.
Elegia
Enfrentar tuas roupas
teus espelhos, tua louça,
trocar os colares, o leque
o terço, o lenço bordado
é descer léguas ao fundo
da cisterna do quintal
é voar meio a crepúsculos
sulfurinos violáceos
rodeando os pequizeiros
vizinhos do natal.
O tempo em grão
debulhado na palma
da mão, com sal.
Seguir sem teus passos
ecoando no final
da tarde de janeiro
o carnaval
sem teu sorriso
vermelho derradeiro
e a quarta de cinzas
sem sinos ecoando
em nossa caminhada
de mãos dadas,
entre malacachetas e estrelas
da manhã fevereira.
Esmiuçar tuas coisas
à luz perolada
do quarto acortinado
é restar muito só,
sob luas e sóis e céus
à luz urbana pontilhada
no silêncio
da estrada
de chegada
é transportar a geografia
acinzentada na memória
do retrato, vazio
ao antúrio
enterrado
em tua cova.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário