo, utilizo códigos e instrumentos da civilização, mas não é só isso. Não é só a função pensamento e o elemento ar que estão sendo acionados. A intuição (fogo), a sensação (terra) e o sentimento (água) precisam fluir livremente na minha mandala interior para que a obra ganhe vida e me alimente, me devolva a energia que gastei para criá-la. Anulando a dualidade, criador e criatura são uma mesma e única natureza. Não é só produzindo arte que se alcança esta inteireza. Cozinhando, estudando ou cuidando de alguém, podemos reencontrar a poesia em nós e nas coisas que nos rodeiam.

Da mesma forma que o encontro amoroso, quando realiza a alquimia perfeita é muito mais que o ato sexual em si: é uma obra de arte. Essa sensação de pertencer ao cosmos também pode ser alcançada no transe místico ou quimicamente. Mas a maioria das pessoas não pode viver em permanente estado alterado de consciência sem se consumir até a morte final. Então qual é a saída?

Acredito que ela precisa ser construída por cada um de nós em forma de pontes, dentro da paisagem do conhecimento, formando elos entre diversos saberes, mas tendo como fios condutores a arte e a filosofia, tecendo uma generosa rede de compreensão porque, nela, tudo cabe e nada do que é humano lhe é estranho.


Ana Terra - http://www.viapolitica.com.br/entreato_view.php?id_entreato=170

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